quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

IPCC: e se os cientistas estiverem enganados?

Richard Jakubaszko 

Foi com esse questionamento que redigi a matéria de capa na revista DBO Agrotecnologia, edição 11, que circula a partir dessa semana, e também sobre a instigante entrevista em profundidade realizada com o engenheiro agrônomo e doutor Odo Primavesi, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste – São Carlos, SP. 
A questão em si tem inúmeros desdobramentos e a história nos ensina que é evidente que cientistas se enganam. Como registrei na abertura da referida matéria a ciência trabalha com certezas, e em cima dessas certezas constrói novas hipóteses para chegar a outras certezas, e assim enriquece o saber humano. O que não deve ocorrer é a construção de certezas em cima de hipóteses, pois o castelo desmorona por falta de base sólida.

É o que parece acontecer com o IPCC, sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, que anunciou em maio último o início do fim do mundo para dentro breve.

A lógica de raciocínio do relatório do IPCC é límpida e cristalina: devido ao mau uso – e consumo perdulário – do planeta a humanidade está a perigo de ir para o vinagre a qualquer momento. Não iríamos para o brejo, o que seria bem melhor, isto porque deve faltar água para formar brejos. Tudo por culpa dos gases de efeito estufa, os GEE, que esquentam o planeta, segundo o IPCC, vão derreter as calotas polares, aí os mares vão "transbordar" e invadir os continentes, e a agricultura vai ficar delimitada a algumas regiões do planeta, migrando para outras terras, assim como milhões de pessoas terão de escapulir para outras regiões à procura de alimento, água e de menos calor. 
Com essa antevisão do apocalipse o IPCC recomenda a redução drástica e urgente da emissão de GEE, entre eles o já popular CO2, o gás carbônico, vomitado pelas chaminés das fábricas, escapamentos de veículos, queimadas, e outras ações tresloucadas do bicho homem.

Todavia, a peleja não é tão simples. Se os cientistas estiverem enganados não vai adiantar nada essa tentativa de redução de GEE. 
Verifica-se que muitos cientistas, alguns governos e batalhões de gente no planeta não acreditam numa única palavra do relatório do IPCC. Por não acreditarem não mudou nada no comportamento. Tem até gente que compra indulgência e paga para plantar árvores, mas é muito pouco ou quase nada perto do que deve ser feito. 

Primavesi é um dos 17 cientistas brasileiros relatores e revisores do relatório do IPCC. Assinou o relatório, concordou com as previsões, mas tem opinião contrária quanto às causas apontadas. Primavesi sabe muito do que fala. A tese do contraditório, de sua autoria, tema sobre a qual fiz a entrevista publicada na DBO Agrotecnologia, está sendo desenvolvida há dois anos, e afirma de forma categórica que o aquecimento do planeta é gerado pela ação do sol que incide nos solos degradados e desprotegidos em regiões semi-áridas, áridas e desérticas, e, aí sim, o calor em excesso, o calor refletido, que antes escapava para o espaço, agora é obstruído e contido pelo aumento da concentração dos GEE na atmosfera. 

Nesse caso os GEE funcionam como um cobertor para quem já está com calor. As fotos dos satélites da NASA / NOA / INPE, e de satélites australianos, que ilustram a matéria da DBO Agrotecnologia, mostram os níveis de calor no solo em diversas regiões do planeta, algumas atingem mais de 300 W de calor por m². A conversão explica que existem áreas com temperaturas de mais de 50 graus centígrados no ar acima do solo, e de até 70 graus na superfície do solo. 
Para quem sabe que as raízes das plantas não absorvem água e nutrientes com temperatura igual ou maior do que 33 graus Celsius, pois elas murcham e param de fazer a fotossíntese, fica fácil dimensionar o tamanho da encrenca e de entender a profundidade e importância da tese de Primavesi. 

Primavesi tem ideias claras, conforme registrei na matéria: "a natureza tem normas rígidas, e se estas não são seguidas levam à morte imediata ou lenta do ser humano. O mais inteligente não é subjugar a natureza às nossas tecnologias, mas aliar nossas tecnologias às normas ambientais, como os princípios ecológicos, garantindo e reforçando seus processos naturais, o que vai resultar em elevada eficácia dos insumos utilizados".  

Causas das mudanças 
O 'ponto de não retorno', o antes do pré-apocalipse pode estar muito mais próximo do que imaginamos. Há cientistas que colocam prazo: de 6 a 10 anos para começar a acontecer. Não é pessimismo, mas não dá para brincar com isso. 

Primavesi argumenta: "nas regiões tropicais, onde a temperatura em geral é mais elevada, os processos biológicos, entre eles a decomposição de matéria orgânica no solo, que resultam em liberação de gás carbônico, ocorrem em velocidade de cinco a dez vezes superior em condições normais, e até 50 vezes mais rápido em condições extremas, do que nas regiões de clima temperado. 
Reduções estatisticamente significativas no teor de matéria orgânica de solos agrícolas sob manejo convencional ocorrem no período de 50 anos na Áustria, por exemplo, e em até um ano no Brasil". 

É isso, os gringos entendem de clima temperado e não têm a menor noção do que é que acontece aqui nos trópicos. Para quem deseja aprofundar conhecimentos dessa teoria é recomendável uma leitura da matéria de capa da DBO Agrotecnologia, aqui neste espaço não há como mostrar essa riqueza de detalhes, a começar pelas imagens. 

Isto pode ser feito no site da revista www.dboagrotecnologia.com.br e se desejar pode fazer uma assinatura, que é gratuita para agricultores, agrônomos e técnicos. 
Para complementar o tema tem outra matéria sobre meio ambiente e aquecimento, onde há outro questionamento interessante, se "O agronegócio é culpado ou inocente?". 

Na mesma edição, matérias sobre "Boas práticas agrícolas", texto do próprio Primavesi, que tem propostas concretas para resolver a questão do aquecimento, entre elas fazer plantio direto até em pomares e reflorestar os oceanos de lavouras – e ainda nas urbes – nem que seja com árvores de plástico. 

Afora tudo isso tem uma deliciosa crônica do ruralista de quinta geração, o filósofo Luiz Suplicy Hafers, sobre café sombreado, que remonta às origens da Etiópia para mostrar que os antigos tinham tecnologia e razão. 
A revista é sobre agrotecnologia, mas isto não quer dizer que boas tecnologias não possam ser antigas e eficientes. 

De outro lado, a razão dessa crônica é lembrar o óbvio: existem cabeças que pensam diferente de outras, e isso é uma das maravilhas da vida, entretanto, para que nos livremos do vinagre, vamos ter que agir em conjunto, num mesmo sentido e com igual objetivo. Se alguém aqui não entendeu a importância da questão do engano dos cientistas explico melhor: é que antes da teoria do Primavesi a gente só poderia resolver o problema do aquecimento global assoprando muito, pra ver se conseguiríamos refrescar e dispersar os gases CO2, mas agora vai dar para abanar também, e só isso já é uma boa alternativa pra aliviar os beiços, além de mitigar a ameaça de fritura que já apontou lá no fim do túnel.
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Sinais do fim do mundo? As abelhas estão indo embora...

Richard Jakubaszko 
A notícia estava em página interna da Gazeta Mercantil da última sexta-feira, 30 março, em míseras duas colunas, com 7 cm de altura, e anunciava que "enxames de abelhas sumiram sem deixar rastro", no Illinois, USA. 
Embora especializado em agronegócio sou quase neófito em abelhas. Porém, a especialização em agricultura fez com que a displicente e "insignificante" notícia estampada num jornal de negócios me deixasse senão horrorizado, pelo menos de cabelos em pé, isto é, quase a mesma coisa. 
A ciência tem como fato que sem abelhas não há agricultura e, portanto, sem elas não há alimentos. Esse laborioso inseto, ao qual os urbanos ficam histéricos só pelo fato do mesmo sobrevoar por perto, poderia ser chamado de "operário de Deus", pois é incansável na polinização das plantas, e sem a qual estas não produziriam alimentos e tampouco se reproduziriam. Existem outros insetos e até mesmo pássaros polinizadores, mas a abelha é, de longe, o mais difundido e mais importante. 
Nenhum outro grande jornal deu a notícia, afora o Estadão, e a Gazeta do Povo, do Paraná. Estes se limitaram a registrar os despachos das Agências EFE e Bloomberg News, onde constava o estupor e incredulidade de especialistas e apicultores, que informavam não ter explicações para o estranho fenômeno. As abelhas foram embora e largaram a rainha, conforme as notícias, e não deixaram pistas. 
Diante da insuficiência de dados nos jornais pesquisei na Internet, e esta mostrou as razões de seu sucesso diante da mídia impressa. Lá existem indicações de que o dito fenômeno não está restrito a Illinois, mas ocorreu em outros estados americanos, e foi observado também em algumas regiões da Alemanha. 
Êpa! Nenhum jornalista atentou para o importante fato? Será que desconhecem a importância das abelhas? Ou foi mais uma barriga imperdoável? Barriga, no jargão jornalístico, é a omissão de notícia ou fato importante., e também a notícia publicada de forma errada. Desconheço o coletivo de barriga. 

