sábado, 30 de abril de 2011

Definição de "politicamente correto"

Fernando Penteado Cardoso
Politicamente correto
There is an annual contest at Duke University for the most appropriate definition of a contemporary term.
This year's term was: "Political Correctness."
The winner wrote:


"Political correctness is a doctrine, fostered by a delusional, illogical minority, and rapidly promoted by an unscrupulous mainstream media, which holds forth the proposition that it is entirely possible to pick up a piece of shit by the clean end". 
H.Silveira, 27.04.11
Tradução FC
“Politicamente correto é uma doutrina, aceita por uma minoria iludida e ilógica, e rapidamente promovida por uma inescrupulosa e avassaladora mídia, a qual defende a proposição de que é inteiramente possível pegar um punhado de merda pela porção final limpa”.
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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cristóvão Colombo era solteiro!

Richard Jakubaszko
Tudo nos leva a crer que estejam certas "recentes pesquisas científicas".
Está claro que Cristóvão Colombo não seria diferente dos demais homens, tanto do seu tempo como dos atuais. Neste aspecto o mundo não evoluiu nadica.

Recentes pesquisas científicas comprovam que Colombo só descobriu a América porque era solteiro. Se ele fosse casado seria obrigado a ouvir os seguintes comentários (e teria desistido da viagem):

- E por que é que você tem que ir? Por que não mandam outro?

- Não creio que você conseguirá sobreviver sem mim. Sozinho você é um incapaz.

- Você não conhece nem a minha família e quer ir descobrir outro mundo?

- E só vai homem nessa viagem? Acha que sou idiota?

- E por que eu não posso ir, se você é o chefe?

- Desgraçado, não sabe mais o que inventar pra sair de casa?

- Se cruzar esta porta, eu vou embora para a casa da minha mãe!

- Quem é Pinta? E quem é essa tal de Nina? E essa Maria, filha da p., que ainda se diz Santa?

- Tinha tudo planejado, né?

- Já me disseram que você vai mesmo é se encontrar com umas índias! Pensa que me engana?

- A rainha Isabel vai vender suas jóias para você viajar? Acha que sou idiota ou o quê? O que é que você tem com essa piranha velha?

- Pode tirar seu cavalinho da chuva. Você não vai a lugar nenhum!

- Você vai é cair num barranco, porque o mundo é achatado, sua besta!!!

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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Uma das melhores fotos de todos os tempos

Richard Jakubaszko
A foto abaixo foi clicada num deserto, provavelmente no Saara, exatamente de cima, mas ao por do sol. Foi considerada uma das melhores fotos de 2005. Olhe com cuidado, os camelos são as pequenas linhas claras, esbranquiçadas. O que vemos em preto são as suas sombras.
Os créditos da foto estão na parte inferior da mesma.














 


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segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Ipê amarelo

Richard Jakubaszko  
Palavras são supérfluas diante do que é belo.
Imagem enviada pelo amigo e zootecnista Renato Vilella. 
Clique na foto para ampliar.


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sábado, 23 de abril de 2011

O Brasil, como é visto pelos americanos.

Richard Jakubaszko
Assista o vídeo abaixo, produzido no final de 2010, e veiculado no programa "60  minutes", da poderosa rede americana CBS, para saber como o Brasil é visto hoje pelos norte-americanos. Com certeza explica porque Barack Obama fez uma visitinha rápida por aqui e também dá para entender as mudanças de tratamento da mídia americana em relação ao Brasil. Só não explica a eterna síndrome do complexo de vira-latas que a grande mídia brasileira continua a aplicar ao Brasil e aos brasileiros.



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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Inesquecíveis canções VI - Caruso

Richard Jakubaszko
Obra prima de Lucio Dalla, a canção homenagem a Caruso, o maior tenor italiano de todos os tempos, teve inúmeras gravações, das quais destaco neste post o próprio Dalla, e depois Luciano Pavarotti e Andrea Bocelli, os três geniais italianos.
É possível comparar genialidades e talentos?

Lucio Dalla

Pavarotti

  
Bocelli
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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sustentabilidade de verdade é isso

Derli Dossa
Agropecuária brasileira: a produção é sustentável
A Tabela abaixo mostra alguns indicadores econômicos e tecnológicos da nossa agricultura nos período 1960 até 2010, permitindo uma comparação em período de 50 anos, durante os quais a agricultura brasileira passou por uma extraordinária mudança em função de seus ganhos de produtividade.

