sábado, 31 de julho de 2010

Ai Jesus, agora só em 2014...

Richard Jakubaszko
Circula afoita pela internet a charge abaixo, que comunica por si só. Não está assinada, e por isso não dou o devido crédito de autoria, mas parabéns ao autor, é muito criativa. Tudo isso pelos números mostrados ontem (30 de julho) na nova pesquisa IBOPE, em que Dilma Rousseff aparece pela primeira vez, nas pesquisas desse instituto, à frente de Serra, num 39% a 34% para as eleições do primeiro turno, com garantia de vitória no segundo. Antevejo vitória já no primeiro turno pelo ritmo das curvas de crescimento de Dilma e da queda de Serra. Conforme já comentei aqui no blog, é ruim para a nossa jovem e frágil democracia. Mas que a charge é engraçada, não se tenha dúvida, "Ai Jesus, agora só em 2014!":
(Se houver dificuldades de leitura clique na imagem para ampliar)






Outra charge (esta de Amarildo) muito engraçada é a do polvo Paul, que intrigou o planeta durante a Copa do Mundo com suas previsões (antecipadas e acertadas...) de resultados futebolísticos, e que também "arriscou" pitacos nas eleições brasileiras. Aqui a criatividade brasileira foi fundamental:

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O princípio da história única

Richard Jakubaszko
O princípio da história única mostra a importância da democracia, da imprensa livre e da diversidade da opiniões, frutos da liberdade de expressão. 
Quem nos mostra isso de maneira evidente, num depoimento inteligente, humano e quase poético - veja o vídeo abaixo - é Chimamanda Adichie, uma jovem e linda mulher nigeriana que leu livros americanos e ingleses na infância, cheios de personagens brancos de olhos azuis. Dentro desse mundo formou imagens distorcidas da realidade, as quais ela relata com excepcional humor. Quando jovem estudou nos EUA, depois tornou-se escritora, e agora nos relata como é perverso o lado único de uma história, especialmente para crianças e jovens. Corrobora o aforismo de Joseph Goebells de que "não importa o fato, importa a versão do fato", que é complementada por outro dito do mesmo comunicador nazista, o de que "uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade".
O princípio da história única é um figurino que não cabe a ninguém, nem aos povos, nem aos indivíduos, seja nas ciências, nas religiões, na política ou na imprensa. É um parâmetro apenas das ditaduras e dos poderosos, ou de quem desejaria praticar isso.
(Se desejar legendas em português, clique em view subtitles - texto em vermelho, na moldura do vídeo e escolha "português, Brasil").
Meus agradecimentos ao amigo Odo Primavesi pela dica deste vídeo.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sou agricultor e alimento as pessoas.

Mairson Santana *
Vivo da agricultura e nela meu pai e meu avô se criaram. Todas as gerações de nossa família vivem no campo ou do campo. Minha alegria está em cultivar a terra e fazer a alquimia acontecer: da semente que eu planto, do meu cuidado em proteger a planta das doenças, dos insetos, as vezes da falta de chuva, as vezes do excesso de chuva, vejo nascer o  pão nosso de cada dia! O alimento da minha família e de muitas famílias que vivem graças ao meu trabalho e de outros agricultores.

Fico feliz que o alimento, o algodão da sua roupa quentinha que estou produzindo, te deixe tão contente e que você nem pense mais no assunto no seu dia a dia. Isso que dizer que estou fazendo meu trabalho tão bem que não lhe dou mais preocupações. Lembra daquele almoço de domingo com a família, todo mundo feliz com arroz, feijão, salada, batata, carne, ovos, leite e frutas? Pois é, estou lá. Pense no seu prato favorito, do que você mais gostaria de comer hoje, amanhã, daqui um ano, dez, cinquenta... eu estarei lá! 

Como o ar que você respira, a água que você bebe, a beleza que você vê no dia a dia, naquele aroma que te faz lembrar o melhor de sua infância, eu, agricultor, honrado e lutador, estarei lá! Você não precisa ter consciência disso, mas sua vida, suas alegrias, suas tristezas, sua glória, nos seus desafios, no seu crescimento, eu sou seu aliado fiel. Vai em frete, tenha sucesso, que a energia de seu corpo, o santuário da tua alma, estará forte e sadia para dar o melhor de você mesmo.

Desde minhas idas ao sítio de meus avós para tomar banho de rio, comer bolo quentinho do forno, tomar suco de laranja e fazer traquinagens, que a minha avó sempre achava graça, até hoje na lida do campo, tenho prazer e sou feliz. Minha vida tem sentido, meus dias são repletos de trabalho e ocupação para o corpo e para a mente. Cuidar das plantas e dos animais dá muito trabalho, mas é uma arte também, saber o que fazer na hora certa para cada uma das frutas, dos vegetais, dos cereais, dos peixes, das vacas, dos porcos, das galinhas, do cheiro verde e das ervas para os chás que minha avó me fazia tomar... essa parte é ruim de lembrar... Erva da santa-luzia com leite, ninguém merece! 

Nós usamos os defensivos para evitar os estragos dos insetos e das doenças de forma correta, pra não gastar muito, respeitando o devido tempo da carência, pois depois vai para a mesa da minha e da sua família, praga é coisa triste moço... e não dá pra matar na unha... se descuidar comem tudo! E aí não sobra nada, nem pra mim e nem prá você!

Meu tempo é do tempo e para o tempo. Tempo de plantar, tempo de colher, de ver frutas selvagens caírem, das revoadas dos pássaros, tempo de recolher lenha para proteger do frio, tempo de correr da chuva, tempo de ver o campo brotar, crescer, florescer e frutificar. Tempo de amar, tempo de sentar na beira do lago e ver o vento fazer a mata dançar e se contorcer no reflexo das águas.

Importante: parece que ser agricultor na Itália tem mais glamour que no Brasil! A gente vê isso na TV todo dia. Por aqui os agricultores são tratados como Jecas e nossa imagem está associada ao desmatamento, a desastre ambiental, a poluição dos rios e outras coisas. Mas isso vai mudar, a gente tem certeza. Nós somos eficientes, geradores de impostos, pilares da economia a séculos (ciclo do pau brasil, cana de açúcar, cacau, café, soja, boi, laranja, algodão, etc.), geramos valor para toda a cadeia do agronegócio e somos os propulsores da pujança vivenciada pelo Brasil nesta última década. 
E continuamos sendo ambientalistas, pois convivemos com a natureza, a gente até já combinou: ela cuida de nós e nós cuidamos dela.

* Engenheiro agrônomo da Agro Norte Pesquisa e Sementes, Sinop - MT, que prestam uma homenagem ao Dia do Agricultor (28 de Julho)!
Colaborou Richard Jakubaszko
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segunda-feira, 26 de julho de 2010

O dinheiro em nossas vidas

Richard Jakubaszko
O vídeo abaixo está dividido em 5 partes de 10 minutos cada uma. Conta de forma muito criativa e simples a história do dinheiro, dos bancos, e de como funciona o sistema monetário internacional atual.
É importante, talvez seja até imprescindível, que as pessoas conheçam como é que funciona isso. Existe até mesmo uma proposta de como regulamentar o sistema financeiro internacionalmente, pois o poder dos bancos é inimaginável, mesmo aos ficcionistas mais criativos.
Abaixo você encontra a versão 1/5, com locução em inglês e legendado. A cada vídeo procure na parte inferior as partes subsequentes, 2/5 e assim por diante.
Boa diversão e bom aprendizado! Acho que dá para garantir que depois desse vídeo você nunca mais será o mesmo.
Vi que este vídeo foi retirado do Youtube, alegando razões de direitos autorais. Então, posto outro link, que me foi enviado por Gerson Machado:





domingo, 25 de julho de 2010

Solidão

Richard Jakubaszko
Quantos poetas já escreveram sobre a solidão, sentimento multifacetado e quase inexplicável, dolorido, temido, mal compreendido? 
Vejam o que diz o mestre Chico Buarque, terá ele razão, ou é um mero jogo de palavras?
(Se ficar difícil de ler clique na imagem)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A gaitinha


Marcella de Castro *
A primeira vez que vi um pen drive, pensei que era uma mini gaita e assoprei...
Meus filhos assistiram à cena, estarrecidos, e até hoje brincam com a história. E isso faz muitos anos.

