domingo, 22 de novembro de 2009

A China será uma grande potência?

Richard Jakubaszko

A CHINA SERÁ UMA GRANDE POTÊNCIA?

Rebelión/Edmundo Fayanás Escuer
Livre tradução: RBdC (Roberto Barreto, de Catende) 18.11.2009

Você que é um leitor habitual da imprensa já comprovou que todos os meios de comunicação falam do futuro esplendoroso chinês. Apresentam a China como uma grande potência e que superará os próprios Estados Unidos. É tudo tão maravilhoso nessa China comunista-neocapitalista? Permitam-me discrepar dos meios de comunicação, dos sisudos economistas e analistas vários. Questiono seriamente o futuro chinês. Em que me baseio? Simplesmente analisarei três questões vitais: a água, a contaminação e a questão social. Há outras, porém, estas três são vitais.


O problema hídrico

A água na China apresenta níveis de escassez e contaminação dramáticos e dificilmentes reversíveis. Possui 7% dos recursos mundiais, para atender aos 20% da população mundial. Se por si isto já é grave, esta água apresenta um grave desequilíbrio regional, já que 80% das suas disponibilidades concentram-se ao sul. Dispõe de cerca de 2.100 m3 por pessoa/ano, abaixo das necessidades para a vida. O território chinês está distribuído em torno de dois grandes eixos hídricos, os rios Amarelo e Yangtsé. Ao longo do rio Amarelo, zona de produção de trigo, vivem 500 milhões de pessoas. Há alguns anos, este rio já não leva água aos seus últimos 200 quilômetros, por esgotamento. Os aquíferos da região estão esgotados. Em consequência, só existe água no norte da China e cada vez mais escassa. Na última década, desapareceram centenas de lagos e secaram muitas correntes.

Durante largos períodos, nem sequer à província de Shandong chega a água do rio Amarelo, algo muito preocupante, uma vez que esta província produz 20% do milho e 15% do trigo chinês. A máxima produção agrícola foi alcançada no ano 2002 e, desde então, ano a ano a produção sofre redução média anual de 5%, fazendo o país recorrer ao mercado mundial agrícola para comprar aqueles produtos, fato que esteve na origem do aumento dos preços nos anos 2006/2007. A próxima bolha econômica será da alimentação, por falta de produção e pela especulação.


A bacia do Yangtsé abarca cerca de 700 milhões de chineses, com uma pluviosidade alta, servindo a zona arrozeira. Neste rio foi construída a gigantesca represa das Três Gargantas, provocando um grande impacto ambiental e social. Apresenta problemas de segurança e a qualidade de suas águas se deteriorou por acumulação de sedimentos que provocam sua eutrofização. Ali chegam continuamente águas contaminadas, provenientes do sistema industrial e agrícola, com todo tipo de venenos. Já tiveram que ser evacuados mais de 5 milhões de chineses de suas margens, pois a represa já se converteu numa autêntica cloaca.


A contaminação hídrica é generalizada. Os entulhos das cidades e resíduos industriais converteram 80% de suas margens em lugares não apropriados ao ser humano e não têm qualquer vida animal. Suas águas não prestam para consumo humano, havendo um sério perigo de que os rios envenenem a população através da cadeia alimentar. Cerca de 70% das águas residuais urbanas não são tratados e as emissões tóxicas procedentes de fábricas são frequentes, gerando desastres naturais. O consumo de água na China quintuplicou desde 1949 e nos últimos anos seu crescimento é exponencial com o forte desenvolvimento econômico. Sua produção industrial emprega 10 vezes mais água do que a européia na elaboração de um mesmo produto.


O Banco Mundial publicou, em 1997, um informe no qual calculou que o custo da contaminação do ar e da água, na China, representava 8% do seu PIB. Os últimos dados de 2007 já se fala de 120 bilhões de dólares para limpar a contaminação gerada atualmente.


Para suprir a cada vez maior carência agrícola, a China está comprando terras no Terceiro Mundo para ali produzir. Calcula-se que no ano 2007 já havia adquirido mais de 3 milhões de hectares em países como Angola, Sudão, Quênia e outros.


A contaminação do ambiente

No caso do ambiente, impressionantes são as consequências do vertiginoso e selvagem desenvolvimento chinês nos últimos 25 anos. Cerca de 40% do seu território está afetado pela chuva ácida e se calcula que a contaminação do ar, na China, provoca anualmente cerca de 800 mil mortes. A OCDE afirma que, na China, o uso de fertilizantes por hectare agrícola é três vezes acima da média mundial. O dióxido de enxofre da combustão do carvão é uma ameaça para a saúde humana, provocando uma grande quantidade de chuva ácida que contamina lagos, rios, bosques e colheitas. O aumento dos gases no inverno, pelo uso que se faz do carvão, provavelmente supera ao de todos os países industrializados juntos nos próximos vinte anos, sobrepujando assim em cinco vezes a redução das propostas de Kyoto.