Entre 1960-2010 a população cresceu de 70 para 190 milhões de pessoas. Houve crescimento de área e de produção de grãos (arroz, feijão, milho, soja e trigo) nesse período, de 116% e da produção mais 774%. A área de grãos cresceu de 22 para 47,5 milhões de hectares. A produção de grãos cresceu 774% saindo de 17,2 para 150 milhões de toneladas. A área de pecuária cresceu 122 para 170 milhões de hectres. O rebanho de bovinos e bubalinos cresceu de 58 para 204 milhões de cabeças aumentando 251% enquanto a área cresceu de 39%.

Os padrões tecnológicos mais comuns nos anos 60 mostravam baixíssimos índices de utilização das técnicas modernas e do uso insumos disponíveis: prevalecia uma adubação orgânica de dejetos dos animais, resíduos agrícolas e compostagem; os agrotóxicos eram naturais ou, então, fórmulas fortemente agressívas em termos de toxicidade; as sementes eram crioulas ou grãos de baixa germinação, com defeitos mecânicos ou contaminados, e era normal a mistura de grãos provenientes de diversas origens, com impurezas (ervas daninhas). Conforme a Tabela, a produtividade média alcançada em 1960 foi de 783 kg/ha, ou seja, apenas 247 kg/per capita ano. Em relação aos equipamentos existentes, eram muito rudimentares e o uso do animal de tração uma prática na maioria das propriedades da época. O Censo de 1960 apurou que existiam apenas 56 mil tratores na agricultura brasileira, e todos eles importados, porque não eram ainda produzidos no Brasil, significando, muito provavelmente, que parcela importante poderia estar sem utilização, em face da dificuldade de manutenção e reparos.

Em 2010, a tecnologia dominante na agricultura é aquela adaptada pela pesquisa e o que permite obter, em média, 3.173 kg/ha. Os destaques são para as sementes adaptadas às adversidades climáticas; sementes modificadas que permitem resistir ao uso de herbicidas; utilização de agrotóxicos específiccos para combater pragas e doenças; a adubação ocorre através de sofisticado conhecimento químico que disponibiliza fórmulas adaptadas a diferentes tipos de solos; máquinas e equipamentos ajustados ao plantio diretos em diferentes climas e solos, entre inúmeras outras técnicas e amplo conhecimento científico que está disponível aos produtores. Este novo contexto permite maior eficiência do uso de solo, das máquinas e dos equipamentos, standards de plantas mais uniformes, entre outros diversos aspectos que ampliam a eficiência geral do setor agropecuário.

A pecuária dos anos 1960 apresentava uma produtividade de 0,41 cab/ha; os animais eram produzidos extensivamente; pouco se conhecia sobre a alimentação recomendada; o manejo do rebanho era deficiente; raramente ocorria a vacinação contra febre aftosa, brucelose, e os animais, normalmente, eram abatidos após 36 meses de idade. Com a tecnologia de hoje se consegue animais para abate com 24 meses, uma produtividade por área de 1,20 cab/ha. É muito incomum se perder o cio das fêmeas ou animais serem mortos por doenças.

Na área de produção de grãos, se fosse usada a tecnologia do passado (1960) se necessitaria de uma área agrícola de 192 milhões de hectares para se obter a produção alcançada em 2010. No setor de carnes a área necessária para produzir os 204 milhões de cabeças atuais chegaria, com tecnologia dos anos 60, ao espantoso número de 430 milhões de hectares. Logo, o Brasil, se mantivesse a tecnologia dos anos 1960, para ter a produção de hoje, grãos e carne bovina, precisaria de 612 milhões de hectares em vez dos atuais 217 milhões hectares. Isto mostra que foi evitado o desmatamento de 400 milhões de hectres, ou seja, preservamos 47% do país, graças ao desenvolvimento da pesquisa e as novas técnicas adotadas pelos produtores.

A produção de leite, que em 1960 ordenhava 6,4 milhões de vacas e produzia 3,7 bilhões de litros (578 l/vaca/ano) em 810 mil propriedades, passou a observar quadro completamente distinto em 2010: a ordenha de 13 milhões de vacas, com a rprodução de 30,5 bilhões de litros (2.351 l/vaca.ano). A produção cresceu 727%, agora em 1,4 milhões de propriedades.