Antecedentes 
 Não satisfeito com o encontrado na Internet entrevistei por telefone Paulo Cezar Brosmann, apicultor em Goiânia, e que há 27 anos atrás concluiu um doutoramento em apicultura na Alemanha. Confirmou que o fenômeno é, efetivamente, raríssimo, mas há antecedentes. Um fato recente na história ocorreu em Chernobyl, quando vazou radioatividade naquela usina nuclear. Horas antes de a tragédia ser constatada os sensores das abelhas detectaram o problema. Em algumas colméias as abelhas fecharam-se e morreram sufocadas. Em outras abandonaram rapidamente o local sem deixar pistas. 
Existem muitas possíveis explicações para os sumiços coletivos das abelhas, como uso de agrotóxicos fortíssimos, presença de ácaros ou formigas em grande quantidade, ou ainda inusitados e raros fenômenos da natureza, como enxames de gafanhotos ou besouros, mas seriam causas localizadas, não teriam se reproduzido repetitivamente em todo o estado de Illinois. 
Na Internet, demonstrando que falta credibilidade no que se registra em seus milhões de sites e blogs, já há sugestões e até mesmo acusações explícitas e irresponsáveis, de que os transgênicos seriam os responsáveis pelos sumiços dos enxames de abelhas, em especial o milho Bt, que tem propriedades inseticidas. 
Como alguns internautas, especialmente em sites ambientalistas, "navegam e surfam na maionese", aparecem outras explicações de que seria, por exemplo, o uso excessivo de telefones celulares que estaria provocando o desaparecimento das abelhas. Argumentam que os celulares promovem desorientação sensorial nas abelhas, fazem com que "percam o rumo de casa", e assim dispersam-se. Explicação plausível, mas isso não iria ocorrer só com as abelhas de Illinois e da Alemanha, até porque se calcula em centenas de colméias a debandada das abelhas. 
As causas devem ser outras, com certeza. Estes fenômenos se mostram localizados e restritos, ou específicos, mas podem se alastrar. Não é o caso, aqui neste espaço, de se assumir uma postura catastrofista, ou mesmo alarmista, síndromes que fazem parte do sangue e do DNA de jornalistas, mas que a notícia merecia destaque maior merecia, e uma investigação mais profunda, fosse pela Internet ou entrevistando algum especialista. Não apenas os leitores, mas as abelhas mereceriam essa atenção. 
Não se conhecem as causas, é fato, mas de toda forma é um sinal da natureza ao qual a grande mídia não deu a mínima importância, sonegando uma informação que já preocupa até mesmo o Congresso Americano, conforme registros nas próprias notinhas publicadas, reproduzidas quase fielmente, o que já demonstra certa preguiça profissional. 
Ora, se não tiver abelha não vai haver polinização, e vamos ter de viver de plantas que não tenham polinização. Seria previdente a ciência começar a fazer as contas. 
Considerando que a Amazônia é neutra na captação de carbono e emissão de oxigênio, porque são árvores maduras, e dessa forma ela não é o pulmão do mundo como se apregoa, significa dizer que boa parte do saldo positivo da fotossíntese é feito por plantas jovens, no caso as lavouras comerciais de soja, cana, milho, algodão, pastagens etc. 
Assim, estamos mal arranjados meus amigos... 
Um desequilíbrio desses acelera a bancarrota de forma irremediável de boa parte do planeta. Espero que seja problema localizado no Illinois, ou só do poderoso USA. Assim eles começam a acreditar na merreca que se está fazendo do planeta, eles à frente. 
A julgar pelas palavras de Albert Einstein, ditas há mais de 60 anos atrás, "olhem as abelhas, se elas sumirem a humanidade tem um máximo de quatro anos de sobrevida, pois não haverá plantas e nem animais, a polinização é a grande responsável pela produção de alimentos". 
Se a grande mídia considera não importante o sumiço de 25% dos enxames de abelhas de Illinois, e não informa que idêntico fato ocorreu em outros estados americanos, e ainda em regiões da Alemanha, isto não quer dizer que não seja importante, e nem que não tenha acontecido também em outros apiários, mundo afora. Não são apenas os apicultores donos das colméias de abelhas fujonas que estão estarrecidos, ou os especialistas, eu que escrevi, e provavelmente você que acabou de ler esse texto, também estamos incrédulos com a grande mídia. 
Bom, e preocupados para saber a causa da diáspora das abelhas, porque aí tem coisa, e não é um bom sinal. Seria prudente ficar de olhos abertos.

Agrônomo espertinho

Richard Jakubaszko 
Tem gente que por falar demais arruma muitas encrencas, e tem gente que por falar de menos faz bons negócios. 
Essa é uma história da qual acabei, indiretamente, participando como espectador, lá nos idos dos anos 80, e registrei esse fato no livro “Marketing Rural – Como se comunicar com o homem que fala com Deus” pelo exemplo emblemático de um tipo de decisão de consumo (emocional) tomada por um agricultor. 
Havia um agrônomo, lamentavelmente já falecido, que era especialista em pulverização de agrotóxicos. Trabalhava numa multinacional de defensivos, que hoje nem existe mais, e dava assistência a grandes clientes nas pulverizações, principalmente em casos de pulverizações aéreas. 
Era um profissional dedicado, competente, e um perfeccionista de mão cheia, além de inteligente e honesto. Bom, pelo menos não era exatamente desonesto, o que já seria uma brutal diferença entre uma coisa e outra. 
Por volta de 1982, época em que os tempos da economia estavam numa recessão brava, esse agrônomo perdeu o emprego na multinacional. Pegou o dinheiro do FGTS e as economias e comprou um avião Ipanema usado. Montou no norte do Paraná uma empresa de aplicação de defensivos, e começou a ganhar dinheiro. Era o único, e prosperou rápido. Logo, mais dois aviões estavam incorporados ao que já era quase uma frota de 3 exuberantes aeronaves. Até que, em 1987, reencontrei o agrônomo, ainda dono da companhia agrícola de aviação. Conversa vai e conversa vem, a situação naquele momento estava péssima. Tinha o financiamento dos aviões para pagar e nenhum agricultor passando perto da porta da empresa dele. E nenhuma perspectiva, afinal, estava-se em plena ressaca do Plano Cruzado. 

O que ele fez? Coisa de gênio do “marketing rural” e do “jeitinho brasileiro”, segundo as más línguas. Dava uns vôos em áreas periféricas próximas a determinadas propriedades. No dia seguinte, num movimento que começava de manhãzinha, recebia a visita de dez ou doze agricultores, todos curiosos, preocupados, alguns muito falantes, querendo saber o que é que ele estava aplicando, e o agrônomo quieto, só ouvia, não dava explicações. 
Se o agricultor insistisse muito ele só dizia que estava dando uns vôos em áreas pequenas. Um dos visitantes falantes comentava que um dos donos daquelas propriedades parece que tinha visto umas lagartas novas na lavoura da soja ou do milho. 
E o agrônomo quieto, não confirmava e nem desmentia. Após uma conversa rápida, que faria inveja a muito camelô, ficava marcado para o dia seguinte a aplicação de algum veneno, pois “afinal, os bicho tavam mesmo demorando a chegar, mas se eles já estavam na vizinhança, mais dia menos dia iriam chegar, e era bom prevenir....”.
Bom, os aviões tinham de voar e o nosso amigo da história tinha de pagar as suas contas. Não se fazia de rogado, agendava o trabalho, dava orçamento e até recebia adiantado. 
Na conversa que tive com ele, em que me contou os fatos, ria matreiro, e complementava “não vendi nada, eu ficava quieto, eles que vinham, falavam, falavam, e mandavam pulverizar...”. 
É óbvio que essa “descoberta” foi casual, e aconteceu depois de um dos vôos de exercício e manutenção das aeronaves. Na ausência de trabalho para os aviões os mesmos tinham que voar de qualquer jeito, não podiam ficar parados para não enferrujar, e assim acabavam gastando combustível e tempo hora dos pilotos, gerando mais despesas para a empresa. Enchia-se o tanque de combustível dos aviões, e também os tanques dos locais reservados para os agroquímicos, nesses casos simplesmente com água, e lá iam os aviões “trabalhar” e fazer sua manutenção. 
Como os pilotos agrícolas gostam de “viver perigosamente”, e nessa profissão de doido que é ser piloto agrícola, que mais parece suicida alegre, o que não falta é maluco, eles simulavam pulverizações reais, davam rasantes e ficavam voando a 3 metros de altura sobre a lavoura... 
O que não era casual era a curiosidade e a ingenuidade dos agricultores vizinhos...
A empresa de aviação agrícola, não precisa nem dizer, voltou a exibir um pujante e maravilhoso incremento nos seus negócios. Tudo porque o dono não era desonesto, mas ficou esperto sem querer e sem planejar, e ainda por cima porque falava pouco... 

A crônica acima foi extraída e adaptada do livro “Marketing Rural – Como se comunicar com o homem que fala com Deus”, de autoria do jornalista e publicitário Richard Jakubaszko. Este livro foi reeditado, em 2ª edição, 2006, pela Editora UFV, da Universidade Federal de Viçosa – MG.

Você já viu ministro da agricultura correr de trator? Eu vi.