Há anos que se detectou na costa oeste do Pacífico, nos Estados Unidos, restos de compostos de enxofre, carbono e outros subprodutos da combustão do carvão chinês. Tais partículas microscópicas penetram nos pulmões e podem causar problemas respiratórios, enfermidades cardiovasculares e câncer.


O Worldwatch Institute prediz que a China será o primeiro país do mundo a ter que reestruturar sua economia por inteiro, para fazer frente aos problemas de contaminação da água, terra e ar.


A dramática questão social

A China pratica um capitalismo baseado na mão-de-obra industrial mais barata do planeta, o que lhe permitiu manter um ritmo de crescimento de 9% do PIB anual nos últimos 10 anos. Este aumento da riqueza só beneficiou a uns poucos, enquanto o resto segue numa condição de vida paupérrima. Tentam convencer os chineses de que ‘o socialismo de mercado’ é um atalho, um instrumento para alcançar o bem-estar do país e que o enriquecimento individual é necessário para a nação avançar. Fazem crer que os desequilíbrios gerados pela política devem-se à incapacidade dos administradores locais e não à linha política do Partido Comunista Chinês.

Os 10% mais ricos da população abocanham 45% da renda nacional, enquanto os 10% mais pobres ficam somente com 1,5% da renda nacional. Dos 1.3 bilhões de chineses, somente uns 130 milhões têm condições de vida de qualidade. O crescimento tem sido acompanhado, como vemos, de um incremento em igualdade espetacular da desigualdade social - quando esta era uma das sociedades mais igualitárias do planeta. Esta desigualdade ameaça agora com a produção de um deslocamento social de consequências imprevisíveis. Como diz um refrão chinês, ‘a escassez não importa, a desigualdade, sim’. As sociedades desiguais não têm qualquer futuro.


Um dos aspectos mais transcendentes tem sido a transformação de uma sociedade rural em urbana. Há mais de 166 cidades que ultrapassam o milhão de habitantes e, em pouco tempo, o número subirá a mais de 200 cidades.


Isto faz com que milhões de camponeses se transformem em operários da construção e outros milhões em trabalhadores industriais. Todos sob condições de trabalho e sociais que relembram as enfrentadas pelos trabalhadores ocidentais no século 19. O governo chinês, de perfil neocapitalista, tem se negado a desfazer-se dos nomes e símbolos comunistas. Isto se explica como antídoto contra o surgimento de organismos progressistas que legitimamente levantem a bandeira revolucionária contra os exploradores, ainda que comunistas. A privatização das empresas estatais tem provocado, como aconteceu na Rússia e no mundo ocidental, uma enorme corrupção. Os maiores beneficiários são os especuladores multinacionais e aqueles que detêm os poderes locais, que abusam dos cargos públicos em proveito pessoal. O governo chinês vem trocando a política de equidade e solidariedade pela adoração ao mercado, criando uma sociedade baseada na inveja, na dura concorrência, consumismo histérico e uma ampla mercantilização dos valores humanos. As inversões, o comércio exterior, as privatizações e outros elementos do denominado ‘consenso de Washington’, que não é outra coisa senão o mais puro neoliberalismo, são coisas que explicam o êxito econômico chinês, destacando-se que seu triunfo assenta-se na mão-de-obra mais barata e na escassez de direitos trabalhistas. A população chinesa carece de serviços sociais básicos como educação, saúde e seguridade social.

Como vemos, a situação chinesa não é nada idílica e os três problemas analisados são suficientemente graves e irreversíveis, pelo menos por um longo período. Farão com que a China seja cada vez menos importante e perca esse papel hegemônico que interessadamente lhe estão oferecendo. Esperemos que os chineses saibam reagir diante dos contínuos enganos políticos, econômicos e sociais que tanto seu governo chamado comunista quanto os cantos de sereia do neoliberalismo lhe apresentam. Reajam e busquem um caminho próprio e autóctone, porque necessitamos mais que nunca de uma China limpa e socialmente progressista.


Esse texto foi pescado da página Rebelión.org e o endereço é http://www.rebelion.org/noticia.php?id=95461
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2 comentários:

  1. Você coloca dados sobre a China mas não indica as fontes. Você indica que a população chinesa não dispoe de saúde, educação e seguridade social. Pelo que eu saiba, pelo menos a saúde é universal na China.

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  2. Caro(a) leitor(a) anônimo(a),
    lembro que o artigo não é de minha autoria, foi traduzido por Roberto Barreto, de Catende, e publicado por mim no blog.
    Mas concordo com o autor, não há seguridade (aposentadoria) na China, nem tampouco saúde e educação socializada, como há em Cuba. Não tenho maiores referências, mas posso recomendar o livro "Laowai" (Estrangeiro), da Sônia Bridi, veja comentário sobre a obra aqui no blog, em março/2009, onde ela conta muitas curiosidades que presenciou no planeta China.
    Num próximo comentário, por gentileza, identifique-se com nome/cidade, não costumo publicar comentários de anônimos. E obrigado pela participação, pertinente, apesar de anônima.

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