O Brasil, que era importador de alimentos em 1960, passou a produzir para o consumo interno de 190 milhões de pessoas, além de exportar para quase 190 países do mundo gerando uma receita de 76 bilhões de dólares (2010).

O modelo atual da agricultura, portanto, é sustentável e um dos mais competitivos do planeta. Além disso, a agricultura vem contribundo crescentemente com tecnologias de Baixa Emissão de Carbono na agricultura, com a implantação do Programa ABC. Estes dados demonstram que a história recente da agricultura se traduz em muitos benefícios para o país: geração de mais empregos, maior contribuição ao desenvolvimento brasileiro, mais riqueza produzida e compromisso com o meio ambiente, servindo como contra-fator das ameaças produzidas pelas mudanças climáticas.

Tabela 1
Área, produção, produtividade da produção de grãos
e pecuária bovina no período 1960-2010

Grãos ( * )
Especificação 
1960
2010
Área  (ha)
22.050.309
47.537.894
Produção ( t )
17.266.964
150.842.182
Produtividade (Kg/ha)
783
3.173
Variação área (%)

116
Variação produção (%)

774
Área com tecnologia de 1960
192.646.465

Área evitada desmate (ha)
145.108.571

População residente
70.000.000
190.000.000
Variação população 2010/1960 - %

        171%
Produção per capita (Kg/ano)
247
794
Disponibilidade diária Kg/hab
0,676
2,175
Variação Disponibilidade (%)



Bovinos

Especificação
1960
2010
Área pastagens (ha)
122.335.386
170.000.000
Efetivos (cabeças )
58.041.307
204.000.000
Produtividade (cabeças/ha)
0,47
1,20
Variação Área Pastagem (%)

        39%
Variação do número cabeças (%)

       251%
Área com tecnologia de 1960
429.976.857

Área evitada desmate (ha)
259.976.857




Área total evitada desmate no Brasil

405.085.428

Leite

Especificação
1960
2010
Estabelecimentos
810.824
1.390.000
Vacas ordenhadas
6.403.791
13.000.000
Leite produzido (1000 litros)
3.698.260
30.567.625
Variação  2010 /1960 (%)

727
Leite produzido/vaca/ano (litros)
578
2.351
Variação da produtividade do rebanho(%)

         307%

sábado, 16 de abril de 2011

Desconfie sempre das ONGs

Richard Jakubaszko 
Em janeiro último publiquei aqui no blog o post "GreenPeace: a desonestidade dessa ONG é flagrante", disponível em http://richardjakubaszko.blogspot.com/2011/01/greenpeace-desonestidade-dessa-ong-e.html
Pois eu já havia, há muito tempo, percebido os desvios de comportamento das ONGs, e agora saiu o livro "As grandes ONGs ambientalistas em questão", organizado por Andréa Rabinovicci, que coloca essas dúvidas em debate. 
Há necessidade urgente de se fiscalizar e colocar em questionamento as ações e interesses dessas ONGs, sob pena de se oficializar um neocolonialismo escravagista, que, aliás, já se verifica.
É imperioso que a imprensa abandone seu papel de avaliadora das ações dessas ONGs, pois legitimam interesses escusos, de natureza comercial, ou política, ou de manipulação institucional do país, como sempre foi no passado.

No momento em que um grupo de ONGs faz lobby diário no Ministério do Meio Ambiente e no Congresso Nacional, vale a transcrição da resenha desse estudo de Andréa Rabinovici em que são questionados os objetivos e a transparência das “BINGOS” (sigla para Big Non-Governamental Organizations, Grandes Organizações Não Governamentais). Elas recebem dinheiro de petroleiras, de madeireiras (no caso da SOS Mata Atlântica), de governos estrangeiros, e de origem desconhecida ou intencionalmente sonegada. 
Então, a pergunta, é: que interesses, exatamente, representam?