A confusão se deu porque ainda não se vendia o produto aqui no Brasil, como se vende hoje em qualquer canto, com tamanho e cores mil.

O pen drive que ganhamos – era uso coletivo da família, tamanha a raridade – chegou lá em casa num momento em que eu não estava e foi deixado sobre a mesa para posterior apresentação, presumo.

Era prateado e do tamanho daquelas gaitinhas-chaveiros que me acompanharam na infância fazendo-me sentir bastante feliz musicalmente, embora eu não tocasse nada com nada. Só barulho...

Achava o máximo um instrumento tão pequenininho obedecer ao sopro e a aspiração. Dava para tocar, portanto, mesmo quando o fôlego acabava – era só aspirar pela boca e produzir mais um acorde. Fantástico, sem interrupções.

Pois bem, na época que babei no pen drive os computadores nem tinham a entrada ubs, ou é usb? – sopa de letrinhas infernal – e em casa, só o computador de meu marido, que também havia sido trazido do exterior, comportava o tal acoplamento.

Lembro que fiquei bastante frustrada porque não era uma gaitinha de infância me visitando e porque se podia guardar informações naquele trequinho... Podia-se transportar tudo ali, compactado, mas para onde? Não se encaixava em lugar algum. Não me valia de nada...

Hoje de manhã, meu atual pen drive, azulzinho, pequeninho, tão bonitinho que, com santa paciência, guarda e zela pelos meus textos, desmanchou-se...

Fiquei com uma plaquinha na mão. O invólucro de plástico despedaçou-se e aquelas minúsculas pecinhas que me lembram chicletinhos de antigamente me disseram “Oi” na cara dura...

Primeira reação: pânico! Não ousei mexer no que restou e que ainda estava encaixado no meu notebook.

Saí correndo atrás do meu marido, oriental – pois aqueles olhinhos puxados tinham de valer alguma coisa numa hora dessas: já que não é pasteleiro, nem verdureiro... É engenheiro! Foi a gozação que mais ouvi no tempo da faculdade... Engenheiro eletrônico, elétrico e mais alguma coisa do tipo!

Socorro! Todos meus textos estão aí! Tira pra mim, sem destruir, vai!

Ele examina a pecinha e aperta mais os olhos, o que me preocupa porque já são tão pequenos – começo a achar que dancei na história.

Todas as minhas reflexões, expurgos, pensamentos tresloucados, não importa, estão ali naquele pen drive!!!! Gravadinhos, em letrinhas combinadinhas, em formato binário. Como podem, de uma hora para outra se transformar em silício, plástico e metal, ou sei lá o que, sem aviso prévio?

Levei uma dura do filho, porque nunca faço back up. Cruzes!! Ensinei esse cara a falar, mas não me lembro de ter ensinado “back up”!!!

Levei outra dura do marido pelo mesmo motivo – e pior, porque ele já me deu mais uma gaitinha, digo, pen drive, que guardei – talvez na esperança de assoprá-la escondidinha, num momento de saudosismo!!

Enfim, aquela partinha tão pequenina que sobrou, ainda funciona e, depois de um remendo que me lembrou um criativo origami cheio de fitas adesivas, num consistente esparadrapo, tenho uma simpática carcaça de pen drive funcionando e me acompanhando novamente!

Aff! Foi só um susto! E vamos ao back up, sem falta!!

* jornalista
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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Justo a mim me coube ser eu!


Richard Jakubaszko
Recebi do amigo e zootecnista Renato Villela o texto abaixo.

Richard, esse texto foi publicado em 2004 no caderno "Folha Equilíbrio". É um texto que eu gosto muito.
Abraço,
Renato Villela


Justo a mim me coube ser eu!
Dulce Critelli *
Toda vez que minha avó paterna me dizia que o molde em que fui feita fora quebrado quando nasci, eu achava que ela estava me elogiando. Acreditava que somente eu era "única" no mundo. Aos poucos, fui percebendo meu engano.
Primeiro, porque, em vez de me tornar diferente, o fato de ser uma criatura única era o que me igualava a todos os seres humanos. Entendi que é parte da nossa condição humana sermos indivíduos exclusivos. Dela ninguém escapa.
Em segundo lugar, porque essa exclusividade - recebida com meu nascimento - não me foi dada assim de mão beijada. Nem veio pronta, nem tinha um manual.

Ela se parece com aquelas massinhas de modelar que, quando a gente ganha, ganha só a massa, não a forma, e o resultado é sempre o fruto de um longo processo de faz e desfaz.
Cedo percebi que jamais teria sossego e que teria muito trabalho. Típico presente de grego, uma armadilha. Encontrei eco para o meu espanto nas palavras de Mafalda, a famosa personagem de Quino, o cartunista argentino, no momento em que ela diz: "Justo a mim me coube ser eu!". Ser quem só a gente mesmo pode ser é quase uma desolação. Quem eu sou e deverei ser? Minha individualidade é um mistério.

Quantas vezes eu não preferi ser outra pessoa! Se não, pelo menos pensei senão seria melhor ter nascido em outra família, em outra época, com outra situação financeira, outra cara, outro corpo, outro temperamento. Ainda mais porque, aparentemente, sempre soube resolver a vida dos outros muito melhor do que a minha própria.

Para ser sincera, quando penso que o meu "eu" está aberto, o que sinto mesmo é um grande alívio. Se eu tivesse nascido pronta, não teria conserto. E se não houvesse remédio para os meus erros e uma chance para os meus fracassos? E se eu não pudesse mudar de ponto de vista, de gosto, de planos, de opinião? E se eu não tivesse escolhas nem alternativas?

Mas também vejo um lado sombrio em ser um projeto aberto: o de nunca ter certeza, sobretudo de antemão, de ter tomado a atitude certa, de ter feito a escolha mais apropriada - aquela em que não me traio.

Quando percebo que um gesto qualquer vai afetar o meu destino, sinto medo, angústia, suo frio, tenho vertigens, adoeço. Aí, a tentação de pegar carona na escolha dos outros ou no estilo de vida deles é grande, mas minha alma grita que não vai dar certo e me lembra que o meu molde foi quebrado, que ele é exclusivo.

Levei muito tempo para entender que minha exclusividade não está simplesmente em mim, na minha cor de olhos ou nos meus talentos mais especiais. Ela está sempre lançada adiante de mim como um desafio, como um destino a que tenho de desafio, como um destino a que tenho de chegar, como uma história que tem de ser vivida.

Minha exclusividade - eu mesma - virá apenas quando eu puder afirmar que a história que vim realizando só eu – e ninguém mais - poderia tê-la vivido.

