terça-feira, 21 de abril de 2015

Nuremberg brasileiro

Daniel Strutenskey Macedo

Quando li Nietzsche logo percebi que o anticristo era o cristo humanizado. O cristo católico tornara-se um príncipe egoísta, intolerante, fanático, pequeno, delator. Nietzsche precisava do oposto, de uma figura que antagonizasse o deus católico. A palavra anti é isto, apenas isto, a oposição, a rejeição à louca fantasia católica, mas não é que tentaram a todo custo torná-lo um filósofo do nazismo? 

Insanidade dos intelectuais de plantão da época? Não! Trabalho bem urdido e planejado de desconstrução da imagem pública do pensador que ousou reconstruir a fantasia original do Cristo Primeiro, um justo, um autêntico revolucionário.

Quando li Euclides da Cunha e sua denúncia, a matança cruel do povo aflito que seguiu Antonio Conselheiro, e os principais jornais brasileiros, o Estadão incluso, se insurgindo contra o povo pobre em luta e conclamando, com mentiras absurdas, as forças armadas para exterminá-los, duvidei da sanidade mental humana.


Quando vi as patroas católicas das altas classes guarnecendo os golpistas da Marcha da Família pela “Liberdade” e atraindo filhas de Maria e marianos para uma causa imprópria, percebi que a fé católica alimentada pelo povo é inocente, cega, estúpida em inconsequente.


Quando, seis anos atrás, me dei conta das articulações dos grandes veículos da mídia para desconstruir a democracia conquistada, imaginei que logo estaríamos cobertos por noticiários inescrupulosos. Não imaginei, contudo, que a parcela melhor aquinhoada da sociedade paulista seria a veiculadora do golpe. Todavia, vejo-a eufórica na avenida Paulista. Situação que me leva a um episódio antigo, contado por meu pai e vivido por ele. Contou que na data de 9 de Julho de 1932 a nova Carta Constitucional já tinha sido assinada pelo Getúlio. Não havia mais, portanto, os motivos alegados. Entretanto, um motivo apareceu e foi provocado por manifestantes que invadiram a sede do partido que apoiava Getúlio e que resultou num tiroteio onde quatro jovens manifestantes foram assassinados. As forças armadas da época entraram em cena e milhares de brasileiros perderam a vida. Meu pai se enganou. Havia, sim, motivos, mas eram os promovidos por grupos elitistas que queriam, a qualquer preço, reconquistar o poder perdido. O povo foi enganado? Será que o povo se engana? Acho que não. O povo não pensa, não reflete causas e consequências, não é organizado. Apenas reflete emocionalmente aquilo que lhes é transmitido.


Se voltarmos a viver episódios semelhantes aos de Canudos, 9 de julho e o de 31 de março de 1964, os atores da nova desgraça (jornalistas e políticos frustrados), desta vez, merecem purgar pelos seus desatinos, precisaremos de um Nuremberg brasileiro. 

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