SINOPSE
As grandes ONGs ambientalistas em questão
resenha por Andréa Rabinovici, professora da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, Campus Sorocaba, doutoranda NEPAM-UNICAMP, Diretora de Projetos da ONG Physis – Cultura & Ambiente.
Antonio Carlos Diegues, docente da USP e Diretor Científico do Núcleo de Apoio à Pesquisa Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras (NUPAUB), lança o livro A Ecologia Política das Grandes ONGs Transnacionais Conservacionistas, no qual aborda tema mais do que oportuno, num momento em que as Organizações Não Governamentais (ONGs) transnacionais conservacionistas crescem em complexidade, apresentam contradições antes impensáveis, começando a ser questionadas por vários segmentos sociais. O livro contém introdução de Diegues e traduções dele de autores diversos tais como MacChapin, David B. Ottaway, Joe Stephens, Daniel Compagnon, Mariteuw Chimère-Diaw, Mark Dowie, Jim Igoe e Dan Brockington. Os alvos das críticas são as grandes ONGs conservacionistas, especialmente WWF, The Nature Conservancy (TNC) e Conservation Internacional.

As Big International Non Governamental Organizations (BINGOS) conservacionistas vêm instalando-se no Brasil desde 1970, investindo recursos financeiros, humanos e tecnológicos.

As causas às quais se dedicam e o investimento na sua imagem costumam imprimir uma aura de legitimidade, simpatia, respeito e poucas críticas. É raro serem questionadas pelos cidadãos, que, ao contrário, aplaudem suas iniciativas, apóiam-nas e as agradecem por cuidarem da sobrevivência e da segurança de todos os seres vivos.

O livro de Antonio Carlos Diegues vem em ótimo momento, na medida em que apresenta sérias críticas, no intuito de aprofundar o debate, de rever aspectos que precisam ser mais bem desenvolvidos, de modo a recuperar o significado da necessária mobilização para conduzir ações que visam garantir o futuro do planeta. O livro é corajoso, pois ao denunciar as ONGs, simultaneamente, desaponta os simpatizantes. A crítica é dura, e, mais do que avaliar as BINGOS em geral, são feitas críticas às grifes do ambientalismo, acima de qualquer suspeita, aquelas que divulgamos em nossos carros, camisetas, bonés…

As críticas feitas pelos autores destacam que as BINGOS conservacionistas são pouco transparentes, e que existem lacunas no tocante à avaliação e ao controle das suas ações pelos beneficiários e pela sociedade como um todo. Também não estão abertas à participação pró-ativa de seus militantes, muitas vezes distanciando-os das ações. Se não são democráticas internamente ou com o seu público, o que propõem?

Recebem grandes somas de dinheiro que, às vezes, perdem-se na própria estrutura da grande ONG transnacional, chegando em quantidades menores do que as esperadas pelos seus atendidos.

Outro aspecto apresentado pelo livro diz respeito à invenção e à aplicação de uma ciência conservacionista, criada e disseminada pelas BINGOS. Essa “ciência” em muitas situações é contrária ao que dita o conhecimento e as metodologias utilizadas por comunidades atendidas, impondo um conhecimento distinto, distante e que, para ser aplicado, depende da ONG. Assim, uma tutela imposta obriga a continuidade dos trabalhos, que passa a ser exigida pela ONG, pelo seu público alvo e pelos seus patrocinadores. Os autores do livro sustentam que essa “ciência da conservação” é criada por pesquisadores do Norte, cabendo aos do Sul apenas a transferência de informações.

Essa “ciência” trabalha com modelos que são continuamente ajustados em função de injunções e financiamentos que são mais políticos do que científicos ou sociais.  Algumas das questões foram discutidas por Goldman (2001), que acusa BINGOS e especialistas de estudarem a conservação e as possíveis soluções para os problemas socioambientais dentro de uma ótica desenvolvimentista, buscando a reestruturação das capacidades e relações sociais-naturais dos países em desenvolvimento para acomodar a expansão do capital transnacional.

Assim, as BINGOS seriam uma forma de dominação e imperialismo (neocolonialismo ou colonialismo ambiental). Assunto em tela na imprensa brasileira, trazido pelos autores, é a aquisição por algumas BINGOS de porções de florestas ao redor do mundo, com o incentivo às modalidades privadas de proteção da natureza. Isso se vê nos incentivos que governo e ONGs têm dado para a criação e manutenção das Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs). Outras questões levantadas pelos autores individualmente são:
MacChapin, no seu capítulo “Um desafio aos conservacionistas” (bastante polêmico quando publicado na imprensa norte-americana, e que tem algumas respostas a ele registradas no livro), afirma que é comum as grandes ONGs conservacionistas negociarem territórios e biomas a proteger entre elas. Assim também competem entre si, muitas vezes perdendo financiamentos, acarretando novos conflitos nas comunidades nas quais atuam.