Richard Jakubaszko
Foi assim: nos idos de 1976 eu trabalhava na assessoria de imprensa e relações públicas da Valmet Tratores, hoje Valtra, do Grupo AGCO. Preparamos durante meses o lançamento do trator florestal, intimamente conhecido como florestão. 
Tivemos muitas idéias para promover o lançamento, e de especial mesmo criamos um evento a se realizar na fábrica, com presença de altas autoridades, afinal o inédito equipamento merecia, tinha na genética a tecnologia Valmet Oy, finlandesa líder mundial no segmento. 
Preparamos a lista dos convidados com ministros, jornalistas, congressistas, fornecedores, clientes, revendas, o clero. Estávamos em outubro, e a data marcada, por coincidência, coincidiu com o Salão do Automóvel daquele ano, que seria inaugurado pelo presidente Ernesto Geisel. 
Tentamos incluir o presidente, já que estaria em São Paulo, e despachamos convite via telex, porque não existia internet nem fax naquela época. Se ele viesse, a festa estaria garantidíssima. Como o alemão era gente positiva, e não fazia nhém-nhém-nhém, no dia seguinte veio o aviso de que não seria possível, por compromissos de agenda. 
O ministro da agricultura de Geisel, o competente engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli confirmou de bate pronto o convite por telex ao presidente da Valmet, na ocasião o Professor Hugo de Almeida Leme, ex-ministro da agricultura de Castelo Branco. 
Por telefone combinamos com a assessoria detalhes da visita, horários, translado do ministro por helicóptero, do aeroporto de Congonhas até a fábrica em Mogi das Cruzes, e depois escala ao Parque Anhembi quando Paolinelli se juntaria à comitiva presidencial. 
Os problemas começaram no dia do evento, quando veio um telefonema do Palácio dos Bandeirantes, que emprestara o helicóptero. Queriam as coordenadas de vôo. Passamos longitude, latitude etc. Mas tinha de ter uma biruta. Você não sabe o que é isso? Pois biruta é aquele saco de ar, super comprido, que parece um enorme saco de coar café, que fica pendurado em mastro bem alto, para dar a direção do vento aos pilotos das aeronaves. 
Como não tínhamos a biruta, e o vôo se daria dali a poucos minutos, pois o piloto estava saindo para ir a Congonhas, ele deu instruções técnicas detalhadas: "fixem no chão um mastro com barra de ferro, na altura de pelo menos 6 metros de altura, e lá em cima colem com fita adesiva uns 2 a 3 metros de papel higiênico, pra ficar balançando". 
Fizemos conforme solicitado, e resolveu. A inusitada cena do higiênico papel tremulando ao vento mogiano causou muito ti-ti-ti, durante e depois do evento... 
Outro pedido incomum: "façam um círculo no chão, com tinta branca, de 5 metros de raio, com risco de 30 cm de largura, e uma cruz vermelha bem no meio do círculo". Perguntei brincando se podia ser um "x". Podia, para o piloto lá em cima era tudo igual, fosse cruz ou "x". 
O helicóptero aterrissou perfeito no círculo de tinta fresca cerca de 1 hora depois, com direito a parabéns do piloto e comandante, pela rapidez e eficiência. 
E a visita de Paolinelli, comitiva, e mais de 150 convidados, transcorreu conforme planejado. Mas a Lei de Murphy existe mesmo. Tínhamos vencido o primeiro round, mas faltava o resto. E Murphy por perto... (a Lei de Murphy é assim: se algo pode dar errado, então vai dar errado!). 
Depois de percorrer a linha de montagem os visitantes foram concentrados no pátio da fábrica, que era ladeado por um gramado plantado em um enorme barranco, tinha uns 5 a 6 metros de altura, com declividade de uns 25 a 27 graus, era íngreme mesmo. Ali no pátio se daria o grande momento do evento, o clímax. 
Para demonstrar a capacidade do trator florestal da Valmet de trabalhar em áreas acidentadas, o que é típico das áreas florestais, mesmo carregado de toras de madeira na carroceria, planejamos o florestão descer pelo fofo gramado do tal do barrancão. Quando estávamos no meio do pátio, o tratorista lá em cima do barranco foi avisado, ligou o motor, que mais parecia motor de avião a jato, pelo que me lembro eram 450 cv no motor, e ainda tinha o peso do "donzelo", mais de 15 toneladas, sem contar as 30 toneladas de toras de madeira na caçamba. 
Quando aquele monstrengo de quase 4 metros de altura (o florestão, gente!) apontou lá em cima, e se tornou visível a todos nós que estávamos bem embaixo, e o "bichão" começou a descer, um barulhão ensurdecedor, primeiro todo mundo congelou. Aí, o trator deslizou de lado uns 2 metros na grama fofa, com toda a sutileza e suavidade de seu peso e tamanho. 
O motorista deu uma acelerada na rotação do motor, para provar que estava no controle e dono da situação, e reiniciou sua firme descida com plena segurança, mas lá embaixo a assistência havia descongelado: todo mundo disparou a correr, uma corrida civilizada é claro, eu primeiro, o ministro junto, e todos os convidados também, sai da frente, sô! O Professor Hugo Leme ficou para trás, já estava com certa idade, mas moveu-se com agilidade, repentinamente entusiasmado e adepto de esportes velocistas. Como foi tudo surpresa, não houve tempo para ensaio, os fotógrafos contratados pela Valmet, e também fotógrafos da imprensa tinham corrido, ou melhor, descongelado também. 
O florestão desceu são e salvo, ninguém se feriu, foi só um susto, nada demais. Lamentavelmente não houve uma única foto para registrar a brilhante demonstração. Foi assim que vi um ministro da agricultura correr de um trator. Na verdade nem isso eu vi, quando o florestão derrapou na grama bem em cima da minha cabeça, corri na frente de todos, caso contrário, me ocorreu hoje, eu talvez não pudesse contar essa história, 30 anos depois. 
Entretanto, tenho de admitir com honestidade que eu saí na frente, talvez tenha provocado o "estouro da boiada", mas o ministro chegou primeiro ao lugar que conseguimos avaliar como "área de segurança", alguns metros à frente, até porque ninguém se atreveu a olhar para trás e esperar para saber se estava a salvo mesmo. Simplesmente corremos o necessário, mas naquele momento, que o susto foi grande, isso foi. 
Até hoje eu me lembro. O Murphy tinha deixado a sua marca. Lembrei dessa história a propósito da merecida homenagem feita ao Allyson Paolinelli e ao Edson Lobato, da Embrapa, que ganharam o World Food Prize, que pela primeira vez saiu para o Brasil, vide www.worldfoodprize.org uma espécie de "prêmio Nobel da Agricultura", como definiu o agrônomo Fernando Penteado Cardoso, presidente da Fundação Agrisus. O World Food Prize foi inspirado por Norman Borlaug (Prêmio Nobel da Paz) e instituído pelas Indústrias Kemin, dos USA, e premiou o extraordinário trabalho de conquista do cerrado brasileiro, em parte feito por esses dois gigantes do agronegócio. 
Antes tarde do que nunca. 
Parabéns, amigos!

A Igreja Católica não é criminosa

Richard Jakubaszko 
Discordo da opinião de que a Igreja Católica é criminosa ao inibir as ações de políticos e do governo em distribuir preservativos nos sertões do Brasil, e de que essa posição seria a principal causa do avanço da AIDS. 
Não distribuem porque não dá voto, assim como esgoto não dá voto. Discordo, porque a disseminação da AIDS não é no sertão ou nos interiores do Brasil, está nas grandes cidades e, principalmente, nas turísticas e portuárias. Nas pequenas o moralismo é evidente, funciona como freio moderador para atos não sintonizados com o que a sociedade pensa, e onde todo mundo se conhece.
Nas grandes a juventude é livre – na condição de anônima - e pratica o que acha que pode, seja sexo ou drogas. 
Lamentavelmente a AIDS avança silenciosamente no Brasil em todas as classes sociais e econômicas, dissimulada por falsas estatísticas que indicam sua involução, em especial doentes das classes C e D, acobertadas por médicos coniventes que mascaram diagnósticos. O modismo da elite intelectual brasileira de responsabilizar a Igreja pelo descontrole e avanço da AIDS incomoda-me como católico porque é mais uma hipocrisia brasileira, como tantas que grassam pelo país. 
Apesar da Igreja pactuar o sexo apenas no casamento – e para procriação da espécie – isso não foi obedecido. Então, o que se pretende agora? Que a Igreja contrarie e ignore o dogma milenar e recomende o preservativo? Adiantaria? Se os "fiéis" não praticaram o preceito antes, porque o fariam agora? Nem alguns padres usaram os preservativos, e estão com AIDS. Os cônjuges que traem jamais vão usar em casa, seria admitir culpa. 
Ora, meus amigos de opinião contrária, saiam desse modismo e mudem de opinião. Não me envergonho de mudar de opinião, porque penso. Então, raciocinem comigo. Pedir que a Igreja Católica recomende o uso de camisinhas é um paradoxo e uma quimera, assim como pedir ao Ministro da Justiça que – ante a antiga legislação permissiva para armas de fogo – autorizasse usar silenciador para não incomodar o vizinho. O mesmo da recomendação malufiana: estupra, mas não mata! 
O problema da AIDS está na matriz cultural do povo: macho não usa camisinha; macho come todas e dá 3 ou 4 por dia; usar camisinha é como chupar bala com papel; virgindade dá câncer; e a pior, quem passa AIDS é bicha, mulher não, porque tem vagina lubrificada etc. O avanço da AIDS só vai perder velocidade se o governo encarar o problema de frente: escola para todas as crianças – com educação sexual. 
Em paralelo façamos campanhas realistas e agressivas, e não à base de desenho animado, ou com artistas globais e simpáticos, e apenas durante o Carnaval, hipócritas campanhas lights. 
Tem de dizer que cada transa com parceiro novo é 50% de chance de pegar AIDS, porque o outro tem ou não tem o vírus. Na segunda transa mais 50% de chance, o que eleva a chance para 75%, e na terceira vez o sujeito está com 87,5% de chances de ter contraído AIDS. O risco é progressivo. 
Quem sobe num avião com 50% de chances dele cair? 
O paradigma implícito de que felicidade e sucesso está no sexo - apregoado na TV, cinema, nas revistas, deve ser repensado. Sexo quase explícito na novela das 8 faz mais pelo avanço da AIDS – como incentivo à prática – do que discurso de padre recomendando uso de camisinha para deter a epidemia. 
Isso me lembra a história do marido que levou a esposa ao zoológico e mandou-a mostrar pernas e seios para o orangotango na jaula. Depois de alguns safanões o macacão derrubou a porta e avançou para a mulher enquanto o marido avisava: agora diz rápido prá ele que tá com enxaqueca, diz que tá com dor de cabeça, diz... 

