quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Chuvas de verão

Fernando Penteado Cardoso *
Toda a água que escoa pelas bacias do Rio Amazonas, Rio Tocantins, Rio São Francisco e Rio da Prata se origina do deslocamento de massas incomensuráveis de vapor d'água formadas sobre o oceano Atlântico Equatorial aquecido pelo sol.
A rotação da terra de oeste para leste, que origina os ventos alísios soprando do leste, coloca a extensa planície amazônica debaixo dessa imensa calota úmida.
Ao encontrarem o obstáculo da cordilheira dos Andes e as áreas de alta pressão atmosférica sobre o oceano Pacífico, bem como por efeito da rotação, essa volumosa corrente gasosa sofre uma deflexão à esquerda e prossegue até alcançar o sul do país.

Ao longo desse percurso, prosseguindo para o sul como ventos noroeste, rumo esse bem conhecido como “chovedor”, muita água se precipita como chuva, parte formando rios, parte tornando a se evaporar em um processo natural de reciclagem.
 
Ao se encontrarem com as frentes frias procedentes do sudoeste, formam-se as “zonas de convergência” nas quais chove pela condensação da água atmosférica vaporizada, toda provinda do mar e a ele retornando como rios caudalosos. Não existe produção de água no território continental, seja ou não florestado.

Tanta água das chuvas pode ser avaliada pela vasão dos rios que a devolvem ao mar. O volume conjunto dos quatro rios mencionados soma a 7,61 quatrilhões de metros cúbicos por ano, suficiente para formar um lençol d´água de 90 cm se o Brasil fosse plano e murado. A comparação das vazões mostra a imensidão do Rio Amazonas com 209.000 metros cúbicos por segundo - m3/s, Rio Tocantins - 11.000 m3/s, Rio São Francisco - 1.500 m3/s; Rio da Prata - 20.000 m3/s.

Navegadores em nosso litoral relatam que a temperatura da superfície do mar (TSM), ao longo da costa dos estados do RJ e SP, está acima da normal o que provocou a proliferação de algas coloridas tornando rosadas grandes extensões marítimas. Afirmam ainda que estão pouco ativas as correntes marítimas frias, que surgem das profundezas, aflorando em Cabo Frio e a leste da Ilha Bela.
Haveria correlação entre esses fatos e a “bolha” de alta pressão atmosférica que vem dificultando a entrada das correntes úmidas mencionadas, ditos “rios que voam”, fazendo que despejem sua água no meio do caminho, provocando inundações regionais e a atual falta de chuvas no sudeste do país?

Estamos enfrentando uma situação inédita, com precipitação de 723 mm nos 12 meses findos em Outubro pp, a menor dos últimos 123 anos, 48% inferior à média de 1.395 mm (Campinas/SP).

* Eng. Agr. sênior, USP-ESALQ, 1936.
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