O autor também observa o enriquecimento e o crescimento rápido das BINGOS; acusa o desaparecimento gradual das metodologias participativas, com o decorrente enfraquecimento da relação ONG/comunidade. Novos conflitos nas comunidades resultam, portanto, da não consideração das realidades locais, prevalecendo estratégias científicas na determinação da Agenda de trabalho preservacionista, muitas vezes oposta à comunitária.

David B. Ottaway & Joe Stephens, em seu texto “Por dentro da TNC – Nature Conservancy: arrebata milhões. Filantropia faz ativos em parceria com corporações”, falam da dificuldade em se caracterizar as ONGs conservacionistas na medida em que estas têm funcionado como grandes empresas transnacionais.

Daniel Compagnon, em “Administrar democraticamente a biodiversidade graça às ONGs?”, questiona a legitimidade e a representatividade das entidades, na medida em que elas se auto-denominam “guardiãs da natureza”. Líderes, elas se auto-avaliam, dificilmente prestam contas efetivamente, divulgam seus feitos e repassam à mídia.  A imprensa, superficial e ingênua, não tem condições de avaliar criticamente o que publica. Os pesquisadores raramente o fazem, na medida em que é comum terem ligações diversas com as ONGs.  Segundo esse autor, assim como no caso dos pesquisadores, a manutenção do domínio e da influência das grandes ONGs transnacionais passa, muitas vezes, pela cooptação de funcionários públicos e de cientistas.

Com apoio à pesquisa, a seminários e a treinamentos gratuitos a eles, as BINGOS veiculam conceitos e métodos próprios. Na medida em que trabalham junto aos governos e às empresas privadas, a crítica aos mesmos desfaz-se nas parcerias em projetos e programas.

Nesse sentido, a ONG minimiza críticas ao governo, populariza suas ações, dilui responsabilidades e oposições às políticas oficiais.  Algo muito sutil observado por Compagnon é que algumas bandeiras, não diretamente ligadas à criação de Parques, são criadas para obter apoio social a projetos preservacionistas.  Projetos e ações são lançados, desviando os comunitários de seus interesses sociais, transformados em ambientais. Mariteuw Chimère-Diaw, em seu artigo “Escalas nas teorias da conservação: um outro conflito de civilizações?”, faz uma reflexão sobre a necessidade de se reinventar a solidariedade e a governança global.

Recomenda repensar as escalas, a desterritorialização que o trabalho das BINGOS pode acarretar. O autor afirma que, quando é invertida a relação de ação local à global, ocorre o enfraquecimento dos potenciais da atuação comunitária. As BINGOS, muitas vezes, tornam-se porta-vozes dos problemas ambientais e com isso monopolizam a formação da opinião mundial.  Bentes (2005) ressalta que o nível de interferência das grandes ONGs transnacionais, nos pensamentos e processos decisórios, parece natural devido à desigualdade política internacional que lhes confere o poder de influenciar.

Mark Dowie, em seu “Refugiados da Conservação”, trata de milhões de pessoas levadas à marginalidade, às periferias em nome de uma suposta preservação ambiental. Essa, muitas vezes sem eficácia alguma em termos de conservação dos recursos naturais. O autor comprova, ao contrário, que, em muitos casos, populações expulsas de suas moradias, recuperam o ambiente novo, degradado, que pode ficar mais bem conservado do que dentro das Unidades de Conservação.

Essa questão também já tinha sido exposta por Goldman (1998), ao problematizar teorias sobre os processos de gestão da natureza, que excluem as populações da condução dos destinos dos recursos naturais. Diegues (1998) dá exemplos de comunidades que reassumem, com sucesso, o controle dos bens comunitários com a possibilidade de grandes transformações de perspectivas, ideologia e cultura. Jim Igoe e Dan Brockington, em “Expulsão para a conservação da natureza: uma visão global”, também refletem sobre os “expulsos pela conservação”.

Assim como Dowie, alertam para as conseqüências não estudadas da exclusão de moradores de áreas naturais. As políticas que resultam na exclusão são amplamente influenciadas pelas BINGOS, em campanhas indiretas que defendem a natureza em sua integridade.