Não vi nenhum padre proibir preservativo, no púlpito ou na TV. É fácil incentivar o jovem – que é inseguro – e excitá-lo, e depois culpar a Igreja porque não recomenda a camisinha. Não estou sugerindo que voltemos à era vitoriana, mas lembremos o que ocorreu como conseqüência da epidemia de sífilis, também fatal naquela época. Houve uma mudança de paradigma no comportamento da sociedade para deter o avanço da epidemia. 
Não culpem a Igreja de proibir o uso – ela não proíbe explicitamente, nem adiantaria, apenas não incentiva o uso. 
A ação e a postura da mídia, ao lado das indústrias do lazer e da moda, de estimular sedução, é a principal incentivadora da epidemia – junto com os hormônios próprios da idade. Não há diretor de filme ou novela que não tenha sua concepção individual e imperiosa necessidade de mostrar no mínimo uma cena caliente de sexo (acho estranho isso...). 
Guardo em meu mais profundo íntimo uma plena identificação na contestação de inúmeros hábitos e tradições da sociedade humana, a exemplo da personagem Emília dos livros de Monteiro Lobato, onde aprendi minhas primeiras letras. 
Em paralelo, até por uma questão de caráter, e também da atividade jornalística, onde convive-se no dia-a-dia com opiniões contrárias, acredito piamente no embate das idéias como fator de crescimento individual e coletivo, e lamento profundamente o silêncio dos que se sentem agredidos pela postura dos críticos da Igreja Católica. 
Há flagrante omissão, é uma fuga e um comportamento galináceo dos católicos brasileiros nesse assunto, em que comprovam o horror atávico aos temas polêmicos, o que também não deixa de ser uma autêntica hipocrisia. 
Assim não dá, meus caros amigos a favor ou do contra, eu não sou lobo e nem vocês ovelhas, mas vocês estão turvando as águas dos rios da vida. Não é possível viver em cima do muro e conviver, sistematicamente, com uma no cravo e outra na ferradura.

Jatropha curcas?

Richard Jakubaszko
O e-mail foi chegando na tela do meu computador e sua leitura revelou aos poucos o longo texto de um press release distribuído por assessoria de imprensa e relações públicas para jornais e revistas e TVs do mundo todo. 
Ao mesmo tempo me deixava intrigado e curiosíssimo. 
O texto, como todos os textos de todos os press releases, é de um otimismo avassalador. Trazia a solução definitiva para todas as problemáticas do mundo e mostrava a empresa que estava por trás de toda essa solucionática, a Bayer CropScience, da Alemanha. 
O Professor Friedrich Berschauer, Presidente do Comitê Diretivo da Bayer CropScience AG, na coletiva anual realizada em Monheim, em 6 de setembro último, revelou ao mundo a Jatropha curcas, miraculosa solução para o futuro dos biocombustíveis.  
Jatropha curcas – dizia o press release: “uma matéria prima alternativa para biodíesel. Em resposta à enorme demanda global por biocombustíveis, a Bayer CropScience está trabalhando formas de usar plantas que não tenham sido utilizadas na agricultura como matérias-primas economicamente eficientes. Uma dessas plantas é a Jatropha curcas, um arbusto oleaginoso com fruto não comestível que cresce predominantemente em regiões áridas. As sementes consistem em mais de 30% de óleo que pode ser usado para fazer um biodíesel pouco poluente que reduz as emissões de CO2. A vantagem é que este biodíesel pode ser usado em diversos motores no mundo inteiro sem a necessidade de modificação técnica extensiva. A Jatropha pode ser cultivada em áreas marginais nas regiões tropicais e subtropicais ou, em outras palavras, em áreas inadequadas para a produção de culturas para alimentos”. 
E concluía o Professor Berschauer: “esperamos que nossa pesquisa nessa área se torne uma contribuição fundamental para o desenvolvimento de uma indústria de biocombustível sustentável”. 
Fiquei ainda mais curioso, pois sei desde criancinha que, se é Bayer é bom! Mas que raios de planta é essa Jatropha curcas? Fui pesquisar, e descobri: para quem não sabe, a Jatropha curcas é o nosso já popular, mas ainda desconhecido pinhão manso, agora descoberto pelos alemães. 
Ora, a Bayer CropScience deve saber do que fala, e com certeza seu presidente mundial avaliou cuidadosamente o texto da mensagem, olhando a questão por diversos ângulos, seja no científico em geral e no agronômico em particular, além do financeiro, jurídico e mercadológico, sem esquecer do mais importante, o compromisso com os acionistas, que são os patrões da Bayer. 

A Bayer Ag não brinca em serviço, pensei comigo, é empresa centenária, já passou do faturamento de um bilhão de euros e caminha para os dois bilhões, conforme enfatizou seu chefe supremo na coletiva mencionada. Portanto, olha só a importância que eles dão para as nossas coisas, e que nós menosprezamos todos os dias. A informação transmitida no press release me levou a uma reflexão sobre a situação como um todo, e isso me proporcionou algumas conclusões, que vou dividir com os leitores: 

1 – conforme disse o Professor Berschauer, “A inovação e as novas tecnologias ajudarão a atender à crescente demanda por plantas produtoras de alimentos e de energia”. Portanto, concluí que a biotecnologia vai trazer inúmeras novidades no futuro próximo. Vai ser de assustar os ETs o que vem aí pela frente. Vai aparecer solução, na área da biotecnologia, que trará benefícios não apenas aos agricultores, ou à agroindústria, mas aos seres humanos. As vacinas são apenas uma avant premiére do que vem por aí. 

2 – a Bayer CropScience, nos revela o Professor Berschauer, iniciou um programa no ano 2000 com a finalidade de trazer para o mercado 26 novas substâncias ativas para proteção de culturas, previsto para até 2011. “Esperamos que estas substâncias tenham o potencial combinado de vendas para atingir o pico de aproximadamente 2 bilhões de euros”. 
Ou seja, é inegável que eles sabem ganhar dinheiro. Prova disso é de que com o café os alemães ganham muito mais dinheiro do que nós brasileiros, lá na Alemanha, sem plantar um único pé de café. 

Já falei disso no livro Marketing da terra (Editora UFV - 282 pg., 2005 – atenção: faça um autor feliz, adquira e leia esse livro, pelo amor ao seu negócio! ligue 11 3879.7099 ou mande e-mail para richardassociados@yahoo.com.br). 

3 – se a Bayer CropScience já reconhece o pinhão manso como uma das solucionáticas, a ponto de o presidente mundial da empresa colocar isso como fato relevante de seu discurso numa coletiva anual, o que devemos nós, os brasileiros, achar disso? 
Tenho ouvido e lido muita baboseira a respeito do futuro fracasso do biodíesel brasileiro, em paralelo sobre o etanol, de que é um ufanismo tupiniquim, e de que plantar biodíesel ou etanol vai tomar áreas de plantio de alimentos, e ainda de que no futuro só vai ter rapadura pra comer.
Sem contar o pessimismo da elite nacional, tucana ou não, de achar que “esse é o novo programa do presidente Lula para arrumar mais votos em 2010”. 

4 – até quando o brasileiro vai persistir com a mania de desvalorizar o que é nosso e só admirar e respeitar o que é dos gringos? Até quando vai vigorar a síndrome e o complexo de Macunaíma? Que herança maledeta! 

5 – olho vivo minha gente! Daqui a pouco, assim como já fizeram com a rapadura, algum gringo espertinho registra e patenteia o pinhão manso, ou melhor, a Jatropha curcas, e aí como vamos ficar? 

6 - já sei, com as curcas na mão!

O carrasco, a pipoca e a santa.

Richard Jakubaszko
Aprendi que nunca se deve misturar as coisas. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Se umbanda funcionasse o campeonato baiano terminava sempre empatado, conforme o aforismo de Nenê Prancha, futebolista juramentado. 
Inesquecível Itália 3 x Brasil 2, Copa do Mundo, Espanha, 1982, o carrasco Paolo Rossi 3 e nós 2. Uma tortura! Tínhamos o mais belo dos padrões de jogo de seleções brasileiras de todos os tempos, sob o comando de Telê Santana, que se mandou embora semanas atrás, às vésperas, portanto, e vai assistir a copa no telão de plasma do divino, 128 polegadas, som quadrifônico, sem delay. Telê vai lembrar que, no Sarriá, Zico, Falcão, Éder, Cerezzo & Cia., jogavam por música. A seleção encantava até os inimigos. Pode não ter sido a melhor seleção de todos os tempos, mas foi das melhores. 
O Brasil inteiro jogava embalado pelo ritmo daquela seleção, tão ou mais que a seleção de hoje na Alemanha. 
Lá em casa, antes do jogo, fizemos a preparação das mandingas tradicionais como em todos os jogos da seleção em mundiais. Antes do jogo pipoca na panela e cerveja no freezer. Tudo ficava pronto, em estado de concentração, à espera do grande momento. Quando a TV abria o sinal da transmissão direta acendia-se o fogão, a pipoca explodia até os piruás em comemoração prévia. 
Na audição dos hinos a farta tigela de pipoca já "segurava" a expectativa da turma. Minha mulher, as duas filhas, elas na época com 9 e 7 anos, e eu, com os rituais de sempre, na frente da telinha. São raros os brasileiros que não têm seus rituais, esses eram os nossos... tem gente que assiste os jogos sempre com o mesmo chinelo, ou a mesma camisa velha, boina, e até cueca, sem nunca lavar, porque se uma vez funcionou tem de funcionar sempre. Tenho um tio, hoje na casa dos setenta, que na copa de 58 teve o braço quebrado, e ouviu pelo rádio a copa inteira com o braço engessado. Pois até hoje, em todas as copas, ele engessa o mesmo braço, na certeza de que mais uma vez vai funcionar... bem, funcionou 5 vezes, vai funcionar pela sexta vez? 
Em 1982 a bola rolou no Sarriá, muita ansiedade na sala de casa, a pipoca se foi rápida, e Paolo Rossi fez o primeiro. Mais nervosismo. Empatamos, que alegria!!! Agora vai... 
Veio o intervalo e no reinício do segundo tempo Rossi fez 2 x 1, que sofrimento! Quase uma eternidade depois, empatamos de novo! Que festa! A seleção crescia em campo. Somos melhores, vamos ganhar! 
A primogênita ia da sala para o dormitório, sem disfarçar o pânico. Fazia orações para Santa Rita de Cássia, padroeira da família. Não dei importância para suas idas e vindas, mas percebia o movimento, até que Rossi - carrasco filho da puta!!! - fez 3 x 2, quase no fim do jogo. Que decepção! Maledeto esse Rossi! No final do jogo, estupefata, candidamente, minha filha comentou que não entendia mais nada, rezara e acendera vela para Santa Rita, e nos dois gols anteriores o pedido tinha dado certo. 
Aí caiu minha ficha! Descarreguei a raiva de uma só vez:- maluca, bandida, panaca!!!, Você rezou prá santa errada, Santa Rita de Cássia é italiana, nunca iria atender teu pedido... 
A santa meteu seu dedo em favor da azurra? Vai saber... Na dúvida nunca mais misturamos orações e futebol, só pipoca e cerveja, e seguimos adeptos de Santa Rita de Cássia.

