quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ambientalistas de ocasião

Richard Jakubaszko 
Baixarias políticas nesta eleição houve muitas, na TV e fora dela. Desnecessário repetir as acusações, de parte a parte, praticamente de todos os partidos políticos. Uma, em especial, me deixou irritado e horrorizado pela leviandade e inconsequência: foi a mentira do candidato a governador do Estado de São Paulo Paulo Bufalo, do PSOL, um ambientalista de ocasião. Atacou de forma gratuita os agricultores e a agricultura, mostrando total desconhecimento do que é a agricultura. A campanha dele não decolou, e nem poderia, tamanha a falta de conteúdo verossímil, mas deixa entre os ambientalistas fanáticos e entre pessoas mal informadas, especialmente os urbanos, uma suspeita no ar: a de que os agricultores são destruidores do meio ambiente. Como tenho repetido inúmeras vezes, o candidato em causa cospe no prato em que come. E pior, acha que está fazendo bonito e prestando um serviço à população.

O que a sociedade deveria saber e entender, e também o ex-candidato, é que os agroquímicos, assim como remédios, são caríssimos, e que ninguém gosta de jogar dinheiro fora. Ninguém toma remédio em quantidades maiores, porque é desperdício, assim como desconheço produtores rurais que usem doses dobradas. Existem os hipocondríacos, é óbvio, que tomam remédios além do necessário, assim como existem agricultores que usam muitos venenos, acima do necessário, mas é uma minoria insignificante, estatisticamente desprezível, não é a regra geral como afirma a propaganda enganosa do PSOL. Por ilação isto me leva a desacreditar de tudo o que venha dos candidatos desse partido, inclusive de seu octogenário candidato a presidente, Plínio de Arruda Sampaio, a quem considero um cidadão digno, pelo menos até o momento.

Adicionalmente, registro aqui que o segmento de agroquímicos, ou defensivos agrícolas, possui no Brasil um altíssimo grau de regulamentação e fiscalização, um dos mais elevados do mundo. Acompanho profissionalmente o setor de agroquímicos há mais de 40 anos, como jornalista, e posso garantir que o assunto é levado a sério, tanto pelo governo como pelas indústrias.

No Brasil, antes de serem registrados e de serem produzidos, esses produtos passam por rigorosa avaliação agronômica, toxicológica e ambiental de pelo menos três órgãos do governo federal: Ministério da Agricultura; Ministério da Saúde, via Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa; e ainda do Ministério do Meio Ambiente, através do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama. Depois, são intensamente fiscalizados a venda e o uso desses produtos, sendo o Receituário Agronômico um notável instrumento de moralização, controlado também pelo CREA, além dos órgãos acima citados.

De outro lado, especialistas afirmam que não há nenhuma evidência científica de que, quando usados adequadamente, esses agroquímicos causem efeitos colaterais ou prejudiciais à saúde dos consumidores. Não há com o que se preocupar porque a quantidade usada é muito pequena para causar danos à saúde humana. As doses letais para matar insetos são para matar insetos, e não os seres humanos. As doses são medidas e calculadas em PPM, ou seja, Partes Por Milhão. Essa dosagem não seria capaz de causar nenhum problema de saúde pública. Nem mesmo às pessoas altamente alérgicas que, como sou um desses, posso informar, não há prejuízos à saúde. Haveria necessidade de se consumir algumas toneladas de pimentão, por exemplo, sem nenhuma higienização, para haver prejuízos à saúde humana.

O assunto deriva, me parece, de um lado, de uma concorrência desleal feita no marketing dos produtos orgânicos para poder cobrar mais caro pelo que vendem, e ainda para compensar prejuízos e perdas pelas baixas produtividades obtidas sem o uso dos agroquímicos. De outro lado, há um modismo em segmentos da população, particularmente no que se convencionou chamar de "mauricinhos e patricinhas", que podem pagar a mais por produtos "diferenciados", como os orgânicos, mas a população se sente "desprotegida", e a imprensa, sempre "bem intencionada", sempre na expectativa de um escândalo para gerar mais audiência, compra essa ideia vendida pela publicidade distorcida dos orgânicos.