Obviamente, é difícil distinguir os padrões de influência nesses relacionamentos, as ações são policêntricas, as responsabilidades idem, porém, numa época em que se fala de refugiados ambientais, incluindo agora os refugiados e expulsos da ou pela conservação, há a necessidade urgente de se dar atenção às populações, caso sejam atingidas as metas traçadas para a conservação, pois se corre o risco de haver expulsões em números recordes, com danos ambientais e sociais gravíssimos.

Avolumam-se os problemas, mas não proporcionalmente à prática de se pesquisar os seus impactos, nem no tocante à conservação ambiental nem nos efeitos e riscos sociais. Os autores chamam essa prática da “ecologia da expulsão”, ao mesmo tempo em que observam e questionam o silêncio total de todos sobre essa grave questão.

Ainda que ocorram as expulsões, as áreas protegidas nunca serão suficientes. A estratégia de conservar a despeito das pessoas deve ser repensada. Sem uma ampla discussão social, as ações das ONGs não podem ser classificadas como demandas sociais, nem ambientais.

Todos os autores do livro convidam a uma crítica construtiva das ONGs. A maioria dos artigos já foi publicada internacionalmente e causou impacto, recebeu respostas das BINGOS, talvez as tenha feito repensar práticas e filosofias. Essa é a idéia: provocar.
O tom da provocação, no entanto, é diferente do que se observa recentemente na imprensa, dito por militares, empresários, visando desqualificar o trabalho das ONGs.
As acusações comuns às BINGOS no Brasil referem-se à ameaça à soberania, à sua situação fiscal, ao controle de suas receitas, aos supostos entraves à sua atuação empresarial, ou desenvolvimentista, a uma legislação pouco eficaz. Não chegam nem perto das discussões travadas no livro ora apresentado e por isso a sua leitura é fundamental. Servirá para ampliar e qualificar os debates sobre o tema de forma mais reflexiva, menos ideológica.

O alerta é para não se estereotipar as ONGs, colocando-as em oposição, simplificando temas sociais e políticos complexos, e deslegitimando demandas socioambientais. Caso contrário, o debate sobre direitos será transformado em uma disputa estéril de interesses, dará margem à construção de teorias conspiratórias, que impedem o avanço de consciência, fundamental para que ocorram mudanças.

Diegues recomenda que a questão torne-se objeto de pesquisas sérias, e já existem excelentes contribuições sobre ONGs e movimentos sociais.

O livro é um convite e um estímulo a um debate relevante sobre o papel das ONGs conservacionistas transnacionais, especialmente as que atuam no Brasil, e sobre os seus objetivos e ações, na expectativa de que, com o processo de debate, possa haver uma reconstituição dos atores mobilizados, institucionalizados ou não, em torno da questão ambiental.

Correspondência c/autor: Andréa Rabinovici, email: andrea@ufscar.br
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terça-feira, 12 de abril de 2011

A mídia irresponsável

Richard Jakubaszko 
Até quando a mídia poderá se comportar de forma irresponsável e impunemente? Só na semana passada dois episódios demonstraram de forma clara o sensacionalismo da mídia ao tratar de assuntos de alto interesse público de forma leviana, para gerar audiência.

O brutal assassinato de crianças dentro de uma escola, ato cometido por um brasileiro desequilibrado, de 24 anos, que invadiu na manhã de quinta-feira (7) a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, e atirou nos alunos, foi exemplar. Uma chacina perpetrada por um maníaco, que mostrou uma vez mais que a mídia brasileira não dispõe de jornalistas preparados à altura para noticiar fatos dessa envergadura, menos ainda para explorar outros lados da notícia e do fato em si. É verdade que o ineditismo do episódio dantesco em terras brasileiras espantou a todos, mas já deveríamos ter aprendido com os exemplos dos EUA, onde essa loucura é quase rotina.

A irresponsabilidade da mídia está em apontar a suposta adesão do assassino e suicida à religião muçulmana, considerada como fundamentalista e xiita. De uma mera suposição de um policial numa entrevista tumultuada, houve relatos dos repórteres, em jornais e TVs, lembrando casos de fanatismos religiosos, como o 11 de setembro americano, ou o 11 de março espanhol. No fim de semana outras notícias, de que o assassino seria Testemunha de Jeovah... Pela falta de consistência na suspeita, pela agressiva resposta e protesto de alguns blogs,  e até mesmo pelo vazamento de informações via WikiLeaks, semanas antes, de que o Pentágono desejava desqualificar a religião islâmica, a mídia tupiniquim estancou as análises dessa hipótese e foi em frente, foi testar outras hipóteses, como a versão de bullying apresentada por professores e analisada por um psiquiatra infantil, quando este avaliou que apenas o bullying não seria capaz de explicar ataques brutais como o ocorrido em Realengo.