É a isso que a personagem Amparo, no filme de Almodóvar "Tudo Sobre Minha Mãe", se refere quando afirma que ela é tanto mais autêntica quanto mais perto estiver daquilo que projetou para si mesma. Fala com orgulho e alegria, revelando, assim, que desvendou o mistério que envolve o problema de ser quem somos: autenticar nossa biografia. Avalizá-la.

Onde estou, senão no rastro da história que venho deixando atrás de mim, naquilo que vim fazendo e dizendo? Onde estou, senão nessa biografia que realizo e atualizo a cada instante por meio das minhas decisões e do meu empenho?
Hoje não importa mais se sou diferente dos outros, mas se faço alguma diferença neste mundo.


* DULCRE CRITELLI, professora de filosofia da PUC-SP, é autora dos livros "Educação e Dominação Cultural" e "Analítica de Sentido" e coordenadora do Existentia - Centro de Orientação e Estudo da Condição Humana.
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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Arte, mulheres em pura arte digital.

Richard Jakubaszko

Enviado por Odo Primavesi, o "Women in Art", realizado por Philip Scott Johnson (2007), é um trabalho digital, criativo e impressionante, consagrado à história da arte através da imagem da mulher na arte. A música é da Suíte para Violoncelo n° 1 de Bach. 

Mais detalhes e informações você encontra (em francês) no link:  http://www.artgallery.lu/digitalart/women_in_art.html 
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sábado, 17 de julho de 2010

Sem fronteiras, nem limites.

Richard Jakubaszko
O mundo contemporâneo ainda reserva surpresas incômodas tanto para produtores rurais como para os cidadãos urbanos na questão da posse e uso da terra.
Torna-se exemplar o caso da jornalista Bete Cervi, moradora no município de Santa Rosa do Viterbo, norte do Estado de São Paulo, onde reside em uma casa há mais de 20 anos, construída então na periferia da pequena cidade, de 23 mil habitantes. 
De seu quintal Bete podia vislumbrar as atividades agrícolas da Usina Amália, então pertencente ao Grupo Matarazzo, no plantio e colheita da cana, além de outros produtores de laranja e hortaliças. A vida corria tranquila e sem maiores percalços até a Usina Amália ser arrendada, parte para a Usina da Pedra e parte para a Usina Santa Rita, de Santa Rita do Passa Quatro. 

As usinas chegaram com novas tecnologias e conceitos agronômicos e o canavial cresceu, ficou mais próximo da casa de Bete Cervi. Antes ficava a uns 500 metros de distância, atualmente está a menos de 300 metros. 
Em abril último usaram a aviação agrícola para pulverizar o canavial com um maturador e os problemas começaram, pois houve deriva. As laranjas e pitangas do quintal de Bete Cervi não frutificaram, outras perderam floradas, e também os vizinhos produtores de hortaliças registraram inúmeros prejuízos por causa da deriva das pulverizações aéreas. 

Questionada sobre quem chegara primeiro Bete Cervi foi enfática: “eu cheguei primeiro, o canavial veio bem depois”. Com isso, o que seria um corriqueiro e pequeno problema, e que se repete no Brasil inteiro, em todas as fronteiras agrícolas, torna-se um drama que deve crescer de proporções para os antigos moradores da nova fronteira agrícola de Santa Rosa Viterbo. 

Mas Bete Cervi é apenas um pequeno exemplo. Diariamente os pequenos, mas importantes acidentes ocorrem e delineiam um novo patamar de relacionamento e convivência entre produtores rurais e cidadãos urbanos. A população urbana cresce a olhos vistos, as cidades incham e espalham-se notavelmente com os novos moradores. Estes precisam de alimentos, e agora também de biocombustíveis, aos quais os produtores rurais respondem plantando, não apenas em novas e cada vez mais distantes fronteiras agrícolas, lá onde o dito cujo perdeu as botas e onde não existe infraestrutura de nada. Mas a produção agrícola cresce também em novas áreas, cada vez próxima às urbes, reduzindo a distância entre essas fronteiras. 

Há também a diferença da linguagem e do entendimento, um vizinho fala em hectare, o outro em metro quadrado. O diálogo torna-se difícil em razão dos interesses e necessidades. A questão reside não na ótica de quem chegou primeiro, ou de quem tem mais direitos, mas em como conviver de forma pacífica e harmoniosa nessas novas fronteiras, de parte a parte. 

É previsível que o novo Código Florestal irá limitar o uso de tradicionais áreas de produção agrícola, reduzindo alternativas e encarecendo o valor das terras. 
Os vizinhos fronteiriços terão novos problemas. Um precisa do outro, mas preferem manter-se à distância. A jornalista diz que seu pomar ficou estéril pelo uso de maturador no canavial da usina. 
Cada vez mais as fronteiras das lavouras e das urbes reduzem distâncias. É um drama que deve crescer de proporções para os moradores de fronteiras agrícolas. Não é exagero prever que ambos os lados serão perdedores nessa disputa.
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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Falta emprego ou falta aptidão?


Richard Jakubaszko
Muita gente se queixa de que falta emprego para todos, apesar da queda nos índices de desemprego e do aumento do emprego formal, com carteira assinada. Ao mesmo tempo muitos empresários alegam que possuem vagas, mas que precisam de gente com aptidão, gente treinada, gente com a devida competência para exercer uma série infinita de especializações.

Já escrevi aqui neste blog que o Brasil tem necessidade de formar técnicos e cientistas de uma forma geral, engenheiros, matemáticos, físicos, e não de formar gente apenas nas áreas de marketing, publicidade, jornalismo, informática, moda, turismo, letras, que são as chamadas profissões da moda.

Um exemplo é a altíssima carência de técnicos em Agricultura de Precisão, para trabalhar na agricultura, problema que apontei em matéria de capa na edição nº 1 da revista DBO Agrotecnologia, em março/abril de 2003. Pois só a partir de 2010 é que surgiu o primeiro curso técnico para formar tecnólogos na área, em cursos de 3 anos, iniciativa da Fundação Nishimura, de Pompéia, SP, em parceria com a FATEC – Marília, e apoio da Jacto Máquinas Agrícolas.

Atento como sempre a problemas dessa magnitude o Dr. Fernando Penteado Cardoso, presidente da Agrisus, enviou-me uma notícia proveniente dos EUA, onde eles anunciam a absoluta falta de gente especializada para trabalhar na produção da agricultura. Na sequência, o Dr. Cardoso gentilmente traduziu o texto da notícia, que publico a seguir, como alerta aos líderes de nossas universidades e entidades escolares e aos estudantes em geral, pois o problema não é apenas americano, é nosso, é brasileiro, isto se pretendemos conquistar e consolidar o sonho de sermos um dia o celeiro do planeta.

Devemos ter consciência de que um país como o Brasil, em crescimento econômico com parâmetros chineses, como se prevê para este ano, de cerca de 7%, exige que se tenha investimento em infraestrutura básica, especialmente energia elétrica, estradas e portos, mas também, e principalmente, em infraestrutura humana, ou seja, gente devidamente capacitada, treinada e especializada, com pelo menos uma língua adicional, no mínimo o inglês, para poder aproveitar boas oportunidades de trabalho, muitas vezes não preenchidas porque não há gente que atenda os requisitos básicos.


A batalha para construir uma força de trabalho agrícola sustentável
(Tradução do engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso *)

As inscrições nas universidades americanas para as ciências da produção agrícola declinam apesar da procura crescente por talentos.
Enquanto o mercado de trabalho nos Estados Unidos permanece em marasmo, na esteira de uma das maiores recessões da história, há pelo menos uma profissão contrariando essa tendência. As oportunidades de emprego na área das ciências da produção agrícola estão explodindo.

