segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ai, ai, ai, coitadas das árvores!

Richard Jakubaszko
Faz tempo que estou para escrever sobre as barbaridades que se cometem contra as árvores, não apenas nas áreas urbanas brasileiras, mas em todo o mundo urbano do planeta. 
A questão é relativamente simples de se explicar para qualquer um que disponha de bom senso: quando você olha uma árvore o que você enxerga de verdade é apenas metade da árvore, ou seja, a outra metade está "submersa" na terra. 
Parece-me que essa informação é básica, no meu tempo de criança aprendia-se isso nos dois primeiros anos de escola, hoje em dia acho que não explicam isso nem nas faculdades. Assim, a metade enterrada da árvore é representada por raízes que são tão profundas como a sua altura visível a partir do solo, e tão largas quanto a sua copa, que proporciona uma agradável sombra para nos refrescar. 
A natureza dotou as árvores de raízes tão profundas e largas quanto suas copas por dois motivos elementares: primeiro, para buscar água no lençol freático quando o tempo está seco, ou, como se diz nas cidades, quando o tempo “está bom”, ou melhor, não está chovendo. 
Segundo, porque se as raízes tivessem pouca profundidade, ou fossem superficiais e de pouca largura, a árvore não conseguiria sustentar-se em pé. Seria a mesma coisa que um sujeito de 1,95 metros de altura com um pé, digamos, tamanho 25. Ou vira equilibrista ou desaba.  

E por que coitadas das árvores?  
Com a modernidade, tivemos a urbanização nas cidades, onde é tudo asfaltado, e as pessoas parecem ter medo ou nojo de terra, seja por causa do pó ou do barro, das formigas, bicho-do-pé, minhocas, vermes, enfim, essas coisas que vivem na terra. Aí decorre o fenômeno da imbecilidade que os jardineiros, planejadores paisagísticos, e até agrônomos urbanos, funcionários públicos das prefeituras, praticam com desenvoltura e plena ignorância, como podemos ver na foto: troncos de árvores com cimento em volta, no máximo uns 20 cm de cada lado do tronco para “poder entrar água”. 
A árvore que se vire com o tiquinho de água que pode entrar por ali. Qual a conseqüência disso? As árvores não crescem, não se desenvolvem, e morrem mais cedo, porque como tudo na vida, árvore também obedece ao ciclo determinado pela natureza: nasce, cresce, se desenvolve, amadurece, envelhece e morre. 
Nada escapa desse ciclo, nem as pedras, nem os planetas, nem as estrelas, nem mesmo as galáxias, somos todos iguais, exceto pelo tempo de vida de cada espécie. O que nos diferencia é a humana e inesgotável capacidade de demonstração de ignorância.  

Cadê aquele montão de água?  
Com pouca água uma árvore que poderia ter uns 5 ou até 10 metros de altura em, digamos, 7 ou 8 anos de vida, conforme a espécie, ela terá a metade disso, se tanto. Observe as árvores de seu bairro, no seu trajeto de casa para o trabalho, se forem árvores muito antigas podem ter atingido já uma altura considerável, mas porque foram plantadas há muito tempo, tempo em que não se fazia essa barbaridade que se faz hoje em dia com as árvores. 

Se forem mais novas, plantadas nos últimos 15 ou 20 anos, observe como não se desenvolveram, são mini-árvores, não dão sombra e nem seguram ventos, ou melhor, desabam quando tem uma ventania um pouco mais forte. É por essa razão que tem caído tanta árvore nos últimos tempos em qualquer temporal de verão, desses bem típicos de São Paulo, porque não dá para chamá-los de furacão, não é? Preste atenção nas árvores que desabam, pois são árvores plantadas em calçamentos bem simétricos, cheios de beleza cimentada, com asfalto ao lado, onde a água escorre e vai para as partes baixas da cidade, alagando tudo lá por baixo, entupindo os bueiros com a ajuda da sujeira levada na sua tresloucada correria. A água passa e a árvore deve ficar se perguntando: cadê aquele montão de água que passou por aqui agora mesmo? Não penetrou na terra, não saciou a sede da árvore e nem formou lençol freático, simplesmente se foi. Com muita pressa. Observe, também, que árvores plantadas em parques, sem as caixas de cimento, não desabam nunca, agüentam o tranco de qualquer ventania. 
É por essa razão também que o centro da cidade de São Paulo apresenta uma temperatura média de 4 a 5 Graus Celsius superior ao da Cantareira, bairro com distância inferior a 15 km do centro em linha reta. No centro temos asfalto, cimento e não temos árvores, ou melhor, quase nenhuma, e todas pequenas.

Resumindo  
Repassem este texto para alguém da sua prefeitura, façam campanhas para plantar árvores, é bonito isso, publiquem esse texto nos blogs, jornais, mas alerte-se que é necessário obedecer ao que se conhece como normas da natureza, e isto significa não barbarizar as árvores com asfalto ou cimento à sua volta. 
Outro problema, aproveitando o ensejo, são as ervas-de-passarinho. Conhece? Então olhe as 2 fotos aí do lado, numa delas a erva tomou conta da copa da árvore, na outra foto a árvore já está quase morta, seca e esturricada, sem folhas, mas a erva-de-passarinho está lá, viva e verde, sugando tudo o que pode, pois é um dos raros parasitas, assim como o vírus da AIDS, que mata o hospedeiro, mesmo sabendo que vai morrer depois.  

1 - Abaixo o asfalto. Só deveria ser permitido nas grandes avenidas. Nas ruas intermediárias retomemos o bom e velho paralelepípedo, que permite infiltração da água no subsolo. Em volta das árvores, se necessário também: paralelepípedos, com 2 a 3 metros em volta do tronco. 

2 – Abaixo as caixas de cimento murando os troncos de árvores nas calçadas, deveria ter no mínimo 1,5 metros de distância e não 20 ou 30 cm. E nesse espaço poderiam ser colocados paralelepípedos, e não cimento. 

3 – Poda anual das árvores, limpeza das ervas-de-passarinho, e sem as caixas de proteção de arame. Guia é uma coisa, mas essas caixas não apenas não são guias e não protegem, como limitam o crescimento das árvores.  
As fotos que ilustram esse artigo são de autoria do engenheiro agrônomo Hélio Casale com quem conversei muito a respeito. Trocamos informações, falei das caixas de cimento nas árvores e ele das guias de proteção e das ervas-de-passarinho. 
É assim a vida, a gente conversa e soma conhecimentos nessa troca de informação. Na foto à esquerda árvores no bairro de Perdizes, tomadas por erva-de-passarinho. À direita, outra árvore no mesmo bairro, mas só a erva-de-passarinho sobrevive. A árvore, a qualquer momento vai cair em cima de automóveis ou de gente. Que estupidez! Essas coisas os ambientalistas deviam vigiar e criticar.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

VENDEM-SE INGRESSOS PARA O SHOW DO AGRICULTOR BRASILEIRO

Eng. Agr. Mairson R. Santana *
Não agüento mais escutar sobre os shows da Madona! Qualquer noticiário tem que trazer um comentário sobre a tal. Não tenho nada contra, mas, é demais! Ainda mais pensando que o preço médio dos ingressos é acima de R$ 300,00. É uma total inversão de valores. Anos atrás estava no saguão do aeroporto em São Paulo, lendo uma revista, e justamente a noticia de um médico paranaense que havia inventado uma técnica cirúrgica que consistia em retirar um naco do coração do paciente e salvá-lo da morte, um grande avanço da ciência, por coincidência ele estava desembarcando e alguém do lado comentou que o havia visto na TV, no entanto no mesmo vôo desceu um pagodeiro da ocasião... Adivinha para quem foi toda a atenção? O pagodeiro, nada contra, gosto de pagode, mas o que importava era o show naquele momento e não o feito magnífico de salvar vidas.