Oração dos jornalistas

Richard Jakubaszko  
"Oração à Nossa Senhora dos Salários Baixos"  
Por Jor Analista dos Dias Santos 
Ajudai-me Nossa Senhora... porque têm vários dias para chegar ao fim do mês e o salário já extinguiu-se, e no mercado financeiro o ministro da fazenda de plantão enxuga o meio circulante, reduz o déficit fiscal e orçamentário, e torna a vida dos cidadão comum como nós uma ciranda financeira sem dinheiro à vista... 
...segundo opinião do chefe de redação "isso é culpa dos incompetentes e dos incultos dos maus colegas de profissão, que nada fazem contra o mau patrão", eles demitem gente preparada e experiente como a mim e contratam mocinha jornalista bonita com diploma novo afim de reduzir a média dos proventos de nossa missão jornalística... porque essa profissão... se a Senhora não sabe, minha santinha, é missionária... é mais importante que a missão dos padres progressistas que insistem na reforma agrária para os sem teto e esquecem de tentar salvar as almas dos pecadores e dos políticos... 
...é mais importante que a missão dos médicos que não exitam de prolongar a dor e sofrimento dos doentes para faturar e viver nababescamente com os frutos de suas regalias e prerrogativas de senhores feudais de nossas vidas. 
Dái-me força minha santinha, porque a gravidez dos fatos urge a sua ação e interferência... e dái a luz aos colegas semi-analfabetos que temos em nosso meio ambiente, um pouco poluído, é verdade, se bem que a gente tem de reconhecer que a nossa língua pátria é prá lá de malandra e çafada, porque... veja bem, minha santinha... uma língua que pode dizer "calça as botas e bota as calças" não é língua de gente séria e comprometida com o vernáculo, seria muito pior o contrário... não fosse a realidade dos fatos diante da visão distorcida dos acontecimentos... 
...esses são pesadelos que me invadem os sonhos diuturnos, e das más notícias que os jornais publicam, que atormentam a vida cotidiana do cidadão carente e contribuinte, isso com a graça de Deus, e também do bom patrão e dos anunciantes rotineiros, tipo de gente boa que ainda existe, sim, minha santinha... 
Me dê forças, minha santinha protetora, para ser isento, não no imposto de renda, porque quase nada ganho pra pagar esse tributo, mas nas minhas matérias... 
Me ilumina para ver só a verdade e a crueza dos fatos sob a luz das mistificações que nos atentam diariamente como mitos e assombrações impertinentes... 
Me ajuda a conseguir uma matéria boa, minha santa, que o pauteiro esteja distraído e me revele suas intenções, e que o chefe de redação me dê essa árdua incumbência, quem sabe eu ganho o próximo esso e assim o Natal será mais farto. 
Livrai-me, minha santa, dos press releases... Afastai-me das pegadinhas... 
Me ajuda, minha santa, a esclarecer alguns desses escândalos e corrupções que todo dia sai nas TVs e nos jornais, eles parecem notícias criadas pelo anjo caído, só com o escopo de confundir quem escreve nos jornais e blogs da Internet, que não deixam o governo governar, tem muita mentira deslavada nisso minha santinha...
...mas aproveita minha santinha protetora, e diz pra aquele torneiro mecânico que tá lá na capital, o aviso pode ser num sonho dele, diga que, se ele beber, que não governe, assusta ele minha santinha... 
As coisas hão de parar de piorar nesse Brasil, minha santinha, com a sua ajuda... 
..lembra o Deus pai que Ele é brasileiro por opção própria... e que se ele optar por não jogar no nosso time, então que fiscalize, pelo menos isso, minha santinha... 
E se a senhora me ajudar a ganhar na mega sena acumulada prometo que monto um jornal, um site e também uma rádio honesta, pra dar só notícia boa e verdadeira e de interesse e utilidade pública das pessoas, e dou emprego pagando excelente salário pra um monte de amigo que está em dificuldades... 
Amém" 
(a oração acima é fruto de recortes de textos jornalísticos publicados, uma pequena colcha de retalhos do cotidiano, de frases e comentários ouvidos nas redações, e de um pouco de imaginação deste escriba, que ninguém é de ferro)

Escolha: agricultura pode gerar riqueza ou miséria

Richard Jakubaszko  
Esta história é exemplar. Aconteceu com a soja, numa pequena cidade chamada Giruá, perto de Passo Fundo, no norte do Rio Grande do Sul. Antes da soja, Giruá era um município independente e emancipado, mas pobre. Tão pobre que a prefeitura não tinha nenhum veículo automotor. Os poucos carros que circulavam tinham placas de outras cidades. Veio a soja, a partir de 1969/1970, e com ela a cidade prosperou, vivendo um momento de riqueza esplendorosa, digna das histórias das "mil e uma noites". Isso aconteceu porque a soja, que apresentava bons preços, repentinamente teve seu preço multiplicado por cinco no mercado internacional. 
Corria o ano agrícola de 73/74, logo depois do primeiro "choque" do petróleo. As nações européias resolveram suspender importações de carne como forma de reduzir despesas com importações e poder continuar importando o petróleo que havia subido de preço a partir dos acordos da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo). A importação de carne estava proibida pela CEE (Comunidade Econômica Européia), principalmente dos países da América do Sul, porque grassava uma epidemia de aftosa por estas bandas de cá. 
Portanto, os países europeus precisavam importar, de qualquer maneira, nutrientes protéicos para alimentar e engordar seus rebanhos. Encontravam no atum do Peru uma boa fonte, alternativa e barata, para enriquecer a ração com a farinha de peixe. A grande procura, o aumento da pesca, e a depredação por parte dos pescadores ao meio ambiente ao praticarem a pesca de cardumes em época de desova, obrigaram o governo peruano a proibir a pesca de atum por um período mínimo de doze meses. 
A Europa, em pleno inverno, foi em busca de alternativas e encontrou na soja o substituto mais adequado. Os estoques reguladores dos norte-americanos mal deram para atender as primeiras necessidades dos importadores europeus. A Bolsa de Chicago, durante semanas seguidas, estourou seus índices de aumentos. E tudo em dólar. 
Em plena entressafra norte-americana, e na época da safra brasileira. Se já vivíamos o "boom" na economia brasileira, se estávamos em ritmo de crescimento e euforia de "Brasil Grande" (o Brasil do "Ame-o ou deixe-o!" do "Prá frente Brasil!") imagine o que aconteceu em Giruá! Com a riqueza inesperada, circulando afoita, o volume de automóveis em Giruá foi de 1,2 per capita. Ou seja: 5 mil habitantes e 6 mil carros. Superou o índice de Los Angeles que era de um para um, e então o mais elevado do planeta. Assim, como exacerbação e demonstração do poder de consumo, os sojicultores de Giruá fizeram a festa e comemoraram junto com seus então quase 5 mil munícipes. É claro que ninguém estava dando carros de presente no meio da rua, até porque não eram todos carros 0 km. Mas o fato comprova que consumidor em potencial vira consumidor real quando tem dinheiro sobrando. E que o lixo do rico é a sobremesa do pobre. 
O poder de consumo dos sojicultores, naquela época, e a maneira de demonstrar essa condição, não diferiram daqueles que observamos no citricultor paulista quando este ganhou dinheiro com as geadas nos laranjais norte-americanos ou nos plantadores de qualquer outra cultura que repentinamente atinge a condição de alta procura e pouca oferta. 
Entre outras coisas, essa história demonstra que o produtor rural não é um bicho de sete cabeças e de um único comportamento. Porque, antes de tudo, ele é um ser humano, e como tal não está imune às emoções e idiossincrasias do comportamento humano em relação ao consumo. De qualquer maneira o consumismo torna-se um hábito comum. Não apenas nos produtores rurais, mas em qualquer trabalhador ou investidor, ou empresário, quando tem dinheiro muito além daquilo a que está acostumado. 
No que diz respeito aos produtores rurais, é muito freqüente observarmos que seu hábito como consumidor de insumos se altera na mesma proporção que a alta ou baixa do preço final do seu produto. Na alta ele se revela grande consumidor, inclusive de produtos urbanos. Na baixa, o produtor rural adota a mesma postura gerada por uma recessão: reduz consumo. Até aí nenhuma novidade. A diferença está em que, na recessão, os seres urbanos reduzem seus gastos com o supérfluo, enquanto o produtor rural reduz não apenas supérfluos, mas investimentos, e despesas básicas à manutenção da sua atividade. Ou seja, se regularmente usa adubo, ele passa a usar doses menores; se usa herbicidas de pré-emergência, passa a usar doses menores na expectativa de usar ou não um de pós-emergência. Em sua recessão, o produtor semeia e espera para ver o que vai dar; não se arrisca a comprar antecipadamente os inseticidas e fungicidas na esperança de não precisar deles; não faz nenhum tipo de estoque além do absolutamente necessário e inevitável uso na lavoura; não compra nem tratores e nem implementos. 
O pecuarista reduz ou elimina temporariamente a ração comprada pronta; alguns deixam de aplicar vacinas, e os focos epidêmicos das doenças acabam voltando. E a roda vai girando assim, porque esse é um hábito do produtor rural como consumidor, que, na verdade, se reforça na esteira dos solavancos de nossa economia. 
Estamos hoje (2006) no avesso da história de Giruá. O consumo de quase tudo caiu de forma sensível nas principais regiões produtoras de grãos, em especial no Brasil Central. Ninguém está comprando nada. Sabe aquele sujeito que não paga ninguém? Mesmo quando tem dinheiro sobrando ele compra e não paga. Pois até esse, agora, não está comprando nada... 
O mercado consumidor é perverso, não tenhamos dúvidas. Entretanto, se alguém tem culpa da crise atual este alguém é o produtor rural, independentemente do que vier a acontecer com o câmbio. Se o agricultor hoje é parte do problema, deve entender que faz parte da solução, por isso é que precisa auto-regular o mercado, ajustar o plantio e a oferta de acordo com as necessidades do mercado consumidor, caso contrário teremos, à nossa escolha, a geração de riquezas ou miséria. 
O agricultor precisa de muita união, não para protestar, mas para reconstruir o futuro. Não dá para enfrentar o mercado de peito aberto, é suicídio! E, olha só, temos mais sorte que juízo: vem ai o biodiesel e, principalmente, vem ai o H-Bio, novas alternativas de uso dos grãos, em especial soja, que devem reduzir os atuais estoques. Mas o agricultor precisa se preparar, pois novas crises acontecerão no futuro breve, e cada vez serão piores que as antecedentes. União, minha gente!  
A crônica acima foi extraída e adaptada do livro "Marketing Rural – Como se comunicar com o homem que fala com Deus", de autoria do jornalista e publicitário Richard Jakubaszko. Este livro foi reeditado em 2006, em 2ª edição, pela Editora UFV, da Universidade Federal de Viçosa – MG.