Um dos fatores: a força de trabalho que está envelhecendo. Muita gente prediz que cerca da metade de todos os cientistas de produção agrícola empregados na indústria e no governo irão se aposentar ao longo da próxima década. Um relatório recente feito pela Universidade de Purdue e pelo Instituto para Alimento e Agricultura do Departamento de Agricultura dos EUA – USDA prevê que mais de 54.000 empregos relacionados à agricultura estarão disponíveis anualmente entre 2010 e 2015.

Apesar da perspectiva de emprego ser tão otimista, existe uma escassez de talentos nas ciências relacionadas à agricultura prática. Dados fornecidos pelas academias nacionais mostram 4.010 bacharelados concedidos em agribusiness e administração rural em 2007, mas somente 177 em produção agrícola. Uma apreciação do USDA em 2008 mostra que os bacharelados concedidos em agronomia e ciências da produção agrícola declinaram cerca de 1/3 entre 1984 e 2003.

“O assunto do desenvolvimento de talentos nas ciências agrícolas é um tópico do maior importância que preocupa os círculos da educação superior, bem como da indústria”. “Existem muitos estudantes interessados na formatura em marketing, vendas e agronegócios, mas o número interessado nas ciências de agricultura prática está declinando continuamente” diz Emílio Oyarzabal gerente do desenvolvimento tecnológico da Monsanto.

Qual seria a solução? Segundo Don Wyse, Ph.D. professor de agronomia da Universidade de Minnesota “o número de estudantes criados em uma fazenda despencaram e nós até agora não pensamos em como despertar o interesse e de como aliciar estudantes das comunidades urbanas”. “O entendimento deles sobre suas vidas e de como seu alimento é produzido, é realmente remoto, na melhor hipótese”.

A Sociedade Americana da Ciência das Invasoras, ao lado de cerca de 30 outras associações científicas, bem como seus parceiros da indústria agrícola, iniciaram a elaboração de ideias para incentivar a formação de uma força de trabalho na agricultura sustentável. Algumas das iniciativas propostas incluem:

• Promover uma consciência das oportunidades de carreira nas ciências da produção agrícola.
• Estabelecer um canal de comunicação com os estudantes do ginásio e do colegial que estejam interessados em ingressar nas ciências da agricultura básica e aplicada.
• Promover a consciência da importância dos ecossistemas agrícolas sustentáveis e do papel crucial das ciências agrícolas para alimentar uma população mundial em expansão.
• Financiar bolsas de estudo para atrair os melhores estudantes para optarem pelas ciências agrícolas e para apoiarem os programas práticos de aprendizado.
• Desenvolver programas inovadores de aliciamento e treinamento que possam atrair estudantes de pós-graduação com potencial de liderança.

“Para alimentar uma população crescente, os especialistas acreditam que necessitaremos produzir mais alimento nos próximos 40 anos do que produzimos nos últimos 10.000 anos somados – e com recursos decrescentes de terra e de água”. “As apostas não podiam ser maiores”, diz Lee Van Wychen, Ph.D. Diretor da política para ciência da Sociedade Americana da Ciência das Invasoras.

* Engenheiro agrônomo (ESALQ, turma de 1936) e presidente da Agrisus - Fundação Agricultura Suntentável.
Fonte: The Weed Science Society of AmericaLawrence, Kansas, EUA – Junho 2010.

ET. O blogueiro recomenda, adicionalmente, a leitura do artigo "Analfabetismo gerencial", publicado aqui no blog, em maio/2008, em que analisa as diferenças entre especialistas e generalistas e as perversas situações do problema, inclusive o desemprego. Leia o artigo em http://richardjakubaszko.blogspot.com/2008/05/analfabetismo-gerencial.html
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terça-feira, 13 de julho de 2010

Somos todos um

Richard Jakubaszko
O vídeo abaixo (We are all one) me foi recomendado assistir pelo amigo e engenheiro agrônomo Odo Pimavesi. 
É uma tijolada, considerando a polêmica questão ambiental que está em debate, apesar de ser um debate de surdos, no Brasil e no planeta afora, seja pelo questionamento se há ou não aquecimento, sejam pelas causas, seja no Código Florestal que está sendo reformulado no Congresso. Seja ainda porque requer mudanças de comportamento, no individual e no coletivo.
O vídeo não coloca em discussão a crítica questão do crescimento populacional humano no planeta, não debate o dogma do "crescei e multiplicai-vos". Mas critica o consumismo desenfreado de todos os recursos naturais e a destruição dos elementos essenciais à vida, como é feito nas comunidade ricas. Apregoa sobre como devemos entender a questão ambiental, e sugere (ou promete, e até mesmo ameaça) que a humanidade tem seus dias contados caso não se entenda e não se respeite a questão ambiental. Na minha opinião é uma visão com alma de escoteiro, portanto, guarda ingenuidade e pureza, e embute um idealismo forte e verdadeiro, apesar de não atacar a causa principal do desequilíbrio. Comprova que a discussão ambiental é emocional, de ambos os lados, cheia de radicalizações.
De forma implícita temos nesse vídeo as contradições da nossa época: o progresso e a violência, e ainda catástrofe e prosperidade (ou é ganância?).
Vale a pena ver, tem poesia de texto, imagem, roteiro e conteúdo, um dos mais belos a que já assisti sobre o tema. Apesar de não ser definitivo. 
Confiram:

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domingo, 11 de julho de 2010

Acabou a Copa dos sem futebol

Richard Jakubaszko
Espanha campeã! Mas nada salvou esta Copa de uma chatice quase total. Um futebol medíocre, quase tanto quanto o da Copa na Itália, em 1990. Foi a Copa dos sem futebol...
Houve mais notícias e trololós extra-futebol do que futebol propriamente dito.
Teve o polvo Paul, que acabou profetizando o campeão. Teve Mick Jagger, o pé frio, teve a Jabulani, a bola louca, temperamental e imprevisível, pipocaram os beijos do Maradona no Messi e a ameaça do Dieguito ficar pelado em frente à Casa Rosada, ainda bem que essa desgraça passou, tivemos as caretas feias do Dunga, a briga com a Globo, a morte da bisneta do Mandela, a gravidez do Cristiano Ronaldo, o charme da namorada do Casillas, teve a Riquelme com seu celular guardado em lugar recôndito, aquela musa paraguaia que nem estava lá na África do Sul, houve a visita da rainha de Espanha ao vestiário, ai, ai, ai se cai aquela toalha…
Não esqueci da vuvuzela, mas já estava torcendo pra acabar essa Copa, afinal, desligaram a vuvuzela, ou ainda estou com efeito residual sonoro nos ouvidos?
Em 2014 vai ser diferente... e um pouco igual, não tenham dúvida.
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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Os gargalos do celeiro do mundo

Richard Jakubaszko

Publicado hoje no site do jornalista Luis Nassif, sex, 09/07/2010 - 14:00
Ao final do artigo este blogueiro comenta algumas questões sobre o tema.

Os gargalos do "celeiro do mundo" no século 21 - Nilder Costa
Segundo o relatório "Perspectivas Agrícolas 2010-2019", emitido em conjunto pela Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os países em desenvolvimento vão ser a grande força do crescimento da produção, do consumo e do comércio agrícola nos próximos dez anos, e o Brasil deve ser uma das estrelas do processo: "É no Brasil que a alta da produção agrícola será, de longe, a mais rápida", diz o documento. [1]

A demanda dos países em desenvolvimento é impulsionada pelo aumento da renda per capita e pela urbanização, reforçada pelo crescimento populacional que é duas vezes maior do que nos países desenvolvidos. A tendência é de um aumento no consumo de produtos como carnes e alimentos processados, o que deve favorecer os produtores de bovinos e frangos. Além disso, com uma classe média em expansão, o consumo de alimentos nos países em desenvolvimento deve depender menos de mudanças no preço e na renda.