Por isso proponho ao agricultor que comece a cobrar ingressos! Produziu 70 sc de soja? Divulgue o feito, chame a TV, anuncie e mostre a colheita, mas cobre ingresso! Tá colhendo arroz em sequeiro mais de 100 sc/ha? Nossa Senhora! É menos gente que vai passar fome nesse mundo, esse teria que pagar uns R$ 500,00 para cada ingresso! Veja o outro agricultor reduzindo os custos, usando menos pesticidas, recorde de safra, saldo positivo na balança comercial, maior responsável pelo aumento do PIB! Palmas para ele! Que lindo show! Autógrafos!


O agricultor é o verdadeiro artista! Entende de economia; vejam qual setor foi primeiro afetado pela crise econômica mundial, pela valorização do câmbio na hora do plantio, pelo aumento dos custos de produção e pela falta de crédito na hora de plantar a safra; VEJA COMO REBOLA O ARTISTA! Entende de aplicação de risco: que bolsa de valores, que ações, que nada! Risco é pagar R$ 2.000,00 na tonelada de adubo, mais outro tanto em defensivos e sementes, colocar no chão e esperar a natureza fazer sua parte... Num momento reza para chover, no outro reza para parar de chover... e o vizinho do lado tá rezando ao contrário! Haja coração!


Meus ídolos são os agricultores deste país! Os profissionais do setor que a cada nova safra colocam mais fartura nas mesas de muita gente no Brasil e no mundo afora! Produzem riquezas em regiões remotas, onde qualquer “moço bem educado da cidade” jamais sonharia colocar os pés! Sem estrada, sem infra-estrutura, sem financiamento decente! O duro é agüentar todo dia somente notícias ruins e sensacionalistas, sendo que há um verdadeiro show dos nossos agricultores em andamento! Mas, o que ele faz é produzir alimentos, nada de sensacional, isso não tem luz, não tem holofotes, não tem glamour, não tem IBOPE!


* Eng. Agr. Mairson R. Santana
Agro Norte Pesquisa e Sementes Ltda
Sinop - MT
66 3517.1900
www.agronorte.com.br

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Vingue-se: acerte uma sapatada no Bush!!!

Richard Jakubaszko

Recebi de um amigo o link abaixo, e recomendo: clique nele e acerte o Bush. Imperdível!

http://bushbash.flashgressive.de/

ESSE OUTRO É FANTÁSTICO... Pode-se ficar horas vendo isto!!! Dizem que é a proteção de tela mais famosa nos Estados Unidos, hoje em dia. Clique no link abaixo. Se o Bush ficar entalado, clique nele e arraste-o com o mouse... http://www.planetdan.net/pics/misc/georgie.htm

domingo, 7 de dezembro de 2008

Mesmo com 70% de aprovação Lula vai segurar a crise?

Richard Jakubaszko 
Esta parece ser a pergunta que ainda não tem resposta, nem do povo e nem da mídia. Sabemos que índices de popularidade presidencial não seguram crises, políticas ou econômicas, mas não tenhamos dúvidas de que ajudam. Até porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alcança esse espantoso e inédito índice de aprovação ao final do sexto ano de mandato, e isso não é normal. Já deveria haver algum sinal de desgaste, apesar da mídia oposicionista. 

Lula chega aos 70% de “ótimo e bom” na pesquisa do Datafolha, mas nos tempos de FHC a mídia considerava o quesito “regular” como aprovação. Assim, neste raciocínio, hoje Lula teria 93% de aprovação, e apenas 7% de desaprovação. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, em todas as classes sociais. A razão desse fenômeno? É simples: Lula faz um governo com inclusão social das classes menos favorecidas, não massacrou a classe média como fez FHC, e ainda deixou a classe que está no topo da pirâmide ganhar mais dinheiro ainda. Fez um governo para todos os brasileiros.

Por que acontece isso? 
As explicações acima não são minhas, são dos cientistas políticos e das pesquisas. As minhas explicações incluiriam afirmar que Lula é um excepcional comunicador, é espontâneo, é natural, autêntico, não dissimula, fala a linguagem que o povo entende, vai do sífu à diarréia, do pão com margarina e mortadela, do “pergunta pro Bush”, de criticar a seleção brasileira quando joga mal, é um brasileiro integrado com todas as classes sociais, está sempre rindo, é corintiano, toma suas biritas, gosta de churrasco, gosta de pagode, de futebol... 
E ainda está fazendo um bom governo, na opinião do povão e até dos banqueiros e industriais. É um fenômeno! Se ele irá eleger um poste para presidente, transferindo votos, ainda não se sabe, mas que deve levar o poste ao segundo turno, isso é bem possível, depois desses índices de 93% de aprovação, ou melhor, 70% como querem os jornais...
E a crise? 
Noticia-se tanto nos jornais e telejornais que ela deve chegar por aqui, já tem até alguns setores industriais colocando o pé no freio, demitindo, reduzindo investimentos, os bancos segurando os créditos, mas vejo as lojas cheias, os supermercados idem, a rua 25 de março, em São Paulo, sábado pela manhã, dia 6, não tinha espaço pra ninguém caminhar, pareciam turistas na Capela Sistina. 
Na Saara, tradicional comércio popular no Rio de Janeiro tinha gente saindo pelo ladrão... 
Por enquanto, ao menos no comércio, a crise ainda não chegou, mas tem sido anunciada a sua iminência a qualquer momento pela imprensa, nuvens negras são pintadas diariamente, como se houvesse o desejo de que ela chegue, até para derrubar os índices de popularidade presidencial. 
Depois chamam a nós jornalistas de pessimistas, de urubus, e quando ouço isso tenho de me calar, é o mínimo a fazer, não dá para defender a classe nessas horas. 
Mas imagino o comércio neste Natal batendo recordes de vendas, pois essas são as expectativas anunciadas pelos próprios comerciantes. Na mídia os colunistas de economia informam que a crise vai chegar brava mesmo é a partir de janeiro e fevereiro de 2009... 
Entretanto, o Datafolha contrapõe: 78% dos brasileiros estão otimistas e acham que a vida vai melhorar em 2009.
Para 2009, como vai ser? 
Tem uma variável muito interessante e relevante para 2009 e que não vi nenhum colunista de economia analisar até agora. Chama-se China. Se ela vai entrar em crise também é outro problema, ou se vai chegar por lá só umas marolinhas conforme Lula previu para nós. 
É claro que a China deve sentir os efeitos na queda das suas exportações para os EUA e Europa. Deve reduzir seu crescimento anual de 9% ou 10% para, digamos, uns 6% ou 8%, e toda a mídia vai dizer que a crise também chegou lá. 
No que diz respeito ao Brasil, somos fornecedores dos chineses na exportação de alimentos, soja e carne, frango, alguma coisa de café, um pouco de laranja, e o nosso porco deve crescer em 2009. Tudo isto porque a China fez inclusão social de mais de 350 milhões de chineses nos últimos 15 anos, vindos da área rural para as cidades, para trabalhar na indústria. 
Antes de serem urbanizados produziam a própria comida num pequeno pedaço de terra, e hoje compram no mercadinho na esquina. 
Alguém aí, que me lê nesse momento, acha que o governo chinês vai deixar o equivalente a esses dois brasis de 350 milhões de consumidores com fome? Ou melhor, 1,3 bilhões de pessoas com fome? Com um fundo de caixa em moedas fortes perto dos 2 trilhões de dólares? 

Para acreditar nisso precisa ser muito pessimista. Nem precisa falar da Índia e da Rússia, os outros dois componentes do BRIC. Também, tudo isto, independentemente de haver acordo na Rodada de Doha, ainda este ano, para liberalizar o comércio. 
Como lembrete final: as exportações do agronegócio representam quase  a metade da nossa balança comercial, e saibam que os estoques de alimentos (grãos) são os mais baixos da história contemporânea no pós-guerra. Parece-me que a isso se chama de “fundamento de mercado”, ou isso não tem mais importância? As coisas vão melhorar a partir do momento em que o etanol da cana-de-açúcar virar commoditie internacional, mas isso é outra história.