Sufoco na colheita da safra

Richard Jakubaszko
Na época da safra, a expectativa de vender é uma agonia. Um misto de esperança e temor. O produtor rural é um especialista em plantar e criar, e alguns são craques em vender. Vender agora, esperar mais um pouco? O que fazer? 
Todos estão sujeitos às regras de mercado, e os preços oscilam conforme os humores da oferta e procura. Diversos fatores influenciam o preço final daquilo que a terra produz com tanto carinho e esforço, e sempre com altos investimentos, a começar pelo clima, nem sempre favorável. 
Uma farta colheita pode significar baixos lucros e até mesmo prejuízos pelo excesso de oferta. As culturas anuais costumam sofrer de forma mais perversa essa ciclotimia.
Em média, as anuais têm três anos bons e três ruins, enquanto as perenes possuem um ciclo maior, de sete em sete anos, e culturas rápidas como hortaliças ajustam-se em menos de duas safras. Isto se deve a ‘pára-quedistas’ que plantam a cultura de sucesso, aumentam a oferta, o preço cai na safra seguinte, e então eles mudam de atividade e o preço se normaliza. 
É claro que inflação ou câmbio descontrolados contribuem para amenizar ou piorar a situação. O mercado consumidor, por sua vez, quando possível, faz estoques para poder regular o mercado. Com isto, raramente os produtores conseguem ditar preço para o que produzem. 
Quase tudo na agricultura é commodity, ao contrário do que ocorre nas indústrias, onde se determina o preço de venda, com valor agregado, e conseguem obter um justo lucro naquilo que produzem. Uma das razões é que a indústria faz marketing, utiliza estratégias mercadológicas sintonizadas com aquilo que o mercado quer comprar para destacar diferenciais de produtos. Mas a indústria também sofre com produtos de forte característica sazonal em termos de vendas, seja sorvete ou cerveja, ar condicionado, moda de inverno e verão, turismo, quase tudo tem épocas de compra e venda, porém o marketing está sempre presente para amenizar os chamados “picos de safra ou de consumo”. 
Outra razão é que as indústrias de determinadas categorias de produtos são poucas, unidas e organizadas, funcionam como oligopólios. Dessa forma, podem traçar estratégias comuns de marketing de determinada classe de produto, cabendo a cada indústria em particular fazer o marketing de sua própria marca. Um exemplo clássico, no terreno do agronegócio, é a venda do “Café da Colômbia” (e não o do Brasil, que é tão bom quanto!), cada indústria procura ampliar o quinhão de sua marca no mercado. 
Em oposição ao exposto, os agricultores são muito numerosos, variando de milhares a centenas de milhares. Nem sempre estão suficientemente unidos e organizados em torno de um objetivo comercial, que permita fazer o marketing de um produto – ou categoria de produtos - em forma conjunta, e com isso agregar valor. 
A desunião dos produtores rurais é o maior entrave para ações de marketing. Precisa haver consenso e esforço comunitário em torno de associações e cooperativas com a convicção de que o marketing pode resolver problemas e agregar valor. É desses problemas mercadológicos que tratamos no livro Marketing da Terra (Editora UFV - Univ. Federal de Viçosa, 282 p. 2005) onde aprofundamos essas questões, particularizando os problemas e oportunidades por lavouras específicas.  

Muitas histórios de sucesso 
Existem histórias de sucessos para nos guiar sobre como fazer marketing. Há o caso dos produtores de brócolis que os fornecem de graça, diariamente, para o cardápio da Casa Branca, no almoço e jantar ele está sempre presente. O leite que patrocina Indianápolis, a mais famosa corrida de Fórmula Indy, e paga 1 milhão de dólares ao ganhador. O amendoim que o personagem Pateta consome para se tornar invencível como Superpateta, ou o espinafre do marinheiro Popeye, um caso mais antigo que o do amendoim. Tem a cenoura do espertíssimo coelho Pernalonga. 
O que há de comum nessas ações de merchandising é que elas visam o consumo imediato do consumidor, em especial da criança, e formam hábitos alimentares para o resto da vida, fidelizam o consumidor. A estratégia do marketing facilita o trabalho das mães ao alimentar seus filhos, pois elas sempre argumentam que se eles comerem brócolis serão tão inteligentes quanto o presidente dos EUA (considerado semideus pelos americanos, apesar do mundo inteiro discordar veementemente...), ou poderoso e inteligente como o Superpateta, ou forte e corajoso como o Popeye. 
No Brasil, um exemplo de marketing recente e de notável sucesso foi a rúcula, anunciada pelo programa Globo Repórter, com o apoio e depoimentos de médicos e cientistas, como hortaliça altamente eficiente para prevenir várias doenças, entre elas o câncer na próstata. Nas semanas seguintes, o preço da rúcula triplicou, o estoque esgotava-se nas barracas de feiras antes das oito da manhã. Em oito semanas a produção aumentou e o mercado estabilizou-se num novo patamar, porém com o preço da rúcula 100% superior ao praticado antes. Isso é marketing, acidental, mas é marketing. 
Em tese, todo produto da terra tem potencial para fazer marketing, seja ele commodity ou não, e com isso, provocar aumento de demanda, agregar valor e gerar lucros. 
Popeye vendeu tanto espinafre nos EUA - e em todo o mundo - que os produtores rurais erigiram uma estátua de 1,80 m em sua homenagem em Cristal City – Texas, como agradecimento pelos seus feitos, na medida em que afetou e alterou a dieta alimentar de toda a nação. Depois do exemplo dessa cidade texana, pelo menos uma dezena de novas estátuas foram inauguradas em outras cidades americanas com os discursos e homenagens de praxe. Rico em vitamina “A”, além de conter cálcio e ferro, o espinafre foi consumido por todas as crianças americanas desde que apareceu na mídia, fato incentivado entusiasticamente pelas mães, e que fidelizou gerações inteiras como consumidores vorazes, garantindo mercado de consumo ao produto, com o conseqüente valor agregado, principalmente se comparado a outras hortaliças.

Outro fantástico merchandising da história da comunicação foi o registrado pelo Superpateta, personagem do Walt Disney, que chegava à essa condição de super-herói se o apalermado e atrapalhado Pateta consumisse amendoim em grãos. Tudo parece indicar que a forma encontrada pelos criadores do Superpateta foi mais uma cópia do Popeye, assim como o coelho Pernalonga, que consumia cenouras entre uma e outra malandragem. Encantava crianças e adultos, e ajudava a vender mais cenouras. Ficava implícito aos leitores que quem consumisse cenouras ficaria mais esperto, inteligente e malandro. O fato é que a personagem fez sucesso, os americanos consomem amendoim e seus subprodutos, geléias, pastas, margarinas etc., como nenhuma população de qualquer outro país. 
Tão interessante quanto saber as histórias acima mencionadas, é que o marketing pode ser feito tanto individualmente como de forma coletiva (através das cooperativas, que podem se tornar agentes reguladores e não meros atores coadjuvantes) pelos produtores rurais brasileiros. Existem formatos e estratégias inexploradas, e inesgotáveis, na ciência do marketing moderno para possibilitar a agregação de valor a commodities. A única estratégia proibida é a omissão. 
Mas se resolver enfrentar o mercado consumidor de peito aberto lembre-se do aviso de Luiz Hafers, para quem “o mercado consumidor é mais perverso que o MST”. Há jeitos e maneiras... 
Para conhecer um pouco mais sobre como o marketing dos transgênicos vai influenciar a nossa vida nos próximos anos, e quais os transgênicos à vista, ou de como o marketing ambiental, na busca de uma produção sustentável, vai estabelecer oportunidades ou limites na produção de alimentos e biocombustíveis, ou ainda como agregar valor aos produtos da terra, seja grãos, hortifrutigranjeiros, carnes vermelhas, leia o livro Marketing da Terra, pois numa crônica como esta os limites de espaço são sufocantes. 
Procure pelo título do livro no site www.livraria.ufv.br ou direto com o autor, ou poste uma mensagem no rodapé. Marketing da Terra não é um livro técnico sobre teorias do marketing, mas uma obra que fala sobre as coisas da terra, e que agrega ensinamentos e informações vitais a quem vive do agronegócio. 
O marketing é isso tudo e um pouquinho mais. Por vezes consciente, planejado e, por vezes, até mesmo acidental. 

