sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Kátia Abreu, a rainha do latifúndio improdutivo


Richard Jakubaszko
A falta de lideranças no agronegócio leva o setor a navegar como um barco sem rumo.  As lideranças que aparecem, empossadas por interesses políticos, não apenas em nada ajudam a agropecuária, como chegam a denegrir ainda mais a imagem já negativa do setor perante a sociedade, por causa de distorções midiáticas, como as queimadas na Amazônia e o aquecimento do planeta, a poluição ambiental, a contaminação dos alimentos, etc., etc., etc.
Vejam se isso é notícia que qualquer outro setor produtivo do país suportaria ler sobre um líder do segmento, sem ao menos pedir providências, ou quem sabe até mesmo exigir o afastamento dessa liderança. A notícia foi publicada em 25 de novembro último, e até agora não vi ninguém do agronegócio reclamar de absolutamente nada.
Serei eu o errado?

por Nivaldo Manzano, jornalista.
“Kátia Abreu, a rainha do latifúndio improdutivo”
Em matéria publicada na revista CartaCapital sob o título “Kátia Abreu, a rainha do latifúndio improdutivo”, o repórter Leandro Fortes descreve como a senadora e presidente da Confederação Nacional da Agricultura, “com a espada da lei nas mãos e a aquiescência de eminências do Poder Judiciário, tem se dedicado a investir contra trabalhadores sem-terra”, na verdade em causa própria.
Beneficiária de um esquema de favores, por parte das autoridades locais, a senadora, de discurso aparentemente modernizador e legalista, é investigada pelo Ministério Público Federal por ter conseguido transformar terras antes produtivas em áreas onde nada se planta ou se cria. Na prática, a musa do agronegócio, diz a reportagem, estaria agindo como os acumuladores tradicionais de terras que atentam contra a modernização capitalista do setor rural brasileiro.
A história tem início em 1999, quando amigos do governador Siqueira Campos, entre eles a senadora, o irmão dela e demais da entourage, 47 ao todo, foram contemplados com a distribuição de 105 mil hectares, declarados de “utilidade pública” pelo Executivo, por suposta improdutividade. Os felizardos, inscritos na lista da federação de agricultura do Estado, cuja presidência era então ocupada por Kátia Abreu, pagaram pela benesse o preço simbólico de R$ 8,00 por hectare, o que permitiu à senadora apropriar-se de cerca de 1,2 mil hectares.
Ocorre que em partes das terras cedidas por Siqueira Campos a Kátia Abreu, no município de Campos Lindos, vivia o agricultor Juarez Vieira Reis, que embora tivesse nascido no local e lá trabalhado por 50 anos no cultivo da terra, foi dela expulso num ato classificado pelo Ministério Público Federal do Tocantins de “grilagem pública”.
Deu-se, assim, uma revolução agrária às avessas, ou seja, a terra antes cultivada por Reis com arroz, feijão, milho, mandioca, melancia e abacaxi, converteu-se, em mãos de Kátia Abreu, num latifúndio improdutivo, uma vez que nos 1,2 mil hectares declarados de sua propriedade não há o menor sinal de atividade agrícola ou pecuária.
Reis não se deu por vencido. Tinha a favor dele documentos de propriedade, um deles datado de 6 de setembro de 1958 e originário da Fazenda de Goiás, antes da divisão do Estado. O documento reconhece as terras da família em nome do pai, Mateus Reis, a partir dos recibos dos impostos territoriais de então. De posse dos papéis, Reis tentou barrar a desapropriação na Justiça.
Foi quando a senadora, apoiada na oligarquia local, partiu para a ofensiva. Ignorando a ação de usucapião em andamento desde o ano 2000, que dava respaldo legal à permanência de Reis na área, ela entrou com uma ação de reintegração de posse e, sem surpresa para ninguém, teve seu pedido deferido.
Reis foi expulso sem direito à indenização por qualquer das benfeitorias que construiu ao longo de cinco décadas de ocupação da terra, aí incluída a casa onde vivia com a família, cisternas, culturas, árvores frutíferas, pastagens, galinhas, jumentos e porcos.
Há cinco meses, Reis luta para convencer o Tribunal de Justiça de Tocantins a julgar tanto a ação de usucapião quanto o pedido de liminar impetrado há seis anos, para assegurar a volta da família à sua terra.

3 comentários:

  1. Roberto Barreto, de Catende12 de dezembro de 2009 às 11:43

    Como diz o velho ditado, quem cala...
    abs, RB

    RESPOSTA DO BLOGUEIRO: tem momentos que eu também suspeito disso, Barreto. Ainda bem que passa rápido. Caso contrário, a gente devia era desistir de ser tão teimoso...
    Ô raça!

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  2. Prezado Richard, a falta de manifestação não seria em razão do veículo que publicou a notícia? Afinal, em se tratando de Carta Capital....Por enquanto, até que se prove o contrário, temos a Kátia Abreu como liderança. Porém, se procedente o teor da matéria teremos que rever nossa posição. À propósito, qual a linha do jornalista "Manzano"? Está mais para a lógica,o outro lado da Galinha dos Ovos de Ouro do Brasil (leia-se agronegócio com ou sem lideranças) ou para Stédile e Raínha?

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  3. Bandeira,
    a falta de manifestação, na minha opinião, é comodismo, é omissão, é preguiça, e um certo desânimo, em relação à impunidade dos poderosos, garantida pela justiça brasileira, pois só ladrão de galinha nesse País vai em cana.
    Se saiu na CartaCapital, e nas outras revistas não saiu, o que vc deduz? Poderia imaginar uma grande mentira, né? Mas na Carta Capital que li tem até foto de documentos oficiais, mostrando impostos pagos. Se vc colocar as ideias em andamento também poderia crer na parcialidade da grande imprensa omissa, não é verdade? Pense bem...
    Bom, a nota saiu no meu blog, replicada da CartaCapital, pois citei a fonte, e eu não tenho linha nenhuma, nem de um lado e nem de outro. Meu compromisso é com a verdade, com o humanismo, e tem a ver com ética, como cidadão e como jornalista especialista no agronegócio, por sinal o termo que me irrita profundamente.
    A linha do Nivaldo Manzano, sei lá qual é, não perguntei, e não me importa. Pergunte-se, isto sim, se a notícia poderia ser procedente. Se a senadora, aqui no blog, contestar a notícia, pode crer, dou direito de resposta. Acredito que o direito de liberdade da imprensa se conquista com o direito de resposta.

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