Que ladrem os pessimistas, mas observem os índices de popularidade do presidente Lula, pois eles podem continuar subindo nas próximas pesquisas, mesmo que não segure a crise. 
E aí, vão dizer o quê? Ah! Tem uma coisa, vão dizer que é a sorte...
A foto abaixo foi publicada hoje, 9/12/2008, lá no blog do Azenha:

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Carta do Zé agricultor para Luis da cidade.

Richard Jakubaszko
recebi e-mail do engenheiro agrônomo Eleri Hamer, lá de Rondonópolis, MT (obrigado Eleri!), me encaminhando a fictícia carta de um agricultor a um seu amigo da cidade. O texto seria, conforme registra o e-mail, de autoria do deputado federal Luciano Pizzatto (DEM/PR). Tentei, mas não consegui manter contato com o deputado para confirmar a autoria, por isso registro a autoria, apesar de não ter certeza, eis que na internet essas questões são falseadas a torto e a direito. Mas o texto é delicioso, e tem preciosidades dignas de registro. 
Luciano Pizzatto (*)
Luis, Quanto tempo. Sou o Zé, seu colega de ginásio, que chegava sempre atrasado, pois a Kombi que pegava no ponto perto do sítio atrasava um pouco. Lembra, né, o do sapato sujo. A professora nunca entendeu que tinha de caminhar 4 km até o ponto da Kombi na ida e volta e o sapato sujava.
Lembra? 
Se não, sou o Zé com sono... he he. A Kombi parava às onze da noite no ponto de volta, e com a caminhada eu ia dormi lá pela uma, e o pai precisava de ajuda para ordenhá as vaca às 5h30 toda manhã. Dava um sono... Agora lembra, né Luis?! 
Pois é. Tô pensando em mudá aí com você. Não que seja ruim o sítio, aqui é uma maravilha. Mato, passarinho, ar bom. Só que acho que tô estragando a vida de você Luis, e de teus amigos ai na cidade. Tô vendo todo mundo fala que nóis da agricultura estamo destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sitio do pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que pará de estuda) fica só a meia hora ai da Capital, e depois dos 4 km a pé, só mais 10 minutos da sede do município. Mas continuo sem Luz porque os Poste não podem passar por uma tal de APPA que criaram aqui. A água vem do poço, uma maravilha, mas um homem veio e falô que tenho que fazê uma outorga e pagá uma taxa de uso, porque a água vai acabá. 
Se falô deve ser verdade. 
Pra ajudá com as 12 vaca de leite (o pai se foi, né...) contratei o Juca, filho do vizinho, carteira assinada, salário mínimo, morava no fundo de casa, comia com a gente, tudo de bão. Mas também veio outro homem aqui, e falô que se o Juca fosse ordenhá as 5:30 tinha que recebe mais, e não podia trabalha no sábado e domingo (mas as vaca não param de fazê leite no fim de semana...).
Também visitô a casinha dele, e disse que o beliche tava 2 cm menor do que devia, e a lâmpada (tenho gerador, não te contei!) que estava em cima do fogão era do tipo que se esquentasse podia explodi (não entendi?). 
A comida que nóis fazia junto tinha que fazê parte do salário dele. Bom, Luis tive que pedi pro Juca voltá pra casa, desempregado, mas protegido agora pelo tal homem. Só que acho que não deu certo, soube depois que foi preso na cidade roubando comida. 
Do tal homem que veio protegê ele, não sei se tava junto. 
Na Capital também é assim né, Luis? Tua empregada vai pra uma casa boa toda noite, de carro, tranquila. Você não deixa ela morá nas tal favela, ou beira de rio, porque senão te multam ou o homem vai aí mandar você dar casa boa, e um montão de outras coisa. É tudo igual aí né? 
Mas agora, eu e a Maria (lembra dela? pois casei com ela) fazemo a ordenha as 5:30, levamo o leite de carroça até onde era o ponto da Kombi, e a cooperativa pega todo dia, isso se não chovê. Se chovê perco o leite e dô pros porco. Té que o Juca fez economia pra nóis, pois antes me sobrava só um salário por mês, e agora eu e Maria temos sobrado dois salário por mês. Melhorô. 
Os porco não, pois também veio outro homem e disse que a distancia da pocilga com o rio não podia ser 20 metro e tinha que derrubá tudo e fazê a 30 metro. Também colocá umas coisa pra protegê o rio. 
Achei que ele tava certo e disse que ia fazê, mas que sozinho ia demorá uns trinta dia, só que mesmo assim ele me multô, e pra pagá vendi os porco e a pocilga, e fiquei só com as vaca. 
O promotor disse que desta vez por este crime não vai me prendê, e fez eu dá cesta básica pro orfanato. Ô Luis, aí quando vocês sujam o rio também paga multa, né? 
Agora a água do poço eu posso pagá, mas tô preocupado com a água do rio. Todo o rio aqui deve ser como na tua cidade Luis, protegido, tem mato dos dois lado, as vaca não chegam nele, não tem erosão, a pocilga acabô .... Só que algo tá errado, pois o rio fede e a água é preta e já subi o rio até a divisa da Capital, e ele vem todo sujo e fedendo aí da tua terra. 
Mas vocês não fazem isto, né Luis? Pois aqui a multa é grande, e dá prisão. 
Cortá árvore então, vige! Tinha uma árvore grande aqui no sítio que murchô e ia morrê, então pensei eu de tirá, aproveitá a madeira, pois até podia cair em cima da casa. Como ninguém respondeu aí do escritório que fui, pedi na Capital (não tem aqui não), depois de uns 8 meses, quando a árvore morreu e tava apodrecendo, resolvi derrubar, e veja Luis, no dia seguinte já tinha um fiscal aqui e levei uma multa. Acho que desta vez vão me prendê. 
Tô preocupado Luis, pois no radio deu que a nova Lei vai dá multa de 500,00 a 20.000,00 por hectare e por dia da propriedade que tenha algo errado por aqui. Calculei por 500,00 e vi que perco o sitio em uma semana. Então é melhor vendê, e ir morá onde todo mundo cuida da ecologia, pois não tem multa aí. Tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazê nada errado, só falei das coisa por ter certeza que a Lei é pra todos nóis. 
E vou morar com vc, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usá o dinheiro primero pra comprá aquela coisa branca, a geladeira, que aqui no sitio eu encho com tudo que produzo na roça, no pomar, com as vaquinha, e aí na cidade diz que é fácil, é só abri e a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nóis, os criminoso aqui da roça.
Até Luis. 
Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas não conte até eu vendê o sitio. 
(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desiqual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)
* É engenheiro florestal, especialista em direito socioambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, deputado federal desde 1989, e detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.

domingo, 23 de novembro de 2008

Sábado, 22 de novembro!

Richard Jakubaszko
Recebi o e-mail abaixo, de Odemar Costa, nesta madrugada de domingo, 23 de novembro 2008. Por si só o texto se explica e registra a história como de fato aconteceu, e não como foi interpretada. É a minha forma de homenagear ao grande amigo Odemar Costa.
Sábado, 22 de novembro!
Por Odemar Costa

Os telejornais, esta noite, não sei se todos, omitiram um fato jornalístico que me foi muito importante, há exatamente 45 anos! Haver sido o primeiro radialista do país a noticiar o falecimento de John Fitzgerald Kennedy, presidente americano.
Naquela sexta-feira, 22 de novembro de 1963, Odemar Costa, locutor catarinense que deixara Itajaí, onde, além de repórter, era o mais jovem vereador do país,
eleito em 62 com apenas 20 anos e que se transferira da Difusora Itajaí para a Rádio Bandeirantes de São Paulo, há apenas seis dias, viu uma estrela em seu caminho.
Passando, casualmente, pela porta da Bandeirantes, naquela tarde, na rua Paula Souza, zona da 25 de março, fui informado pelo porteiro da emissora de que Kennedy fora baleado em sua visita a Dallas, Texas. Subi ao andar onde
funcionava o departamento de Jornalismo e Moacir Fernandes, sub chefe, que acabara de noticiar o atentado, disse-me: - que bom que apareceu alguém! Estou sozinho. Não há nenhum locutor na casa, agora, e preciso que você me ajude, pois meu negócio é redigir e não ler notícias.
Assim, ele e eu nos revezávamos para ler as notícias que chegavam pelos teletipos, (máquinas que na época escreviam as notícias enviadas pelas agências internacionais aos jornais e emissoras que assinavam essa prestação de serviço). E os locutores famosos foram aparecendo para marcar presença naquela cobertura que despertava grande interesse.
E o chefe Alexandre Kadunc chegou em seguida e foi categórico!
- Em time que está ganhando não se mexe. Quero apenas o Moacir e o catarina Odemar Costa nessa cobertura.
Resolvi usar minha habilidade em sintonizar emissoras em ondas curtas. E de repente, ouço uma voz dizendo: The President Kennedy is dead! Era Dan Ratter famoso anos mais tarde pelo programa 60 Minutes. Imediatamente repeti em português pela Bandeirantes. - O Presidente Kennedy está morto!