Em relação à produção, a FAO e a OCDE estimam que a maior parte da expansão da oferta mundial de oleaginosas, como soja, estará concentrada no Brasil, Estados Unidos e Argentina. Os EUA devem continuar a ser o maior produtor global, mas quase 70% do aumento das exportações virá do Brasil, elevando de 26% para 35% sua fatia no comércio mundial até 2019. Nesse ritmo, o país poderá se tornar o maior exportador mundial de oleaginosas em 2018, superando os EUA.

Outro segmento em que o Brasil pode aumentar sua presença é nas exportações de lácteos, diz o documento. A produção de leite deve crescer 2,3% ao ano, em razão do incremento da produtividade e investimentos.
Por outro lado, o relatório mostra que os países desenvolvidos continuarão a dominar as exportações de trigo (52% do total mundial), grãos forrageiros (59%), carne suína (80%), queijo (63%) e leite em pó (66%).
Um outro aspecto importante abordado pelo relatório são os subsídios agrícolas, cujos níveis nos países emergentes tendem a aumentar, mas continuam muito abaixo das bilionárias subvenções praticadas na maioria dos países ricos. Em 2008, por exemplo, essa "ajuda" vinculada ao tamanho da produção alcançou US$ 250 bilhões nos países ricos, derrubando preços internacionais e gerando concorrência desleal. Os campeões de subsídios são os EUA e a União Europeia, com 30% e 40% do total respectivamente, o que resulta em acúmulo de oferta e derrubada dos preços mundiais. No Japão e na Coreia do Sul, 90% da subvenção são também vinculados à produção. [2]

A constatação do relatório FAO/OCDE sobre a proeminência do Brasil na produção agrícola vindoura vem apenas confirmar o que muitos, a começar pelo Nobel da Paz (e recentemente falecido) Norman Borlaug, já apontavam como o "celeiro do mundo" no século 21. Contudo, além dos conhecidos gargalos que constrangem a produção agrícola brasileira, dentre os quais a clamorosa dependência externa com fertilizantes e a persistente vulnerabilidade logística, há que se considerar a necessidade de o País aumentar, de forma progressiva e planejada, a exportação não apenas de commodities agrícolas, mas de alimentos processados. Porém, para que essa meta seja atingida, há que se remover um outro "gargalo", o excessivo domínio que cartéis mundiais de commodities exercem sobre boa parte da cadeia produtiva de bens agrícolas nacionais. Por aqui, ainda falta uma espécie de "Petrobras" no setor agroindustrial.

Notas:
[1] Brasil terá maior crescimento agrícola do mundo até 2019, BBC, 15/06/2010
[2] Emergentes embalam avanço agrícola, Valor, 14/06/2010


Comentários de Richard Jakubaszko
São obviedades de senso comum as constatações acima sobre o relatório da FAO/OCDE, e não são novas as ações e dificuldades impostas pelos EUA e Europa para frear o desenvolvimento brasileiro na produção de alimentos, onde eles não desejavam perder espaço, mas perderam, e vão perder mais ainda.

Nos anos 1980 e até início dos anos 1990 os países desenvolvidos determinaram normas ao Brasil para que a gente colocasse um fim aos subsídios agrícolas, que existia na forma de crédito mais barato para o custeio do plantio. Eles projetaram nosso crescimento e verificaram que perderiam a liderança ainda no final do século XX, o que os obrigaria a aumentar as bilionárias despesas com os subsídios gigantescos que sempre tiveram. A forma e pressão que usaram, para que cumpríssemos essa determinação, eram as cláusulas dos empréstimos concedidos via FMI, pois vivíamos endividados e com o chapéu na mão. O Brasil acabou com os subsídios agrícolas no início dos anos 1990. Com essa estratégia os países desenvolvidos seguravam o crescimento brasileiro e ainda recebiam os juros.

Já no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, depois de perceberem que continuávamos competitivos, e que ainda crescíamos, apesar da dependência externa dos fertilizantes e de outras tecnologias, apesar da falta de poupança interna, apesar da falta de infraestrutura e de logística, iniciaram o movimento ambientalista, via ONGs e imprensa, para impedir o avanço da produção de alimentos (carnes e grãos), pois o Brasil iria superar , como superou, todos os obstáculos, até mesmo a nossa internacionalmente conhecida incompetência.
Assim, a partir de 2005 o Brasil assumiu a liderança nas exportações de carne bovina, e não deixou mais esse posto. Eles perceberam ainda que, a partir do final dos anos 2010, seremos os líderes das exportações em soja, apesar das novas limitações ambientais impostas para o plantio, seja em áreas de cerrado, seja em áreas que já estavam estabelecidas.
Que não se permita essa nova atrocidade no novo Código Florestal, como querem os ambientalistas e os ruralistas americanos e europeus, e que se poderia chamar de "confisco de terras produtivas", através de APPs e áreas de reserva, evento sem paralelo na história humana, a não ser em termos político-econômico-ideológico na revolução bolchevique, que confiscou as terras não cobertas por gelo na Rússia de 1917.
Tudo isso o setor rural brasileiro já sabia, não há nenhuma novidade, no front, aliás, se há novidade, é que apenas agora os países desenvolvidos, mais a FAO e OCDE, reconhecem publicamente isso.

Ou será que eles ainda acreditam que poderão limitar nosso futuro crescimento via questões e pendengas ambientais, em nome da insuspeita sustentabilidade?



A conferir no futuro breve, pois do FMI somos credores nesses novos tempos, não há mais como usar essa arma contra os brasileiros.
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terça-feira, 6 de julho de 2010

Aprovado o novo Código Florestal na Câmara dos Deputados

Richard Jakubaszko
Comissão aprova texto principal do relatório sobre o Código Florestal.
Por 13 votos a 5, foi aprovado o texto principal do substitutivo do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para o Projeto de Lei 1876/99, que reforma o Código Florestal. 
Os deputados a favor e os produtores rurais se levantaram e gritaram "Brasil, Brasil" em coro, sob vaias dos ambientalistas, que gritavam "retrocesso". 