As entrevistas de praxe com psicólogos de plantão, ou com opiniões do povo, vizinhos, parentes, estudantes, encheram as páginas dos jornais e o noticiário das TVs, numa repetição monocórdia da mediocridade, da evidente falta do que noticiar, da ausência de conteúdo, da inexistência de editores que direcionassem os repórteres a buscar fatos com um mínimo de verossimilhança e importância diante de um fato tão brutal. Já no domingo o que restava de notícia na mídia estava no corpo do assassino, ainda sem reconhecimento oficial no IML, a casa onde morou nos últimos seis meses, que teria sido depredada, e, debates e mais debates abertos com especialistas sobre a necessidade de se desarmar a sociedade, de se estabelecer segurança nas escolas, de se implantar catracas com detetores de metal, ou colocar policiais de plantão, ou ainda câmaras, como se os poderes públicos tivessem recursos para tudo isso, pois mal conseguem manter as escolas.

Nesse caso, mais uma vez, a mídia brigou com a notícia. Menos de uma semana nas manchetes, já na segunda-feira (ontem) o assunto sumiu da mídia e da blogosfera. Só os efeitos colaterais estavam presentes, e a imagem dos muçulmanos cada vez mais negativa no imaginário da população.

A registrar-se a curiosidade de que a grande maioria de casos policiais que acontecem no Rio de Janeiro possui essa característica comum de fatos e versões intermináveis e estapafúrdios.

O outro fato lamentável veio do Mato Grosso

Uma estudante do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva ISC/UFMT, mestranda da Universidade Federal de Mato Grosso, concluiu tese de mestrado. Para a formulação da tese fez pesquisas e levantou dados de contaminação de agrotóxicos em mães que estavam amamentando, na cidade de Lucas do Rio Verde, Norte do Mato Grosso. Coletou leite de 62 nutrizes e alegou que 100% das amostras estavam contaminados com agrotóxicos, com índices acima do tolerável.

Ora, tolerável por quem? Não há no mundo nenhum estudo ou indicador nesse sentido, com análises de resíduos em leite humano. Pois o professor e orientador dela, um toxicologista, não se deu por vencido e comparou o leite humano ao leite de vaca onde existem índices que são acompanhados pelas autoridades de fiscalização, no Brasil e lá fora. Detectaram traços e/ou a presença de diversos agrotóxicos nos resultados dos exames feitos em cromatógrafos e outros equipamentos, provavelmente ultrapassados, citados com pompa e circunstância na tese.

Apareceu nos resultados dos exames do leite de algumas nutrizes até mesmo a presença de Aldrin, um inseticida-formicida clorado que tem fabricação e venda proibida no Brasil desde 1986 (são só 25 anos!). Como as mães moram na “área urbana” em Lucas do Rio Verde, apesar de as informações da sinopse da tese não especificarem se moradoras da periferia, próximas às lavouras de soja, pois o município é um dos maiores produtores de soja do Brasil, ou se as mães são trabalhadoras rurais, lançou-se a suspeita pelas TVs (Bandeirantes e Globo) de que a população estaria contaminada.


O toxicologista, no auxílio da orientanda, antes de a tese ser apresentada à banca, deu conhecimento dos resultados em um simpósio realizado em Belém. E ainda criou indicadores que gente especializada nunca ouviu falar. Ou seja, deitou falação de que a média de litros de agrotóxicos por habitante, em Lucas do Rio Verde, era de 40 litros/habitante, enquanto no Brasil, em média teríamos 1,5 litros/habitante. Como se se pudesse fazer essa média, que parece o samba do professor que ficou doido.
Dividiu o total de kg e litros de agrotóxicos usados pelo total da população de Lucas do Rio Verde, que é pequena. A área imensa de lavouras, dividida por uma população pequena dá um quociente enorme. Se fosse Cuiabá já seria "normal", como se agrotóxicos fossem bebidos pelas pessoas...