Assim, fui o primeiro a noticiar o fato no Brasil! As emissoras do Rio estavam fora do ar por causa de uma greve. E a Bandeirantes nesse dia faturou grande índice de audiência, superando a Difusora São Paulo, que era sempre a primeira quando se tratava de assunto bombástico. E por haver mostrado essa habilidade com a notícia fui encarregado de ler o Nosso Correspondente em sua edição matinal, justamente dentro do programa " O Trabuco" de Vicente Leporacce, possuidor de grande audiência.
Hoje, quando cruzo no Brooklin a rua Vicente Leporacce, emociono-me. Ninguém difundiu nacionalmente meu nome como esse jornalista tão famoso. Ao abrir uma pausa para que eu lesse o Nosso Correspondente, todos os dias gastava alguns segundos pra falar algo a meu respeito. Um dia mencionava que eu era de Urussanga; Outro dia citava que eu era o mais jovem vereador do Brasil. em Itajaí (Sim, eu conciliava o exercício do mandato com meu emprego na Bandeirantes. Eu ganhava bem e podia, uma vez por mês, tomar um avião e reassumir meu mandato na Câmara de Itajaí). Para que tenham uma idéia, saibam que ganhava 30.000 na Difusora Itajaí e fora contratado pela Bandeirantes por 150.000! Num outro dia Leporacce se referia ao Odemar como sendo o Gilmar dos pobres (Gilmar era o goleiro do Santos de Pelé e Odemar, o goleiro do Scratch do Rádio, o time de futebol da Bandeirantes, que participava de jogos beneficentes no interior de São Paulo. E a nós cabia a tarefa de autografar as cadernetas escolares de todas as moçoilas e adolescentes que compareciam aos estádios para nos ver jogar.


Valeu 23 de novembro de 1963! Naquela tarde, nenhum outro radialista desse país brilhou mais que Odemar Costa.
(Eu, por gostar de política acompanhara todos os debates da campanha Kennedy / Nixon, em 1960. Sabia de minúcias dessa campanha através do livro do jornalista norte americano Theodore White, "Como se faz um Presidente da República".
E, por haver sido chefe de rádio jornalismo na Difusora Itajaí, conhecia detalhadamente todos os fatos sobre os foguetes russos em Cuba e o bloqueio aéreo naval da ilha autorizado por Kennedy e também a fracassada tentativa de invasão de Cuba por mercenários na Baía dos Porcos. E, enquanto novas notícias não chegavam, eu enfeitava o pavão com esse grande conhecimento que tinha da administração Kennedy.


Hoje, depois de 45 anos, sinto-me envaidecido por minha atuação na cobertura desse fato tão importante da história contemporanea, a notícia em primeira mão da morte de John Fitzgerald Kennedy. Como radialista, isso foi o ápice de minha carreira e eu precisava contar isso a vocês.
Um grande abraço.
Odemar Costa. www.odemarcosta.com

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Como a imprensa apresenta o mesmo assunto para atender seus leitores

Richard Jakubaszko
Chapeuzinho Vermelho na imprensa - Diferentes maneiras de contar a mesma história:
JORNAL NACIONAL (William Bonner): "Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...". (Fátima Bernardes): "... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia".
FANTÁSTICO (Glória Maria): "... que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?"
CIDADE ALERTA (Datena): "... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades?! A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não.
VEJA Lula sabia das intenções do lobo.
REVISTA CLÁUDIA Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.
REVISTA NOVA Dez maneiras de seduzir um lobo.
FOLHA DE S. PAULO Legenda da foto: "Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador". Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.
O ESTADO DE S. PAULO Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.
O GLOBO Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente.
ZERO HORA Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.
AGORA Sangue e tragédia na casa da vovó. 
REVISTA CARAS (Ensaio fotográfico com Chapeuzinho) Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: "Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa".
PLAYBOY (Ensaio fotográfico) Veja o que só o lobo viu.
ISTO É Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.
GAZETA DO POVO - PR Lobo que devorou menina teria cargo de Assessor no Palácio Iguaçu e teria sido visto na Granja do Canguiri.

sábado, 1 de novembro de 2008

Novas tecnologias para aplacar a fome no mundo

Richard Jakubaszko


A presença da fome ameaça a crescente e incontrolável população mundial. Mas as novas tecnologias das indústrias de máquinas mostram que a ciência está atenta, pois desenvolve as oportunidades mercadológicas proporcionadas pelo gigantesco contingente de mão-de-obra mal aproveitada nas urbes, e que está disponibilizada para o trabalho no agronegócio.

As fotos exibidas neste blog, de uma nova colheitadeira de pepinos na Rússia, comprovam essa questão com uma vantagem adicional: a mão-de-obra demonstra que trabalha em confortável posição num dia-a-de-campo (também se faz isso na Rússia), o que evita críticas de "trabalho escravo", provenientes do pessoal politicamente correto, e ainda desmente o falatório sobre a profissão mais antiga da humanidade, de que trabalhar deitado é moleza. Ô raça!

O referido material pode ser visto no endereço (link) abaixo, mais um indicativo de que a Internet é uma das maravilhas do mundo moderno:
http://www.toroller.com/2008/09/10/only-in-russia-weirdest-harvest-machine-ever/

Vejam as fotos:

















Observe-se o que tem de pepino na esteira da colheitadeira, e que a responsável pela colheita na linha da esquerda tirou uma folga...
Espero que todos tenham gostado de conhecer as modernas tecnologias de colheita dos russos, desenvolvidas para aplacar a fome mundial. Com o que tem de gente na China vai ficar fácil para eles desenvolver e aprimorar essas novas tecnologias. Essa máquina russa aí tem apenas 10 linhas...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

AI! CAI NA REFORMA

Roberto Barreto, de Catende 

Cansado de ser  
Vulgarmente chamado 
D'aquele tracinho  
O hífen resolveu
Engrossar na reforma  
Ortográfica em curso 
Exigiu por exemplo 
Novas composições  
Entrar em gira-sol  
Como linha-de-fé  
Sair de tirateima 
E de portarretrato  
Pois tem mais afazer 
Na quadra que advir  
Re-escrever a história  
Novo dicionário  
Edições renovadas  
De Brás Cubas e Amaro
Entre trapézio e crime 
Novo vocabulário  
Na bagunça prevista 
Conversou com o k  
Com o ípsilon
E o dáblio a quatro 
Pra botar pra quebrar 
Dar nó cego na língua  
N'universo lusófono  
Brasil e Portugal  
Príncipe e Cabo Verde  
São Tomé incluído 
Hão de ver para crer  
Ou dizendo melhor  
Hão de ler pra escrever 
E que trema aquele  
Que ouse resistir  
Vai cair sem perdão  
Como folha já morta 
No inferno linguístico  
Que já bate à porta 
E essa crase no a 
É o hífen disfarçado  
Amigos e igas  
A situação é grave 
(Texto enviado por Roberto Barreto, de Catende - jornalista e revisor free lancer)
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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Una idea

Richard Jakubaszko

A internet é uma pândega! Já escrevi sobre isso. Circulam por ela boas e más idéias, bobagens e coisas inteligentes, algumas simples, mas inteligentes. A idéia abaixo é um exemplo, me foi enviada pelo jornalista e meu amigo, Roberto Barreto, de Catende.