A comissão especial que analisa a reforma da legislação ambiental começa agora a votar os destaques, mecanismo pelo qual os deputados podem retirar (destacar) parte da proposição a ser votada, ou uma emenda apresentada ao texto, para ir a voto depois da aprovação do texto principal. apresentados ao texto. 
A reunião prossegue no plenário 2. 
Continue acompanhando a cobertura desta reunião. http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/149431-COMISSAO-APROVA-TEXTO-PRINCIPAL-DO-RELATORIO-SOBRE-O-CODIGO-FLORESTAL.html 



Votos favoráveis às reformas:
Anselmo de Jesus (PT-RO)
Homero Pereira (PR-MT)
Luis Carlos Heinze (PP-RS)
Moacir Micheletto (PMDB-PR)
Paulo Piau (PPS-MG)
Valdir Colatto (PMDB-SC)
Hernandes Amorim (PTB-RO)
Marcos Montes (DEM-MG)
Moreira Mendes (PPS-RO)
Duarte Nogueira (PSDB-SP)
Aldo Rebelo (PCdoB-SP)
Reinhold Stephanes (PMDB-PR)
Eduardo Seabra (PTB-AP)

Votos contrários às reformas:
Dr. Rosinha (PT-PR)
Ricardo Tripoli (PSDB-SP)
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF)
Sarney Filho (PV-MA)
Ivan Valente (PSOL-SP)


ET. (21.35 horas) - É importante que fique claro: o que foi votado é o relatório do relator (deputado Aldo Rebelo) na Comissão Especial. Entretanto, por tradição e por normas regimentais da casa, o que é aprovado numa comissão passa na íntegra em plenário, com raríssimas exceções, por acordo das lideranças. Salvo uma hecatombe, o que saiu aprovado dessa comissão é o que será aprovado em plenário. Caso contrário não precisaria da comissão... Depois de aprovado em plenário, irá ao Senado. Até lá haverá muito choro e disputa, de parte a parte, de quem é contra ou a favor. Como o assunto é polêmico por excelência muitas questões poderão ainda ser alteradas.
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Guerra dos sexos


Richard Jakubaszko
Guerra dos sexos é isso aí, prestem a atenção:
Uma mulher é transferida para trabalhar em outra cidade. Depois de alguns dias manda um e-mail ao marido dizendo:
- Por favor, envie-me urgente documentos para o divórcio. Encontrei um companheiro ideal. Possui as mesmas características do novo 407 Sedan da Peugeot.

O marido desesperado corre a uma concessionária e pergunta ao vendedor quais são as características do carro.
O vendedor responde:
- É MAIS POTENTE, MAIS COMPRIDO, MAIS LARGO, MAIS RÁPIDO NA SUBIDA, MAIS BONITO E NÃO BEBE MUITO.

O marido compreende imediatamente o que sua esposa quis dizer. Duas semanas depois, é ela que recebe um e-mail dizendo:
- Mandei os papéis do divórcio, assine rápido! Encontrei uma companheira ideal que reúne todas as qualidades da nova HILUX da Toyota.

Curiosa, a mulher vai a uma concessionária, e pergunta sobre o tal carro e o vendedor responde:
- É MAIS RESISTENTE, SUPORTA MAIS PESO, TEM LUBRIFICAÇÃO AUTOMÁTICA, A CARROCERIA É NOVA E MAIS ARREDONDADA, É MAIS BONITA E CONFORTÁVEL, POSSUI AIR-BAG DUPLO, É MAIS SILENCIOSA, TOPA QUALQUER PARADA, NÃO VAZA ÓLEO E ACEITA ENGATE NA TRASEIRA.
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domingo, 4 de julho de 2010

Sorria

Richard Jakubaszko
Apenas sorria. 
Sorria, na vida, nas alegrias e nos dissabores. Incorpore o espírito dessa alegoria ao assistir e ouvir esta música, quando dois gênios do Século XX se encontram de forma extemporânea, Chaplin e Michael Jackson, na criação e na recriação, na forma e no conteúdo, na interpretação, no refazer a arte e no sorrir de suas próprias amarguras, que todos as têm, até mesmo os deuses e semi-deuses.

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sábado, 3 de julho de 2010

Vote para presidente, aqui no blog.

Richard Jakubaszko
Evidentemente que a enquete deste blog não tem valor de pesquisa, e tampouco para análise estatística, serve apenas para uma diversão e ao mesmo tempo para deixar bem claro o que pensam os visitantes deste blog. Como o sistema do Google é inteligente você conseguirá votar uma única vez, assim como na eleição oficial, e dessa forma as chances de uma fraude são pequenas.
Procure a enquete na aba direita do blog, logo após o quadro dos "seguidores do blog". A enquete acaba no dia da eleição, 3 de outubro próximo.
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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Copa 2010: acabou pra nós, vamos trabalhar?

Richard Jakubaszko
É triste, mas é verdade. O sonho do hexa está adiado para 2014. Fica o consolo de que talvez tenha sido um dos melhores jogos da Copa do Mundo de 2010. Porque jogo de emoções Gana X Uruguai ganhou de todos os outros...
Não há culpados, não nos preocupemos com isso. Colocar a culpa no Felipe Melo, no Kaká ou no Dunga? Não, é pequeno demais. Não, futebol é jogo coletivo. Desestruturou jogar com 10? Com certeza faltou equilíbrio no segundo tempo, mas parece que teve isso de sobra no primeiro tempo, quando ganhávamos e poderíamos ter decidido o jogo. Mas que os holandeses jogaram direitinho, pelo menos no segundo tempo, não tenhamos dúvida.
E agora? 
Bom, agora vamos trabalhar, vamos votar, trabalhar um pouco mais e vamos colocar este país no rumo, de uma vez por todas.
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Se as árvores falassem...

Richard Jakubaszko
Parece a série Diálogos Impossíveis, digamos assim. Ocorre que tenho um vizinho que é absolutamente idiota e chato, mas tenho de reconhecer, um inventor brilhante. Pois não é que o cara inventou um aparelho decodificador, ao qual chama de ”first translator naturébicus", uma geringonça que permite que você converse com objetos inanimados, como árvores, por exemplo. Foi com esse aparelhinho estrambótico debaixo do braço que nos dirigimos para a primeira árvore que encontramos. Era uma imponente e jovem sibipiruna na calçada na nossa rua. Colocamos a geringonça em teste. Instalamos uma cinta ao redor do tronco da árvore, fixada por pequenas tachinhas na casca da mesma. A outra ponta da extremidade dessa cinta estava plugada na USB do notebook, e aí digitamos a primeira pergunta:
 
Pergunta: Como vai, dona árvore? 
Resposta: Estou aqui, impassível, como você pode ver, respondeu a árvore em texto ”digitado” diretamente na tela do notebook. O texto ia aparecendo, rápido.

Foi um choque, nem dava para acreditar que nos comunicávamos com uma árvore.

P. Quer dizer que a senhora pode se comunicar com a gente, com os humanos?

R. Pois acredite nisso, seu vizinho aí é um gênio...

P. Não sei nem o que perguntar para uma árvore, apesar de ser jornalista acostumado a fazer perguntas a torto e direito, mas faço perguntas para pessoas, nunca para árvores. 

R. Pois pergunte se me tratam bem...

P. Então, a senhora é bem tratada?

R. Em primeiro lugar, não sou senhora, sou do gênero neutro, se é que você entende. Em segundo lugar, me tratam muito mal aqui nas cidades, veja o cimento que há em volta do meu tronco, aí na calçada. Tem uns 15 cm de terra entre o cimento e o meu tronco. Isso me impede de absorver a água da chuva, e assim minhas raízes não conseguem se espalhar para os lados, na mesma largura da copa. Isso me tira o equilíbrio. Cada vez que vem uma ventania tenho de me segurar na ponta das minhas raízes mais profundas para sobreviver...

P. Permita-me, árvore, interpretar a sua resposta. Significa que deveria haver uma área maior de terra ao redor de seu tronco, não é?

 R. É claro, pois quando você me olha você vê apenas metade do que sou, em termos de tronco e galhos, mais as folhas, e nunca vê minhas raízes. Pois debaixo da terra existe a minha outra metade, é dessa forma que me manteria firme, não fosse o cimentado e o asfalto que tornam minha vida um suplício.
Não sei a razão, mas antigamente os prefeitos eram mais inteligentes, usavam paralelepípedos, e não asfalto, como hoje em dia. Os paralelepípedos permitem infiltração da água, mas quem tem automóvel parece que não gosta do barulinho que as pedras provocam...