O texto dessa crônica é parte de um capítulo do livro Marketing da Terra, autoria de Richard Jakubaszko, e ainda dos engenheiros agrônomos Ariovaldo Luchiari Jr., Décio Luiz Gazzoni e Paulo Kitamura, Editora UFV da Universidade Federal de Viçosa – MG.

A gente nasce e vive sem Manual de Instruções

Richard Jakubaszko 
A verdade nua e crua é essa, nós humanos não temos um Manual de instruções para a vida. Vamos aos tropeços, caímos e levantamos o tempo todo. Por vezes uma queda nos estropia inteiro, física e espiritualmente, e levamos mais tempo para levantar, mas recuperamos e vamos em frente, porque o show da vida tem de continuar. 
Dias atrás resolvi reler histórias infantis do Monteiro Lobato, livros onde aprendi as primeiras letras (e números, astronomia etc.). Comecei pela maravilhosa história “Viagem ao céu”. A leitura atual, é evidente, tem outro nível de percepção comparado ao tempo em que li esse livro na infância, e também numa releitura feita já na juventude. Mas a magia do texto de Lobato nos envolve como leitores, criatividade e simplicidade são as tônicas principais, e o inigualável poder de síntese daquele excepcional contador de histórias nos leva a “surfar” pela infinitude do universo, no linguajar próprio de Emília, de longe a personagem que mais me atrai e com a qual mais me identifico entre todas as outras de Lobato, por seu inconformismo e pela autenticidade. As maiores “tiradas” do genial escritor são dedicadas a essa personagem o que me leva a acreditar que também ele tinha essa preferência, mas isso são segredos de escritores. 
Em poucas horas devorei “Viagem ao céu”, e iniciei “O saci”. 
Nessa história Pedrinho e o Saci mantêm conversa na madrugada de uma floresta escura e amedrontadora, onde povoam a mula sem cabeça, o Curupira, o Boitatá, a Iara, e outros. O Saci conta para Pedrinho que os sacis não lêem livros, pois já nascem sabendo de tudo o que precisam, da mesma forma que todos os animais e seres vivos da floresta. No meio do texto o Saci questiona: “quem é que disse que o mosquito logo ao nascer deve se alimentar do sangue das pessoas, preferencialmente dos que estão dormindo, e depois deve ir colocar seus ovos para que nasçam mais mosquitos?” O Saci mesmo conclui: “ninguém. O mosquito já nasce sabendo tudo o que tem de fazer, sem precisar ler livros, ao contrário de vocês humanos, que precisam ler muitos livros para aprender algumas poucas coisas”. Talvez daí tenha sido criado o aforismo de Lobato, de que “um país se faz com homens e livros”. 
Mas o Brasil, desde muito tempo, se mostra um país oral, na cultura e na transmissão das experiências. O fato concreto, e ao mesmo tempo mais curioso de toda a introdução dessa crônica, é a moral que se conclui: aprendemos mais do zero aos sete do que dos sete aos setenta. Já durante a juventude esquece-se das duas coisas mais importantes aprendidas na infância, a percepção e a sensibilidade. Cada um põe lá no seu Manual próprio o que acha importante. Isto no plano individual. 
No coletivo os humanos sequer aprendem com os erros da história, ou com os erros de outros humanos, e por conta disso repetem-se os mesmos erros. Os adultos preocupam-se pelas leis de seus manuais, mais com o que os outros pensam e fazem ou deixam de fazer. 
Particularmente, cá do meu Manual, acho que o mundo seria bem melhor se todos dedicassem um tempo para aprender sobre o conteúdo ideal que um Manual de instruções dos humanos deveria ter, e a cuidar do próprio rabo, o mundo seria bem melhor. A vida em si é muito complicada, diferente em cada um, e essa individualidade e diversidade humana já bilionária do planeta hoje talvez seja a explicação para as razões do Criador não nos fornecer o tal Manual de instruções. 
Ficamos na dúvida sobre a existência ou não do determinismo e do livre arbítrio, ou as duas coisas. Dou créditos a Drummond: "Se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida".  
Você tem um Manual? 
O que você escreveria no seu Manual de instruções se tivesse de escrever um? Reavaliei meu Manual de instruções, retirei dele praticamente todas as questões particulares, e estou colocando exclusivamente um objetivo, que é de caráter coletivo: o planeta precisa reduzir o crescimento demográfico, urgente, quase a zero. Sob pena de as crianças que nascem na presente década, ao chegarem aos cinqüenta anos, terem de comer umas às outras para poder sobreviver. 
Não, isto não é uma crônica de humor negro, trata-se apenas de uma projeção previsível e real diante da capacidade que o planeta tem de nos alimentar e de nos prover de comida, água, moradia, vestuário e locomoção. O mundo é consumista, em especial habitantes do primeiro mundo, e o planeta já mostra os sinais de esgotamento e finitude, seja no petróleo, em diversos minerais essenciais – carvão em especial – e na flora. 
Não é o caso de ficar lembrando o aquecimento, a camada de ozônio, a poluição dos rios e do mar, a extinção de várias espécies animais e vegetais etc., e etc. Já começamos a comer e explorar o colosso amazônico pelas bordas. Somos hoje 6 bilhões e daqui a 35 anos seremos 9 bilhões – consumidores vorazes de todos os recursos disponíveis. Extrapolamos a sugestão divina do “Crescei e multiplicai-vos”. É que mais de 2/3 dos habitantes do planeta não são cristãos, não ouviram e não leram a respeito.
Fala-se pela imprensa, todos os dias, que o Brasil precisa voltar a crescer 5%, ou mais, para gerar mais empregos, um dos dogmas do economês. 

A cantilena é de notório caráter político, e raros sabem explicar as razões dessa necessidade. A conta é simples de se fazer: se o crescimento demográfico se dá em 3% ao ano, por hipótese, e se a economia cresce 2,5% ao ano, isto significa dizer que 0,5% da população vai perder o emprego hoje, por conta da crise, e outros 0,5% que estão nascendo hoje não encontrarão trabalho daqui a 15 ou 18 anos. 
Ou seja, para garantir o emprego de hoje e o do futuro, a economia precisa crescer, sempre, em ritmo percentual maior do que o do índice demográfico. Foi a partir de cálculos desse tipo que Thomas Malthus estabeleceu a teoria da fome e miséria, prevista por ele para acontecer na passagem dos Séculos XIX e XX. Errou com viés de mais de um século e meio, porque a engenharia agronômica evoluiu e multiplicou muitas vezes a capacidade de plantio e colheita do planeta. 
Vejamos que somente o Brasil tem área agricultável a expandir, e está no limite fronteiriço da histeria dos ecologistas – profissionais e amadores – e das bordas da Amazônia. O Brasil possui uma das legislações ambientais mais avançadas do mundo, com órgãos fiscalizadores altamente capacitados. O consumidor de além mar já impõe regras para importar alimentos produzidos de forma politicamente correta. 
A hipocrisia do politicamente correto cairá por terra, imediatamente, tão logo comece a faltar alimento. O consumismo tornar-se-á pragmático, e só vai comer quem tiver mais dinheiro. Não será como hoje em dia, que só consome alimento quem tem dinheiro, mesmo que pouco. 
Entra em campo neste momento a piada, esta sim de humor negro, de que certo país latino-americano despachou um navio cheio de medicamentos para um pequeno país da África, em guerra, doente e faminto. O navio retornou com os mesmos remédios semanas depois, com o aviso de que seria impossível tomar os remédios, pois nas bulas estava escrito “Tomar após as refeições”. 
Portanto, ecologista amigo, cidadão consciente, político responsável, jornalista ambientalista, papagaio ou não, e que me lê nesse momento, analise a possibilidade de incluir no seu Manual de instruções, e nas políticas públicas, alguma coisa sobre “devemos reduzir, ou zerar, urgentemente, o índice demográfico”. 
Olha aí a China A China está fazendo a lição de casa, será ultrapassada em população pela Índia daqui uns 10 anos, coisa impensável há 20 anos atrás, mas a gente também deve cuidar do nosso próprio rabo, e começar reduzindo em casa, na vizinhança, no prédio e no condomínio, não vai adiantar nada, dentro em breve, brigar por um planeta sustentável. 
Previsível, para breve, o aparecimento de ONGs com campanhas para “prevenir a extinção do homo sapiens”. Talvez seja tarde, o ser humano já terá provado sua insustentável leveza de ser, de estar, de comer, de viver, de beber, de consumir... 
Se a personagem Emília estivesse presente nessa discussão, é muito provável que dissesse algo como “Lotação esgotada no planeta”.

Me engana que eu gosto... mas a gente precisa discutir a relação...

Richard Jakubaszko
Sempre comentei com alguns amigos que um dia ainda vou comprar uma espingarda de cano duplo para exterminar duplas caipiras com um tiro só. 
Ando desejando o lançamento de espingardas de cano triplo, para incluir entre os alvos alguns ecologistas. Pode não ser politicamente correto, mas convenhamos, não é possível calma e bom senso com a hipocrisia reinante, em especial dos ecologistas. 

A título de “defender o mundo”, já que anunciaram o fim do mundo em 2 de fevereiro último, os grupos ambientalistas estão “botando pra quebrar”. A grande mídia nacional é verde, ecologista, ambientalista, e tem alguns ecologeiros no meio dela. Tornou-se modismo repetitivo e monocórdio falar em preservação do meio ambiente, e com isso as palavras mais reproduzidas na mídia nacional hoje em dia são “sustentabilidade” e “responsabilidade social”, ao lado de “aquecimento do planeta”. 
Desde que se anunciou o aquecimento do planeta, não se fala de outra coisa. Como em quase todos os temas abordados pela grande mídia fala-se muito nas conseqüências e nada ou quase nada sobre as causas. Na questão do aquecimento a mídia bateu mais perto, pois os cientistas disseram que o grande culpado dessa história é o ser humano. Mas ficou por aí.  