Una vez llegó al pueblo un señor, bien vestido, se Instaló en el único hotel que había, y puso un aviso en la única página del periódico local, que está dispuesto a comprar cada mono que le traigan por $10.
Los campesinos, que sabían que el bosque estaba lleno de monos, salieron corriendo a cazar monos.
El hombre compró, como había prometido en el aviso, los cientos de monos que le trajeron a $10 cada uno sin chistar.
Pero, como ya quedaban muy pocos monos en el bosque, y era difícil cazarlos, los campesinos perdieron interés,entonces el hombre ofreció $20 por cada mono, y los campesinos corrieron otra vez al bosque.
Nuevamente, fueron mermando los monos, y el hombre elevó la oferta a $25, y los campesinos volvieron al bosque,cazando los pocos monos que quedaban, hasta que ya era casi imposible encontrar uno.
Llegado a este punto, el hombre ofreció $50 por cada mono, pero, como tenía negocios que atender en la ciudad,dejaría a cargo de su ayudante el negocio de la compra de monos.
Una vez que viajó el hombre a la ciudad, su ayudante se dirigió a los campesinos diciéndoles:
- Fíjense en esta jaula llena de miles de monos que mi jefe compró para su colección.
Yo les ofrezco venderles a ustedes los monos por $35, y cuando el jefe regrese de la ciudad, se los venden por $50 cada uno-.
Los campesinos juntaron todos sus ahorros y compraron los miles de monos que había en la gran jaula, y esperaron el regreso del 'jefe'.
Desde ese día, no volvieron a ver ni al ayudante ni al jefe.
Lo único que vieron fue la jaula llena de monos que compraron con sus ahorros de toda la vida.
Ahora tienen ustedes una noción bien clara de cómo funciona el Mercado de Valores y la Bolsa.

sábado, 4 de outubro de 2008

Qual é a maior hipocrisia brasileira?

Richard Jakubaszko
Pois é, hoje acordei com a macaca. Dormi com os pés de fora, como se diz no popular. Nada como o dia seguinte a uma noite encardida para se completar e dar um fecho de ouro ao que já começou mal. 
Como conseqüência das minhas iluminadas desavenças noturnas resolvi abrir um debate público à luz do dia, mas sem diatribes pelo amor de Deus, eis que tenho muitas dúvidas sobre o bom senso dos brasileiros. 
Desejo descobrir qual é a maior hipocrisia dos brasileiros. Temos muitas hipocrisias vigentes, dezenas delas, todas praticadas no dia-a-dia, idiossincrasias e preconceitos, todas heranças da secular miscigenação, um amálgama humano no qual as culturas lusitanas, católicas, judaicas, africanas, dos próprios índios, e de contrapeso os imigrantes europeus. 
Somos todos, por conseguinte, um dos povos com um dos mais altos índices de perfeição na prática da hipocrisia. 

Convivemos de forma harmônica, cotidianamente, com algumas pequenas ou grandes mentiras, num faz-de-conta monumental. 
Assim, proponho uma votação, e logo abaixo estou sugerindo algumas hipocrisias cotidianas, individuais e coletivas, praticadas pelos brasileiros. 
A votação pode ser numa das minhas sugestões, mas o leitor deste blog, democraticamente, tem direito a sugerir uma hipocrisia, desde que elegível, e se assim for prometo colocá-la na lista abaixo. 

Esse elegível aí fica por conta do seu bom senso, se é que alguém que tenha bom senso concorda em participar de uma maratona maluca como essa que estou propondo. Pode ser maluca, mas pelo menos será divertida. 

Vamos lá:  
Candidaturas de hipocrisias, minhas sugestões: 
1 – trabalhador brasileiro finge que trabalha, e o patrão finge que paga um bom salário. 
2 – o brasileiro é católico não praticante, até o momento em que o calo aperta, e aí chega o momento de ir num templo evangélico pra dar um descarrego. 
3 – doações a partidos políticos nenhuma empresa faz, e nem pode aparecer. 
4 – no Brasil nenhuma empresa tem caixa dois. 
5 – nenhum brasileiro sonega imposto de renda. 
6 – nenhum brasileiro jamais subornou um guarda rodoviário, ou fiscal, nem jamais furou uma fila, nunca trafegou em alta velocidade e nunca estacionou em local proibido. 
7 – brasileiro nunca cola em provas escolares. 
8 – brasileiro não gosta de levar vantagem. 
9 – preconceito racial no Brasil não existe, só o social, contra pobre. 
10 – Serviços do SAC (essa é novíssima!): os (as) novos (as) atendentes sempre nos dão razão nas reclamações, mas nunca resolvem o problema. Isso quando o telefone atende, ou se você consegue transpor os degraus do disque 1 para... ou disque 2 para...disque 3 para... 
Quem se habilita a votar, ou a sugerir uma nova ou antiga hipocrisia? Mande um comentário, e vote...
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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Entendendo a crise financeira americana...


Richard Jakubaszko
"Essa é uma forma didática de explicar a crise americana."
É assim:
O seu Bilu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele aumenta um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Bilu, um ousado administrador formado, que tem curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo a pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDBs, CDOs, CCDs, UTIs, OVNIs, SOSs ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer, e afinal isso nem é importante.
Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capítais e conduzem a operações estruturadas de derivativos nas bolsas de valores, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Bilu). Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países. Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e a bodega do seu Bilu vai à falência.
E toda a cadeia "sifu"!!!
Os US$ 700 bilhões do governo americano vai ser pra devolver a grana aos "investidores" que perderam ativos financeiros com as especulações nos derivativos do seu Bilu...
Agora ficou fácil de entender, não ficou?
Hehehehe
PS. Consta que o seu Bilu vai mudar de ramo, agora vai abrir uma agência de propaganda.
Grato pela colaboração da Cleunice Galetti Polezzi, do financeiro da DBO Editores, que simplifica a nossa vida todo dia.

Para entender melhor ainda essa estúpida crise, onde vigaristas, banqueiros e políticos ainda vão levar vantagem e ganhar muito mais dinheiro, veja o quadro de um programa humorístico inglês na TV, que é explícito, além de hilário:

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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A encrenca está feita, e não tem associação pra defender a soja.

Richard Jakubaszko 
Recebi em 16 de setembro último o press release da Secretaria da Agricultura de São Paulo. 
O título é bombástico, tenho de reconhecer. 
Ficou bem ao gosto da grande mídia sensacionalista, cujo objetivo parece ser apenas o de vender jornal e gerar audiência: 

(Veja parte do release, os negritos são meus)

Título: "ITAL detecta compostos cancerígenos em óleo de soja". "Pesquisa do Instituto de Tecnologia de Alimentos, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (Ital/Apta/SAA), verificou a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) - compostos orgânicos cancerígenos e que podem provocar mudanças no material genético das células - em óleos de soja encontrados no mercado. As análises apontaram a contaminação de todas as amostras coletadas, que pertenciam a diferentes marcas. O ITAL é a única instituição no Brasil a realizar testes de detecção dos HPAs em alimentos”.

O texto esclarecia ainda que "No caso do óleo de soja, os resultados obtidos pela pesquisa - que avaliou 42 amostras coletadas ao longo de um ano - eram esperados. Os HPAs são formados, nesse caso, durante a secagem da soja, pois, no Brasil, ainda se utiliza a secagem pela queima da madeira. Eles se depositam no grão e passam para o óleo bruto. Durante o processamento, ocorre certa diminuição, mas não perde 100%”, diz a coordenadora do trabalho, Mônica Rojo de Camargo. A conscientização e a mudança de postura devem partir da indústria, já que o consumidor não tem como se proteger. Uma das alternativas é substituir o processo de secagem”.