Já meio entusiasmado com as respostas da árvore o agrônomo Antônio Borges, que estava assistindo à entrevista quase coletiva, lascou uma pergunta.

P. E seus pulmões, com esta poluição? Seu agrônomo recomendou alguma lavagem com detergentes para desintoxicar? 

R. Em primeiro lugar, não tenho pulmões, como vocês humanos. Segundo, como já disse antes, quanto mais poluição melhor pra mim, eu vivo de CO2, sol, terra e água, aí se opera a mágica da fotossíntese. Isso é algo que os cientistas humanos sabem que acontece, mas não têm ideia de como ocorre.

Borges brincou de ser jornalista:
P. Você deveria ter mais cuidado com as baganas de cigarro ou então parar de fumar. Olhe seus pés...

R. Você é humorista, cara? Eu fumo, sim, aliás, eu como, eu vivo de CO2. Isso, para mim, é alimento...

O agrônomo ignorou a crítica da entrevistada e foi em frente.

P. Você tem sede? 

R. Claro que sim, às vezes chove muito, mas a água vai se embora lá para as baixadas, inunda tudo por lá e eu nem tenho tempo de beber a água que preciso. Vivo com sede.

A experiência que fazíamos chamou a atenção de pessoas que passavam. Chegava gente de todo tipo, alguns vizinhos, até a polícia e alguns jornalistas, avisados por amigos e informantes. Vinham testemunhar o novo fenômeno de comunicação. Muita gente procurava entender a situação, duvidando que uma árvore pudesse falar. Bom, falar não falava, mas comunicava e se expressava.

Parecendo uma coletiva de imprensa, a jornalista de nome Vera Ondei, digitou sua pergunta:

P. Até onde vão as suas raízes?

 R. Vão para baixo e para os lados, é claro, mais ou menos na mesma altura e largura da copa. É que procuro água no lençol freático mais profundo, mas aqui na cidade só tem água por lá quando chove muito, mas muito mesmo. Na largura da copa não tem água, por causa desse cimento aí na calçada e depois o asfalto impermeabiliza tudo...

Primavesi, outro agrônomo, perguntou mais:
P. "E como se arruma isso tudo?”
R. Por sorte havia gente que mantinha certa permeabilidade em suas casas e assim o lençol freático era recarregado e podia me ceder um pouco de água para eu transpirar e umidificar o ar nos dias quentes. Certamente o ar, o oxigênio ficou mais ralo nas minhas raízes, por isso estou mais fraca, mais lenta em minhas reações. Agora, inventaram de construir o subsolo e drenar parte do lençol freático. Por sorte sou de espécie que lança raízes em profundidade. Antes, o solo não tinha nenhum impedimento para que elas pudessem descer e encontrar água. Mas estão dizendo que vão precisar do subsolo para ampliar o metrô, e vão ter que cortar a ponta de minhas raízes, e acham que não compensa transplantar-me. Ainda assim estou contente, se mesmo após morta e esquartejada puder fornecer a energia solar que acumulei durante minha vida, para que seja assado um pão, ou preparado um alimento, ou produzido calor para alguém que passe frio: que melhore a qualidade de vida do topo da cadeia alimentar, o ser humano. Só fico pensando sobre quem fará isso no futuro, pois não estou vendo mais árvores no entorno. Dizem que o ser humano não gosta de árvores... Parece que as árvores não têm espaços em ambientes chamados desenvolvidos, eficientes, em que somente o que tem algum valor econômico vale a pena cuidar. Não consigo entender! 


Aprendi na natureza que nós éramos a expressão de máxima capacidade de acúmulo de energia solar por metro quadrado (a cana e o capim elefante têm a máxima taxa de acúmulo por ha/ano). Sim, de energia. Isso que todos dizem que precisa aumentar a oferta, pois está acabando.
Certamente, está acabando, não vejo mais árvores. Parece que isso ficou obsoleto, e que a tal tecnologia faz melhor e mais barato. A vida é assim. O mais fraco é substituído pelo mais forte. Mas estou contente, feliz, pois cumpri o meu dever.

Fiquei pensando, enquanto lia a resposta na tela do notebook. Dizem que tem os tais de serviços ecossistêmicos que são realizados por árvores, e que ajudam as cidades grandes a conseguir a água para abastecimento.

Um vizinho que passava comentou: 

- “Realmente, precisa acabar com essa árvore. Pois acabou de cair uma folha seca em meu cafezinho. Que porcaria! Vou voltar pro meu escritório, pro ar condicionado. Pena que a energia está cara! Droga de rinite crônica e ardência nos olhos!”

Uma jornalista da internet, de nome Mônica Costa, foi chegando e perguntou:

 
P. E aí? Tá precisando de ar fresco? Quem está quebrando o seu galho? 

R. Já disse que gosto de CO2, portanto, bem poluído, aí reciclo o ar para vocês humanos terem ar fresco, mas vocês parecem não entender bem isso...

Então escrevi outra pergunta no notebook:
P. Qual a contribuição das árvores urbanas?  
R. As árvores urbanas contribuem para a boa qualidade de vida nas cidades, por meio de inúmeros serviços ou processos ecológicos, destacando-se a redução da poluição do ar, interceptação da água de chuva, sombreamento e estabilização da temperatura, redução do ruído e promoção de melhorias no bem-estar psicológico e físico. Também atuamos na manutenção da umidade relativa do ar em nível adequado, por meio da vaporização de água, e evitamos elevação muito brusca da temperatura, reduzindo amplitudes térmicas. A umidade relativa do ar tem relação direta com a temperatura. Com mais calor, aumenta a demanda evapotranspirativa da atmosfera e há menos água disponível no solo e no ar, se a amplitude térmica for muito grande. Ou seja, ninguém percebe, mas se nós árvores formos expulsas das cidades, vocês humanos morrem de calor e sede.

P. Os que gostam de árvores apreciam o verde. Você sabe a causa disso?

R. Um cientista registrou que a cor verde alivia e acalma, tanto física como mentalmente. Atua sobre o sistema nervoso simpático, alivia a tensão dos vasos sanguíneos e diminui a pressão do sangue. Dilata os vasos capilares e produz sensação de tepidez. É estabilizadora emocional e estimuladora da pituitária. Age sobre o sistema nervoso como sedativo e ajuda em casos de insônia, de esgotamento e de irritação.

P. Diga-nos mais a respeito de seus serviços. 

R. Pois não: os impactos mais diretos são sobre a temperatura e a umidade relativa do ar. A cidade apresenta microclima diferente daquele do meio rural. O microclima urbano possui temperatura mais elevada, nebulosidade mais intensa, umidade relativa do ar mais baixa e velocidade dos ventos e turbulências menos intensas. Ao se percorrer aproximadamente 53 km em linha reta da região central da cidade de São Paulo, verifica-se que a temperatura varia de 13ºC a 26ºC. Comprova-se aquecimento de até 10ºC maior nas áreas densamente urbanizadas, o que indica a existência de ilhas de calor, que poderiam ser amenizadas com implantação de áreas verdes nas cidades.

O calor é refletido pelo material usado nas construções urbanas e produzido pelas atividades humanas associadas ao uso de combustíveis. A menor troca de ar causada pela restrição dos ventos contribui para manter o calor. As árvores tornam o ambiente mais agradável ao proteger as pessoas da radiação solar direta (predominantemente de ondas curtas, de luz visível) e da radiação de ondas longas (calor ou radiação infravermelha) emitida pelos prédios. De acordo com a estrutura da árvore, a maior parte dessa radiação incidente pode ser bloqueada pela copa.
Como a sombra da árvore protege também o solo, este não emite ondas longas de calor para as pessoas.