É oportuno registrar que produtos orgânicos podem causar problemas coletivos muito maiores numa população se foram adubados além do necessário com adubos orgânicos, invariavelmente feitos com a compostagem de fezes de animais da fazenda e ainda detritos orgânicos, basta que se faça uma compostagem incorreta. Nos EUA, ano passado, houve internação em massa de dezenas de pessoas numa pequena cidade, somente noticiada pela imprensa em notinhas de rodapé de página, por causa de uma infecção provocada por Ischerichia Coli, bactéria de alta resistência a antibióticos, que estava presente em "espinafre orgânico" consumido pela população. Portanto, de parte a parte, alimentos convencionais ou orgânicos têm os seus perigos, e precisam ser devidamente higienizados para o consumo. Insanidade de alto perigo é comprar produtos já higienizados em supermercados, pagar a mais por isso, confiar e consumir sem lavar.

Há que se tomar cuidado com informações desse tipo, como as divulgadas na campanha do PSOL em São Paulo, porque geram pânico na população, e os agricultores começam a não vender mais os alimentos que produzem. Em alguns casos, dependendo do tamanho do escândalo que a mídia faça, alguns produtos chegam a perder mais de 80% de vendas por muitas semanas. Assim, agricultores quebram por conta dessas informações falsas. Acabam inchando as favelas das grandes e médias cidades, pois não são trabalhadores que tenham especialidades nos trabalhos urbanos. Há que se ter responsabilidade para com os nossos concidadãos, que são os agricultores.

É democrático e urgente informar que as eleições incentivam debates de ideias, mas não se pode transgredir as leis. O horário eleitoral gratuito nas TVs, que são concessões públicas, proíbe explicita e justamente o que fez o candidato: "...Não devendo empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais".

Seria interessante, antes de muita conversa, que o leitor destas "mal traçadas" lesse um artigo meu, o "Agricultura é poluição", que é de 2007, onde registro opiniões sobre exatamente o que o título informa. O texto está no blog: http://richardjakubaszko.blogspot.com/2007/12/agricultura-poluio.html

O mentiroso vídeo que assisti tem a seguinte locução:
"No início, foi a cana. Depois, veio o café.
E hoje a cana está de volta, e com ela, a soja.
O agronegócio faz com o meio ambiente o mesmo que o agrotóxico faz com você.
Não se deixe seduzir:
Agrotóxico mata!"

Vejam o vídeo:

5 comentários:

  1. Excelente texto!
    Ainda bem que o candidato não foi eleito!
    Abs
    Alda Lerayer

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  2. Prezado amigo,
    Parabéns pelo artigo. Este vídeo do candidato parece os vídeos do MP do Pará sobre a carne bovina, são de causar indignação e, no mínimo, um desserviço à sociedade.
    Abraços,
    Ronaldo Trecenti
    Engº Agrº M.Sc. Especialista em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e Sistema Plantio Direto
    Campo Consultoria e Agronegócios
    Brasília

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  3. periodista Zacarías Ramírez, México6 de outubro de 2010 às 17:39

    Hola Richard, cómo estás.
    Yo estoy un poco sorprendido con los resultados electorales de la primera vuelta de Brasil -yo pensé que la candidata que apoya Lula ganaría fácilmente. ¿Tienes una opinión sobre eso?
    Saludos,
    Zacarías Ramírez
    México

    RESPOSTA DO BLOGUEIRO:
    Há uma polêmica enorme no país, a oposição de Dilma acusou-a de ser a favor de aborto, o que é mentira, e a grande mídia, que é oposicionista, repercutiu e também acusou de forma moralística, e católicos (poucos) e parte dos envangélicos (protestantes evangelistas, fanáticos religiosos) mudaram o voto na última hora para a ambientalista Marina. Teremos agora o 2º turno, entre Dilma e Serra, e Dilma deve confirmar e ser eleita.
    abs
    Richard Jakubaszko

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  4. Luiz Fernando Siqueira, Dourados6 de outubro de 2010 às 18:58

    Este é o tratamento que os produtores rurais estão tendo do Brasil.
    Luiz Fernando Siqueira
    Diretor Agrícola
    Usina São Fernado Açúcar e Álcool LTDA.
    Dourados, MS.

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  5. Grande Richard, parabéns pelo artigo muito bem articulado. Sobre o comercial ele também é muito bem feito tecnicamente apesar de se apoiar em falácias. De todo modo a questão da suposta monocultura canavieira deve ser analisada mais profundamente, pois a área plantada de cana tem se expandido acentuadamente em São Paulo, e isso aparentemente gera um certo risco ambiental, social e econômico que precisa ser avaliado sempre. Um grande abraço. Paulo Pires Jornalista,Publicitário e Professor

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