Para complementar a informação havia um detalhe importante: "Os HPAs são gerados na queima incompleta de material orgânico. Essa importante classe de carcinogênicos (compostos cancerígenos) faz parte do dia-a-dia do homem, já que está presente na poluição ambiental e em muitos alimentos e bebidas, tais como hortaliças, carnes, café, chá, óleos e gorduras e grãos. Como conseqüência, sua presença em produtos alimentícios tem sido objeto de preocupação nos últimos anos. Eles oferecem risco à saúde caso sejam inalados, ingeridos ou se houver contato com a pele. Pára o baile! Desejam-se explicações... 

Quer dizer que agora até o óleo de soja está na mira? Sim, está e estará! Sabe por que vai continuar? Porque não tem ninguém pra defender a soja. 
Se houvesse uma associação de produtores de soja, mas representativa dos produtores, haveria uma defesa.

A explicação de toda essa questão feita pelo ITAL, assunto que nem polêmico é, pois está justificado no próprio press release
Lembro aos leitores que apliquei os grifos e coloquei uma cor em cima da própria justificativa dada pela Secretaria da Agricultura. 
Houve exagero da Secretaria da Agricultura? Nem tanto, mas talvez, isso sim, não se tenha dado relevância política, apenas relevância técnica para a notícia, que é espalhafatosa e dramática, até porque a soja deve estar lá pelo 10º lugar no Estado de São Paulo em termos de importância como lavoura plantada. 

Defender interesses técnicos, econômicos e políticos dos produtores de soja seria uma das muitas tarefas de uma associação dos produtores de soja como sugeri nos artigos anteriores (Está tudo errado no agronegócio!), disponíveis aqui neste blog: http://richardjakubaszko.blogspot.com/ 

Enquanto os dirigentes de cooperativas se mantiverem calados – e se fingindo de mortos, pois acham que o assunto não é com eles – a situação vai continuar do jeito que está. A única coisa que podem fazer neste momento, isolada ou coletivamente, é calcular os prejuízos que poderiam advir se houver alguma ação dos consumidores em rejeitar o consumo de óleo de soja por conter os tais compostos carcinogênicos. 

A grande imprensa nem deu bola para o assunto, saiu uma ou outra notinha de rodapé de página, ficou mais como notícia e clipping da grande maioria dos sites ligados ao segmento agropecuário e a um ou outro site ligado aos setores de alimentação. Uma busca no santo Google com as palavras “óleo de soja – carcinogênico – Ital”, me revelou que menos de 30 sites e blogs divulgaram a má notícia, o que já seria motivo para uma associação de produtores de soja vir a público e dar as devidas explicações. 

Não vai ter explicações sobre o problema do óleo de soja porque não tem associação. Mas pergunto: e se fosse algo realmente importante, algo como uma contaminação conforme aconteceu recentemente com o leite e com outros alimentos? O leitor consegue calcular os prejuízos? 

Para fazer uma associação precisa ter união dos produtores, e o caminho é fazer com que as cooperativas o representem, e através das cooperativas se estabeleçam associações, seja de soja ou de milho, para defender os interesses dos produtores, nesses e noutros assuntos relevantes. 
Rezar e reclamar depois do leite derramado sempre dá muito mais prejuízo.
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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Conheça antes o seu cliente

Richard Jakubaszko 
Proposta sensata e coerente que me foi enviada por Antônio Augusto Borges, do Portal Agrolink. 

O vendedor de aspirador de pó
Uma dona de casa, num vilarejo, ao atender as palmas em sua porta...  
- Ó de casa, tô entrando! 
Ela se depara com um homem que vai entrando em sua casa e joga esterco de cavalo em seu tapete da sala. 
Apavorada a mulher pergunta: 
- O senhor está maluco? O que pensa que está fazendo em meu tapete? 
O vendedor, sem deixar a mulher falar, responde: 
- Boa tarde! Eu estou oferecendo ao vivo o meu produto, e eu provo pra senhora que os nossos aspiradores são os melhores e mais eficientes do mercado, tanto que vou fazer um desafio: se eu não limpar este esterco em seu tapete, eu prometo que irei comê-lo! 
A mulher se retirou para a cozinha sem falar nada. 
O vendedor, curioso, perguntou: 
- A senhora vai aonde? Não vai ver a eficiência do meu produto? 
A mulher responde: 
- Vou pegar uma colher, sal e pimenta, e um guardanapo de papel. Também uma cachaça para abrir seu apetite, pois aqui em casa não tem energia elétrica! 
Moral da história: - Conheça o seu cliente antes de oferecer qualquer coisa.

sábado, 13 de setembro de 2008

O parto de uma nação

O parto de uma Nação
por Luis Nassif  
7 de setembro de 2008
(Richard Jakubaszko = meu comentário: Tom Jobim tinha certa razão quando dizia que o Brasil era um país de cabeça para baixo: isso se refletia literalmente em nossas lideranças e, inclusive, em nosso mapa geográfico.

Nos anos de 1960 Tom Jobim voltou ao Brasil após mais uma viagem aos USA, depois de cantar com Frank Sinatra. Acabara de recusar um contrato milionário com um estúdio de Hollywood para fazer 3 ou 4 filmes. 
Questionado, e acusado por amigos de insanidade por recusar tanto dinheiro, que daria uma garantia de vida para ele, filhos e netos, de tanto dinheiro em jogo, Jobim alegou que "os USA era um bom país, mas que era uma merda" porque os gringos se achavam os tais. Ou seja, "o país é bom, mas é uma merda". Retrucaram que por isso não, ele estava voltando para o Brasil que "é um país de merda". Ele reconheceu, "é, o Brasil é um país de merda, mas é bom".

Em resumo, no texto abaixo, postado no blog do jornalista Luis Nassif, temos a constatação de que este país, efetivamente, "é uma merda, mas é bom". 

Resta saber para quem é uma merda e para quem é bom. As elites o fazem assim, e nisto se inclui grande parte da mídia. Custa acreditar que a grande mídia, quase em bloco, saiu em defesa do banqueiro Daniel Dantas. Ou seja, não defende diretamente o banqueiro, suspeito de dezenas de maracutaias e ilegalidades, mas coloca em xeque a idoneidade dos juízes e investigadores responsáveis pelo inquérito instaurado. Tudo pela tentativa de tornar suspeitas as investigações, as escutas (grampos), e, com isso, na linguagem jurídica, "contaminar" o inquérito, anulando-o por completo. Mais uma vez se percebe a tentativa de jogar a sujeira para debaixo do tapete.)
 
Ao artigo do Luis Nassif, cujo link está também abaixo:
 
O parto de uma nação 
É extraordinário o que estamos testemunhando nesses tempos de Satiagraha: é o parto de uma Nação. Haverá ainda muita frustração pela frente, muita sensação de impotência, muito ceticismo se o país conseguirá ser alçado à condição de Nação civilizada. Mas a marcha da história é inevitável. 

Está-se em plena batalha da legalidade contra o crime organizado. Os jovens juízes, procuradores, policiais que ousaram arrostar décadas de promiscuidade estão no jogo. Se eventualmente forem calados agora, a decepção geral será o combustível para a reação de amanhã. O país está submetido a duas forças que caminharam em paralelo mas, agora, começam a colidir. 

Uma delas, a consolidação de valores republicanos – não necessariamente de práticas - como a impessoalidade no trato da coisa pública, a transparência cada vez maior, movimento acelerado pelo advento de novas tecnologias de informação, a reação contra a impunidade. 
Ao mesmo tempo, tem-se um país institucionalmente refém de desequilíbrios enormes. A falta de transparência do ciclo que se esgota abriu espaço para amplos abusos em todos os poderes – Executivo, Legislativo, Judiciário e mídia, grande capital. Criou-se uma enorme Nação de rabo preso em um momento em que a disseminação de valores e de tecnologia definia novos níveis para a transparência. 