Um radialista passava também pelo local, de nome Odemar Costa, digitou mais uma pergunta:
P. Como é que uma árvore se sente em relação ao xixi dos cachorros?

R. Não vemos nenhum inconveniente. Na natureza a gente recicla tudo. Só aproveitamos o que nos interessa, o resto passa...

Digitei outra pergunta:
P. E a água, dizem que vai acabar? Você concorda com isso? 

R. É uma piada de gente ignorante... 
A quantidade de água que existe hoje em dia é a mesma que existia 2 ou 3 milhões de anos atrás, nem uma gota a mais ou a menos. O que vai faltar é água potável, não poluída, para vocês humanos consumirem, pois vocês sujaram tudo nas grandes cidades...

Nós árvores aumentamos o sombreamento, isto, aliado à evapotranspiração, reduz a quantidade de calor na atmosfera. Quanto maior for a superfície foliar, tanto maior será a capacidade de nossa transpiração, desde que haja água disponível no solo para permitir essa troca. Por essa razão, um metro quadrado ocupado com vegetação é mais eficiente do que um metro quadrado de lâmina d’água na umidificação e na redução de temperatura do ar. Calcula-se que a superfície evapotranspirante da lâmina foliar seja de quatro a dez vezes maior do que a da mesma superfície coberta por água. Uma árvore de grande porte pode transpirar 450 litros de água por dia.


Legenda: Quando o lençol freático acaba a terra fica seca, vira areia. Se houver infiltração a água vai minando, vai minando, e viram enormes crateras no asfalto... A cratera da foto acima aconteceu nos EUA, mas no Brasil também acontece isso, toda hora...

P. E quais as consequências? 

R. A poluição do ar afeta a saúde dos moradores das cidades e penaliza de forma mais impactante os mais frágeis, como crianças, idosos e enfermos. A poluição do ar provoca sintomas conhecidos como tosse, dor de cabeça e irritação dos olhos, da garganta e dos pulmões, e foi relacionada até mesmo ao câncer. Igual esse seu outro vizinho aí que passou aqui agora, mandando derrubar as árvores...

A inalação de material particulado foi relacionada ao aumento de mortalidade, de admissões hospitalares, de visitas ao pronto socorro e de utilização de medicamentos, devidos a doenças respiratórias e cardiovasculares, além de diminuição da função pulmonar e de aumento de mortes em pessoas com problemas cardiovasculares. Áreas sem árvores esquentam muito mais durante o dia e geram térmicas intensas, que lançam as impurezas para o alto. Essas impurezas caem sobre as áreas verdes com térmicas mais fracas e por isso atuam como vácuo. Por isso é recomendável passear ou exercitar-se em áreas verdes, com ar mais limpo, até as 10h ou após as 20h no verão (o pior horário é em torno de 15 a 16h), quando houver muita produção de poluentes no ambiente do entorno.

P. O asfalto é um problema, então, para vocês árvores?

R. Claro. No Brasil, são comuns chuvas intensas no verão do Sudeste e no inverno do Nordeste, as quais representam um desafio para a drenagem urbana. Frequentemente são investidos recursos em obras paliativas, na tentativa de conter os rios na época de cheia, impedindo-os de extravasarem nas várzeas, seus domínios naturais. Não há, então, cuidado com a manutenção de áreas para retenção natural e para infiltração lenta da água no lençol freático, e o número de parques, de áreas verdes e de parques lineares em fundos de vale é insuficiente. Esses parques, além de representar expansão da área verde na cidade, contribuem para melhorar a permeabilidade do solo, minimizando as enchentes, além de proteger os cursos d’água ainda não canalizados.

P. Mas se cada vez tem mais gente nas cidades, cada vez se precisa de mais asfalto e mais construções... 

R. Exatamente, vocês deveriam reduzir a velocidade do crescimento demográfico, caso contrário vão explodir...
Veja que a impermeabilização do solo nas cidades é um fenômeno conhecido e causa impactos importantes sobre a capacidade de recarga do lençol freático e sobre as enchentes e as enxurradas que atingem as cidades. O crescimento radicular e a deposição de matéria orgânica aumentam a capacidade e a taxa de infiltração da água no solo. Ao mesmo tempo, as copas das árvores protegem o solo do impacto das gotas de chuva, de modo que ele mantém melhor permeabilidade. Durante o processo de transpiração, um fenômeno que envolve a demanda atmosférica por água para manter a umidade relativa do ar, a água retirada do solo é lançada na atmosfera, aumentado assim o potencial de armazenamento de água no solo. Em áreas com vegetação, sabe-se que de 5% a 15% da água das chuvas é perdida por escorrimento superficial e que o resto evapora ou se infiltra no solo. Em cidades desprovidas de vegetação, 60% da água das chuvas é perdida...

 
Espera-se, como consequência das mudanças climáticas, que a intensidade das chuvas aumente consideravelmente, o que exigirá estrutura urbana capaz de armazenar essa água a mais e evitar enchentes mais intensas e mais destruidoras. Folhas, galhos superficiais e casca das árvores interceptam e armazenam por algum tempo água das chuvas, reduzindo o escorrimento superficial e atrasando o início do pico de enchente. Assim, as copas das árvores podem interceptar parte da chuva, liberando essa água mais lentamente ou perdendo-a para a atmosfera pela evaporação. Estima-se que uma árvore de médio porte pode interceptar 12.795 litros de água de chuva por ano. Algumas espécies de maior porte usadas na arborização urbana, como a sibipiruna e a tipuana, podem reter até 60% da água nas duas primeiras horas de chuva, liberando-a aos poucos. Orgulho-me de ser uma sibipiruna...


Árvores demoram a crescer e devem ser plantadas adequadamente: as espécies devem ser escolhidas de modo a se desenvolverem bem nas condições do local, na área disponível. Deve-se buscar a diversidade. A dependência de algumas poucas espécies aumenta a preocupação com a estabilidade da população de árvores.

 
As árvores urbanas sofrem inúmeras agressões no seu dia-a-dia.
As características ambientais da floresta urbana são muito distintas das condições das áreas rurais. O estresse mais intenso provoca redução no tempo de vida das árvores urbanas.
O tamanho das calçadas, a presença e o tipo de rede elétrica, a proximidade de esquinas e de rebaixamento de calçadas, a presença de equipamentos urbanos, a face de exposição, tudo isso deve ser considerado no planejamento da arborização.

Um dos problemas constantes na utilização de árvores de porte grande na arborização urbana diz respeito à compatibilização entre a rede elétrica e as árvores. De modo geral, como não é comum a percepção do valor das árvores para as cidades, as árvores saem perdendo. É comum a mutilação de árvores que se encontram sob a rede elétrica convencional. A poda feita sem critério técnico desestabiliza a árvore e a torna mais vulnerável ao ataque de doenças e de pragas, aumentando o risco de queda. Uma opção que precisa ser mais bem discutida é a substituição gradativa da rede elétrica convencional por outros tipos de rede. O maior custo da implantação de redes elétricas protegidas (compactas) ou subterrâneas é compensado pela redução de intervenções necessárias ao longo do tempo.

P. Não é uma pergunta, mas uma constatação: estou exausto... 

R. Eu também... Respondeu a sibipiruna...

Pensei com meus botões: ainda bem que as árvores não falam, mas que elas se comunicam, agora podemos verificar que sim, e muito bem.
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