Soluções na grande mídia  
Então tá bom, somos todos culpados. Mas, e daí? O que é que nós vamos fazer para resolver o problema? Nada, absolutamente nenhuma proposta, nenhum debate. 
Nesse meio tempo algum ecologista e publicitário sacou a história de cada um medir as suas despesas e gastos em CO2 (Carbono), independentemente de o sujeito usar carro próprio ou andar de ônibus, desde que consuma qualquer coisa, basta ser um fumante ou usar luz elétrica, esse ser é um poluidor, e pode pagar sua dívida ambiental plantando árvores. Muitas empresas abraçaram a idéia e tem ONG, ecologista e publicitário faturando milhões, vendendo plantio de árvore a granel no futuro breve, e daqui a pouco esse negócio entra na BM&F como commodity, posto que virou uma epidemia incontrolável, o que é mais do que modismo, e periga obter mais sucesso nas bolsas do que a compra e venda do crédito de carbono. 
Ao pagar para plantar uma árvore o urbano não suja as mãos de terra, e “compra sua entrada no céu”, paga penitência pelos seus gastos, aplaca a própria consciência, assim como algumas empresas (que são verdes só na publicidade...) estão fazendo. E chove press release nas redações informando notícias sobre empresas com “responsabilidade social”, que têm preocupação com a sustentabilidade do planeta. 
Mas a causa do problema nenhum jornal debate, ninguém fala. A mídia parece adormecida para os grandes problemas da sociedade. Assim, é pertinente que o Observatório de Imprensa faça uma enquete sobre se a mídia provoca um debate na sociedade sobre os nossos grandes problemas. Mais de 85% dos votos registrados indicam que não.  

As causas 
Está ruim a situação? A poluição? O aquecimento do planeta preocupa as pessoas? Pois vai piorar.
Há 6 bilhões de pessoas no planeta, mas imagine quando formos 9 bilhões de habitantes, previsto para dentro de no máximo 40 anos. Serão 50% a mais de pessoas no planeta para comer, gastar combustível, energia elétrica, consumindo tudo aquilo que o planeta já demonstra que não tem capacidade de nos abastecer. O planeta se esgota, e informa que não terá capacidade de prover todas as necessidades humanas. O petróleo tem data marcada para acabar: no máximo em 50 anos, considerando o crescimento atual da população.  

Sinais do fim do mundo Cafezais (plantas perenes) de São Paulo e Minas Gerais apresentaram floradas extemporâneas no último fim de ano, algo nunca observado. Indica que a próxima safra será menos produtiva. Outras perenes, frutíferas em especial, demonstram o mesmo comportamento em várias regiões do país. Sabe-se que as plantas possuem alguns “indicadores”, mais sensíveis que os nossos indicadores humanos, e com o aquecimento elas florescem, pois as flores indicam frutos antecipados, e nos frutos está a garantia da sobrevivência da espécie. Nas plantas perenes esse é um efeito, segundo os cientistas, do pequeno aquecimento que já tivemos. Sabe-se pouco sobre o que acontecerá com as plantas anuais. Algumas não produzirão nada, o certo é que a ciência agronômica deverá trabalhar muito para desenvolver variedades novas das culturas anuais, e que suportem as futuras temperaturas, e isso é possível. Custa caro e leva tempo, mas é viável. Nas perenes não, leva de 5 a 7 vezes mais tempo. 
Dentre as culturas anuais estão 98% dos nossos alimentos de origem vegetal: arroz, feijão, soja, milho etc. As perenes terão de mudar para climas menos quentes. 
Precisa falar ainda em aquecimento? Em aumento do nível dos mares? Em ausência de água potável e de comida no futuro breve? Acredito que não seja necessário. Acho que as soluções não são via campanhas publicitárias e, muito menos ainda, por “ações ecológicas”. Plantar milhões de árvores por ano pode apenas amenizar esses problemas da poluição e do aquecimento. Na verdade o planeta deve encontrar, em caráter de urgência, fórmulas para reduzir o crescimento demográfico, esse sim o único caminho para minimizar o sofrimento das gerações futuras. 
Não é possível que jovens de classe média em São Paulo, e Brasil adentro, tenham nos planos de sua vida, para dentro em breve, ter um segundo ou terceiro filho, sob o argumento de que “eles vão precisar de companhia e de família no futuro”. Em paralelo, parafraseando o compositor Chico Buarque, “quem pode tem 1 ou 2 filhos, quem não pode tem de 4 a 6 filhos, ou mais”. 
 
Ignoram-se as causas e as manchetes
O mundo inteiro preocupa-se com a mudança climática, segundo uma pesquisa internacional, mas não tem pressa. Não há maiorias claras sobre a necessidade de se tomar medidas imediatas e caras. A pesquisa, coordenada pelo Conselho de Chicago sobre Assuntos Mundiais, contou com a participação de vários institutos de pesquisa de 17 países selecionados, que concentram 55% da população mundial. 
Pois 92% dos entrevistados na Austrália se mostram a favor de medidas imediatas para combater o aquecimento, a maior proporção entre todas as nações analisadas. A seguir vêm China, cuja política ambiental costuma ser questionada, e Israel, ambos com 83% dos entrevistados a favor de se tomar medidas imediatas. No outro extremo está a Índia, com apenas 49% dos entrevistados a favor de medidas imediatas e 24% contra. 
Apesar dos resultados um em cada quatro entrevistados acha que “enquanto não estivermos seguros de que o aquecimento global é um verdadeiro problema, não devemos tomar medidas que teriam custo econômico”. Isso indica que boa parte dos pesquisados ainda não crê neste fenômeno climático como fato cientificamente comprovado, manifestada pela maioria dos especialistas. As nações com maior proporção de gente contra a adoção de medidas são Índia, com 24%, Rússia com 22% e Armênia com 19%. 
Os países com menor percentual de opiniões contra ações são Argentina com 3% e Tailândia com 7%. No Brasil nem houve entrevistas.  

E a mídia e os ecologistas?
Aparentemente agem em dupla. Os ecologistas descobriram que a melhor maneira de travar qualquer ação que julguem prejudicial ao meio ambiente é através da justiça brasileira, lenta e burocrática. Inúmeros fatos são registrados diariamente na grande mídia, a começar pela maratona destrambelhada da CTNBio em relação aos transgênicos. Tudo com o aval do Ministério Público Federal, cujos promotores chegam até mesmo a tomar a iniciativa de tumultuar as reuniões dos cientistas, ou seja, comparecem às reuniões para gerar um fato, testemunham e opinam em favor desse fato que eles mesmos criaram, em companhia de alguns ecologistas, para que uma reunião seja cancelada. E geram liminares, extrapolam suas funções. Desejam mudar as regras do jogo, pois não basta a votação que uma maioria simples determine que sim ou que não. Na opinião dos ambientalistas deve ser como antes, de 2/3 dos votos. 
Dessa forma, adiam o uso legal dos OGMs e provocam o atraso de nossa agricultura, que perde competitividade. Os OGMs, ou transgênicos, viraram sinônimos de algo ruim para as pessoas comuns, que nem sabem o que significam, mas são contra. As ações dos ecologistas são sistêmicas. Cada grupo ataca num segmento. Para abrir uma estrada, ou fazer hidrelétrica, precisa de estudo de impacto ambiental. 
Mas o povo que mora em periferias cada vez mais distantes exige luz elétrica, asfalto, saneamento, ônibus, escola, hospital. 
Ano passado invadiram a fazenda experimental da Syngenta no Paraná. Depois de desocupada por ordem judicial o governador mandou desapropriar, e a disputa na justiça tem a velocidade das carroças. Agora deram um jeitinho de fechar o porto da Cargill, no Pará, com apoio formal do IBAMA, sob a desculpa de que sua existência “incentiva” o plantio de soja na Amazônia. Não terá sido o contrário? Não, qualquer desculpa serve. 
Não bastassem as trapalhadas que os ecologistas provocam no uso da água para irrigação, pois obter a outorga é caríssimo e demorado, e exige estudos de impacto ambiental, existe ainda a confusão que se faz entre Amazônia real e Amazônia legal. Culpa dos legisladores, e que facilita a ação dos ecologistas e até mesmo dos consumidores europeus de nos acusarem de criar bois e de plantar soja, e em breve a cana, e com isso destruir a Amazônia. A grande mídia deveria informar que Cuiabá, por exemplo, está na Amazônia legal, mas não faz parte da Amazônia. Ou vão deixar essa comunicação para a flatulência dos ruminantes, que vem sendo apontada de forma irresponsável como uma das causas mais importantes da destruição da camada de ozônio? Para mostrar coerência de atitudes os ecologistas deveriam se converter em vegetarianos, e os problemas seriam minimizados. 
A grande mídia, em nome da defesa do meio ambiente, que é uma atitude nobre, pratica o “me engana que eu gosto”. É politicamente correta. Não estaria na hora de discutir essa relação entre produtores de alimentos e ecologistas? 
Compatibilizar é um verbo difícil de conjugar, é mais fácil conjugar os verbos acusar, proibir, prender, dificultar, atrapalhar. Se já temos o perigo da fome rondando o mundo, com a ação desenfreada dos ecologistas não precisa ter bola de cristal para prever que a situação vai deteriorar rapidamente. Com a hipocrisia reinante vai azedar. 
É possível o equilíbrio, desde que os índices demográficos sejam reduzidos, e desde que haja um amplo debate da relação desenvolvimento e sustentabilidade. Se não se discutir a relação não há solução. Ou que se desenvolva urgentemente a espingarda de cano triplo.