Ao mesmo tempo, o mundo (e o Brasil) ingressou em um ciclo de financeirização que permitiu a expansão ampla do crime organizado. Descrevo em detalhes esse processo no meu livro “Os Cabeças de Planilha”. Já tinha descrito esse modelo no meu “O Jornalismo dos anos 90”, no capítulo referente à CPI dos Precatórios. A falta de regulação e controle nos mercados, a existência de paraísos fiscais, a complacência das autoridades reguladoras (e da mídia) criaram uma imensa zona cinzenta onde se misturou a contravenção fiscal com a corrupção política, a simbiose de “figuras notáveis” com o crime organizado. A falta de um regramento adequado e de instituições que combatessem os abusos, permitiu essa promiscuidade ampla. 

Esse é o nó. Agora, as instituições estão aí. Mas há um pesado passivo que não interessa a muitos que venha à tona. O resultado dessa batalha de transição é que definirá os rumos do país: se submetido aos limites da lei; ou do crime organizado.  

Os novos atores Aí entram dois atores. O primeiro, a mídia. Já escrevi várias vezes sobre o tema, e volto a ele. Nesse ambiente promíscuo, parte da mídia passou a se valer da denúncia não como um instrumento de melhoria dos hábitos econômicos e políticos, mas como instrumento seletivo de poder. O esgarçamento dos critérios jornalísticos abriu espaço para os abusos que, agora, chegam a um ponto de alto risco para imagem da mídia. Nesse movimento, papel essencial foi desempenhado pela diretoria de redação da Veja. Graças ao seu amadorismo, conduzindo uma operação de alto risco – os pactos com Daniel Dantas - escancarou um modelo que, em mãos mais hábeis, levaria mais tempo para ser percebido. 

O segundo ator são os órgãos de repressão ao crime organizado, que surgem no início dos anos 90 e se consolidam a partir da gestão Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça. A maior parte do dinheiro do crime organizado transita pelo mercado financeiro, através de operações esquenta-esfria, de doleiros, de esquemas em paraísos fiscais, um universo intrincado que passa ao largo da compreensão do cidadão comum. Tenho muito orgulho em ter contribuído de alguma maneira para preparar esse terreno para o combate ao crime organizado. 

No início dos anos 90 passei análises sobre o mercado financeiro para o juiz Walter Maierovitch, o primeiro brasileiro a estudar seriamente o fenômeno do crime organizado. 
No início de 2003, a convite de Márcio Thomaz Bastos dei uma das duas palestras de abertura do Seminário que ocorreu em Pirinópolis, juntando Ministério Público Federal, Polícia Federal, COAF, Banco Central, Secretaria da Receita Federal. 
Juntei as informações e análises que tinha coletado na cobertura da CPI dos Precatórios e dos esquemas de doleiros – que serviram de base para meu livro. Surpreendi-me ao me dar conta da extensão do trabalho que se propunha, essa integração necessária entre os diversos órgãos, a busca de ferramentas de análise, de equipamentos de monitoração, o entusiasmo dos jovens funcionários públicos e as figuras mais velhas, respeitáveis, de Cláudio Fontelles, Paulo Lacerda e Márcio Thomaz Bastos. Montou-se a organização, preparam-se os funcionários públicos e lhes foi conferida uma missão. E eles passaram a seguir o manual. Institucionalizava-se o combate ao crime organizado. E, institucionalizado, passava a se tornar, também, impessoal. Assim como em nações civilizadas, não havia mais intocáveis a serem preservados. Nesse momento, deu-se o choque com o Brasil velho. 
 
O choque do antigo 
No início havia convivência estreita entre os dois poderes: a nova estrutura de repressão ao crime organizado e a mídia. Houve muitos abusos, sim, invasão de escritórios de advocacia, vazamento de peças do inquérito. É possível que abusos continuem a ser cometidos. 

Mas tudo era suportado, defendido pela mídia, na condição de aliada preferencial, tendo acesso aos “furos” e blindagem contra abusos. A convivência prosseguiu enquanto órgãos de mídia entendiam que a aliança lhes garantia salvo-conduto. Explodiu quando se revelou a extensão da Operação Satiagraha. Aparentemente, a Operação Satiagraha flagrou quatro grupos envolvidos com o crime organizado: advogados, juízes, políticos e jornalistas/empresas jornalísticas. 

O que se pretende, agora? Julga-se ser possível varrer o processo para baixo do tapete? Em plena era da Internet, dos blogs, dos sites, do e-mail, julga-se ser possível passar em branco essa monumental manipulação das informações que se vê agora? 

O jogo está no fim. Daqui para diante será esperneio. Continuarão assassinando reputações, promovendo factóides, manipulando ênfases. É possível que destruam Paulo Lacerda, Protógenes, De Sanctis e todos os que ousarem enfrentar esse tsunami. Mas não conseguirão parar a história. Desse lamaçal, vai emergir uma nova mídia, uma reavaliação na qual os jornais sérios entenderão, em algum momento, que não dá mais para se envolver até o pescoço por uma solidariedade corporativista com os que transigiram. 

E não adianta tentar transformar essa guerra em um Fla x Flu, Lula x oposição, PSDB x PT. Não cola. É uma briga da lei contra o crime organizado. Há que se definir limites para evitar abusos. Mas o que está em jogo é a tentativa de desmonte dessa estrutura. Apostar que serão bem sucedidos, será apostar no atraso, na falta de leis, na manutenção dos abusos da mídia e dos grampos ilegais, no império do crime organizado, na promiscuidade entre poderes. 
É esse o país que vamos entregar para nossos filhos? 
É evidente que não.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Está tudo errado no agronegócio! Parte II - Proposta de soluções

Richard Jakubaszko 
Conforme prometido no artigo anterior proponho neste um caminho para que o produtor rural tenha união através de entidades efetivamente representativas com o objetivo de conquistar solidez e sustentabilidade no seu negócio. 

Conforme solicitado, amigos e leitores enviaram e-mails e propostas, provenientes do Brasil inteiro, algumas publicadas no blog HTTP://richardjakubaszko.blogspot.com ou no Portal Agrolink, e em outros sites e blogs que replicaram o artigo. O que se percebe é que, além da revolta com o atual status quo do produtor, de generalizada desunião, as propostas sugerem apenas caminhos específicos, sem uma visão holística ou sistêmica. 
 
Relembrando
Já sabemos que o produtor rural depende única e exclusivamente da sua cooperativa agrícola regional. Estas são “unidas” apenas via OCB, que representa uma gama enorme de outras cooperativas, de crédito, emprego, consumo, agropecuária, e tem atividades limitadas ao cooperativismo. Isoladas regionalmente as cooperativas agrícolas são impotentes para enfrentar o mercado no jogo perverso em que se transformou a economia globalizada. 
Se pretendermos que o produtor rural vá tomar alguma iniciativa, seja individual ou coletiva, para fazer união com seus pares, vai continuar tudo como sempre assistimos, ao Deus dará. Até porque ele não sabe fazer isso. O produtor rural, como acionista da cooperativa regional, é uma figura em três, uma espécie de ornitorrinco, ou seja, é dono e acionista da cooperativa, mas não manda nem quando está em grupo, especialmente nas cooperativas maiores. 
Segue-se o eterno comportamento plácido e cauteloso da maioria. Como acionista, se a cooperativa não se sai bem no campo financeiro, nomeia-se uma diretoria profissional. Aí começam os problemas para as duas outras pessoas do produtor cooperado e acionista: como cliente e consumidor dos produtos e serviços da cooperativa é chamado a “colaborar”, e como fornecedor é também convocado a ser fiel. 

Recebe menos pelo que vende, e paga a mais pelo que compra
A cooperativa melhora sua situação como empresa, já o produtor piora a sua vida e o seu negócio. Evidentemente que há exceções de cooperativas bem administradas pelos próprios cooperados. Mas nem mesmo essas cooperativas, grandes ou não, conseguem transferir aos produtores as garantias de sustentabilidade e de lucratividade para contrabalançar as agruras climáticas ou mercadológicas. 
Por não fazer parte de seus objetivos as cooperativas abdicam e se esquivam de fazer o principal para o negócio do produtor rural cooperado e da própria cooperativa: que é agregar valor, e de regular o mercado (mas a Cooperativa de Cotia sempre regulou o mercado de batata no Brasil), pelo menos regionalmente, influenciar nos preços, analisar, estudar, entender e prever as tendências do mercado comprador e dos consumidores. 
Em outros campos possíveis de atuação temos ainda a necessidade de avaliar como está a concorrência em outros países, de fazer marketing. Mas aqui nos trópicos se pratica a união à brasileira, de forma superficial, e se planta e se cria do jeito que sempre se fez, contando com a sorte e com os bons humores da natureza e do mercado. E depois se reclama do governo. 
 