Depois, já em Cuiabá, o professor e orientador da tese deu entrevista e tripudiou à vontade contra o uso de agrotóxicos, como já havia feito em ocasiões anteriores, pois é um inimigo declarado do agronegócio. Até aí nada demais, tem muita gente na mídia que adotou o agronegócio como o grande vilão de todas as questões ambientais do pais. A mídia manchetou o assunto, foi parar em matéria do Globo Repórter, deixando a população de Lucas do Rio Verde e de todo o estado de Mato Grosso devidamente alarmada, com pânicos visíveis, em diferentes níveis, é claro. A mídia esqueceu-se dos falsos alarmes provocados pela febre amarela em São Paulo, alguns meses atrás, alguém se lembra do pânico? E das mortes provocadas por quem se vacinou sem ter necessidade? Pois o sensacionalismo midiático gera pânico e os alarmismos provocam isso.


Quando a indústria de agrotóxicos pediu esclarecimentos, através de sua associação, e solicitou a leitura da tese completa, esta foi negada. Alegou-se falta de revisão final do texto e de alterações na bibliografia, conforme sugerido pela banca. E não explicaram, nem aluna, e nem professor, a metodologia aplicada nos testes, os equipamentos usados, apenas uma sinopse de duas páginas, de um trabalho com mais de 100 páginas.

Tive conversas com um amigo, médico-toxicologista já aposentado, e o coloquei a par da notícia. Ele é contra os agrotóxicos, consome orgânicos, quando possível, mas foi enfático: como inseticida do grupo organoclorado o Aldrin nunca apareceria no leite materno, pois se concentra nas gorduras do corpo, e por lá fica inerte. Passaria a ser perigoso se o portador, digamos com 150 kg, fizesse um regime de emagrecer muito rígido, com redução de peso para 80 ou 90 kg, pois poderia morrer envenenado pela absorção rápida do organoclorado estacionado na sua adiposidade.


Disse mais o meu amigo toxicologista: para aparecer no leite examinado, as mães deveriam ter tomado pelo menos um copo de Aldrin puro algumas horas antes. De uma mãe se poderia suspeitar, seria caso de suicídio, mas de uma dúzia de mães, fora de cogitação. Isto leva à suspeição de exames mal conduzidos em equipamentos antiquados, com uma leitura forçada, digamos assim, no mínimo. A alternativa seria de uma análise com má fé, mas em se tratando de um professor de universidade federal, prefiro acreditar apenas no equipamento ultrapassado e numa análise “não amigável”, já que o professor é, declaradamente, inimigo dos agrotóxicos. Como diz o ex-ministro Delfim Neto, as estatísticas, quando torturadas adequadamente, confessam qualquer coisa.


Faz mais de 15 dias que o assunto é abordado pela mídia no Estado, teve notícia breve na Folha de SP, e somente na FSP com direito de resposta dos fabricantes, mas as TVs seguem seu curso, o estrago está feito, os produtores rurais mais uma vez pagam o pato, são chamados de "criminosos ambientais", acusados de usar agrotóxicos de forma irresponsável conforme o professor, que enfatiza: "são fabricados por multinacionais que só visam lucros, são também autênticas criminosas ambientais, inclusive porque produzem soja transgênica".


Alarmar a população com notícias baseadas em “fatos científicos”, não importa em que profundidade, é fato corriqueiro nos tempos contemporâneos, a mídia gosta, e dá o devido destaque, porque está impune.


Por isso, acredito que deveríamos debater uma “Lei de Médios” neste país, estabelecendo responsabilidades, onde profissionais e empresas teriam de responder com indenizações ou multas, e, principalmente, com a crítica pública, como ocorre com médicos, por exemplo, ou a expulsão, ou cassação de diplomas (que não valem mais nada), de profissionais que se comprovem antiéticos, e até mesmo a prisão quando se provar a má fé. Acredito que seria um excepcional momento de a própria mídia criar uma auto-regulamentação, como já fizeram outras profissões, os publicitários especialmente. No mínimo, tem de haver o direito de resposta, é legítimo qualquer cidadão exigir isso.


O que não é possível é compactuar com a leviandade e a inconsequência, com a irresponsabilidade de “acusar, julgar e condenar”, como faz a mídia, mesmo quando não tem provas concretas, ou, no mínimo, evidências científicas avaliadas por cientistas sérios e respeitados. Preferencialmente de cientistas sem apetite midiático, é claro.

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