Tendências 
Se as cooperativas seguissem uma tendência internacional, que é a de diminuir o número de cooperativas, de somar esforços, seja por fusão ou incorporação, teríamos cooperativas estaduais e nacionais efetivamente representativas do produtor rural, e não em caráter regional e até municipal como temos hoje em dia. 
O que predomina é o produtor rural líder de cooperativa que é cabeça de rato quando poderia ser um poderoso e eficiente rabo de elefante se houvessem cooperativas nacionais. Cada cooperativa 'nacional', de soja, milho, arroz, feijão, batata, deveria, em meu modo de entender a questão, praticar e fazer as questões acima como prioridade da sua atividade, sendo o comprar a produção, estocar, beneficiar ou pré-beneficiar os produtos dos cooperados, uma atividade secundária adicional, assim como intermediar a venda de insumos. Foi dessa forma que nasceram no passado as grandes empresas da área alimentícia mundo afora e que lideram o mercado mundial hoje em dia. Foi assim que nasceu a Batavo, lá no Paraná, para agregar valor à produção dos cooperados. 

O que fazer?
Dada a impossibilidade prática de se criar uma 'cooperativa nacional', conforme já proposto anteriormente no livro Marketing da Terra, tenho a sugerir desta feita a criação de associações nacionais específicas para cada cultura importante. 
Crie-se uma associação nacional da soja e outra do milho, para lutar e defender pelos direitos do produtor, para desenvolver oportunidades técnicas, políticas, e, principalmente, econômicas e mercadológicas. Sem dependência e filiação do governo, pelo amor de Deus! Tenho a certeza de que não há necessidade de paternalismos e politicalhas, como diz um amigo “não espere que o Governo faça algo pelo seu setor.... faça você mesmo". 
Estabeleça-se um critério proporcional de contribuições fácil de ser controlado e arrecadado, algo como R$ por tonelada, e pau na máquina! 
Para exercer atividades políticas existem inúmeras entidades, entre as quais CNA, SNA, SRB, além das federações estaduais. Juntas ou isoladamente quase nada conseguem resolver, até porque representam uma enorme pluralidade de interesses, difíceis de serem compatibilizados. Os mais apressadinhos poderão dizer que já existem a APROSOJA e a ABRAMILHO, e ainda a ABAPA (algodão) e também a ABBA (batata). Sim, existem, mas são regionais, inclusive a UNICA. 
Entretanto, por ser associação já representativa dos associados, e por não ter vínculos ou dependência com o governo, a UNICA vem tendo uma projeção nacional e até mesmo internacional na postulação e defesa dos interesses dos associados. Não esqueçamos que os associados da UNICA são usineiros, são da agroindústria, e são poucos, mas dão o bom exemplo aos produtores rurais: união. As outras associações mendigam associadas, não conseguem recursos e não têm representatividade. 
 
Como fazer? 
Simples: união através das cooperativas (como representantes dos produtores) através de uma associação verdadeiramente nacional. Que se dê caráter nacional para a APROSOJA E ABRAMILHO, por exemplo. Isso ocorreria a partir do momento em que as principais cooperativas regionais se juntassem à APROSOJA e à ABRAMILHO, atualizando e reformando seus estatutos e objetivos se isso for necessário, elegendo um conselho de direção, mas profissionalizando (terceirizando) toda a diretoria executiva dessas associações, incorporando e contratando uma gama de profissionais especialistas para tratar de cada área de interesse da atividade. A começar por um Centro de Inteligência (com informação exclusiva para os sócios), e ainda para fazer investimentos em campanhas de marketing, em ações institucionais e políticas, de assessoria ou reivindicatórias, principalmente ao governo, na política agrícola, tarifas de impostos, armazenagem, logística, transporte, política internacional, sanidade, exportação etc. 
É vital a existência de uma associação profissional para orientar a política externa do Governo Federal, ainda mais nesse momento em que nos preparamos para assumir a relevância que sempre sonhamos de ser o país do futuro, o celeiro do planeta. 
Há ainda que se investir e desenvolver novos consumidores e novos mercados de consumo. Tudo para agregar valor aos produtos da terra. A referida associação deveria ter ainda como encargo estudar, analisar e sugerir ações regionais para as cooperativas de como agregar valor aos produtos dos cooperados seja beneficiamento do produto primário, seja para evitar exportação de produtos in natura, seja para importação de alguns insumos. O suporte financeiro para fazer tudo isso aparece de forma rápida se houver a união das principais cooperativas em torno de objetivos bem claros e definidos. 

Se as diretorias da APROSOJA ou da ABRAMILHO não tiverem interesse ou possibilidade de nacionalizar suas associações, de incorporar as cooperativas nas suas diretorias, pois já estão estabelecidas, que as cooperativas instituam novas associações em paralelo, mas que sejam nacionais. 
Por exemplo, a ASSOSOJA e a ASSOMILHO, ou qualquer nome que venham a criar, com presença dos sócios nos conselhos de administração, no caso as cooperativas. E que se nomeiem diretorias executivas, com vínculos empregatícios, profissionais, com missões pré-determinadas. Poderão até mesmo ter atividades políticas, mas ao primeiro sinal de que estariam agindo em proveito próprio, para lustrar vaidades, para plantar e conquistar cargos públicos, substituição imediata. Atrevo-me a sugerir que nenhum diretor ou presidente de cooperativa associada tenha cargo de diretoria executiva na associação nacional. 
Deveria haver uma diretoria técnica e eminentemente profissional, de quem se cobraria resultados face aos objetivos propostos. 
Estou à disposição dos dirigentes cooperativistas para debater o problema a fundo, se necessário. Acredito ainda que não haja necessidade de fazer como nossos hermanos argentinos, ir à greve ou fazer panelaços, mas apenas organizar a extrema bagunça instalada do cada um por si e ninguém por todos. Até porque, para fazer greve também precisa de organização e de lideranças. 

Não é possível continuar no ritmo que estamos, sempre aos trancos e barrancos, safra boa e safra ruim, ano após ano. Caro leitor, se você é produtor rural e cooperado, encaminhe este artigo até o presidente de sua cooperativa e cobre por união em seu nome. Mas deixe aí embaixo sua mensagem, seu comentário de aprovação ou desaprovação dessa proposta. Se os gringos fazem tudo com união, nós também podemos fazer. Igual, ou até mesmo muito melhor.
PS. Se você deseja postar um comentário sobre este artigo, há 3 alternativas:
1 - se tiver "gmail" clique em "comentários". Depois que abrir a janela faça seu comentário e aí coloque seu end. de e-mail no espaço logo abaixo, depois sua senha, assim receberei um e-mail direto aqui no Google e publico o texto.
2 - se não tiver gmail pode despachar um comentário como se fosse "anônimo", mas não deixe de registrar seu nome e cidade, no mínimo, caso contrário não publicarei comentários como "anônimo". Lamento, mas é uma norma que adotei para evitar comentários inapropriados ou sem saber de quem enviou.
3 - mande um e-mail para meu end. no Yahoo, que é:
( richardassociadosARROBAyahoo.com.br ) que está citado na aba lateral deste blog, no rodapé dos textos sobre os livros.
Agradeço a compreensão, é que tenho recebido muitas reclamações de leitores com dificuldades para postar comentários, e não se trata de má vontade minha, mas de inadequação do Google que impõe regras que considero absurdas, como a de ter um end. "gmail" para não ser um "anônimo".